“Considero que as audiências públicas não foram audiências de verdade. Foram apresentações sem espaço para debate. Isso desestimula a participação. O retorno das poucas questões que conseguimos colocar, ou não existiu ou foi uma resposta burocrática sem que o problema real fosse resolvido.”
O relato acima faz parte da iniciativa Ouvindo os Conselheiros, criada por duas conselheiras participativas de São Paulo com o objetivo de deixar evidente o que se passa com os conselheiros voluntários das mais diversas áreas da cidade, ao longo dos últimos meses.
Carolina Borges é conselheira participativa municipal na Subprefeitura da Vila Mariana, na zona sul da capital paulista, além de conselheira de alimentação escolar. Ao lado dela, Mayara Torres é conselheira participativa municipal na Subprefeitura de Cidade Ademar, também na zona sul, e conselheira estadual da juventude.
Juntas, elas iniciaram o projeto no final do ano passado. “Só conhecendo os problemas, podemos pensar em como melhorar”, diz Carolina.
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Os relatos são anônimos (a menos que o conselheiro deseje que o nome seja mencionado) e abordam aspectos positivos e negativos da participação social nas subprefeituras e secretarias municipais, além de sugestões de melhorias.
Em relação às respostas, Carolina também conta que recebeu muitas mensagens com reclamações em comum. “Percebi que é quase que unanime que ser conselheiro é muito difícil, pois faltam apoio e participação do poder público”.
“Recebemos muitos relatos de que o poder público não participa e não coopera com a participação dos conselheiros. O que causa um desânimo muito grande, pois o trabalho dos conselheiros é voluntário. Dedicamos nosso tempo para melhoria do bairro e da cidade, e parece que não tem retorno”
Carolina Borges, conselheira participativa da Vila Mariana e conselheira de alimentação escolar
ADAPTAÇÕES
Com a pandemia da Covid-19, o trabalho dos conselheiros da cidade de São Paulo passou por adaptações. Uma delas foi a migração das reuniões mensais de cada conselho (que, antes, eram presenciais) para uma plataforma online disponibilizada pela Prefeitura.
A mudança, no entanto, inviabilizou a participação de conselheiros com maior dificuldade em acessar a internet ou dispositivos digitais. O mesmo ocorreu em relação à baixa divulgação das reuniões virtuais, segundo relatos.
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Sobre isso, Carolina Borges afirma que muitos munícipes estão deixando de participar das reuniões virtuais por não terem como fazer o acesso. “As reuniões presenciais também não garantem que as pessoas consigam ir, pois tem a questão do gasto com o transporte. E ainda tem toda a questão do isolamento e distanciamento social”, conta.
Por outro lado, ela avalia que os encontros online facilitam a participação de quem só pode se conectar de casa. “É o caso de algumas mães que conseguem participar enquanto alimentam as crianças”.
A conselheira também comenta que, na Vila Mariana, os membros do conselho conseguiram trocar a ferramenta online disponibilizada pela Prefeitura para outra da qual eles tinham mais afinidade e conseguiam ajudar quem não conseguia acessá-la.
“Aumentar a participação da sociedade nas reuniões dos conselhos é algo muito importante e deveria ser uma política pública e um real comprometimento do governo”, diz.
“Penso que se as bibliotecas, telecentros e CEUs tivessem um espaço para que as pessoas pudessem entrar nas reuniões virtuais e houvesse uma maior divulgação, talvez mais pessoas conseguiriam participar”, finaliza.
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