Os dez deputados federais mais votados nas periferias de São Paulo em 2018 foram a favor do auxílio emergencial de 2020, mas cinco foram contra impedir as reintegrações de posse durante a pandemia de Covid-19. É o que indica levantamento da Agência Mural sobre a atuação dos parlamentares que tiveram grande votação em bairros periféricos da cidade.
Para entender o que alguns deputados fizeram nos últimos quatro anos e projetar as eleições deste ano, a reportagem levantou os dez deputados federais mais votados nas 33 zonas eleitorais das periferias da capital paulista na base de dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A maioria dos votos foi para candidatos que não têm relação com nenhum bairro periférico de São Paulo, como Eduardo Bolsonaro (PL), Celso Russomanno (Republicanos), Tiririca (PL), Joice Hasselmann (PSDB) e Kim Kataguiri (União).
Há também nomes ligados a grupos políticos que têm famílias que há anos estão em postos de comando na capital, como Alexandre Leite (União) e Nilto Tatto (PT).
Deputados federais são eleitos para representar a população de todo o estado. Contudo, os projetos de lei votados na Câmara dos Deputados têm potencial de atingir a vida nos bairros mais dependentes de políticas públicas.
“O deputado contribui com a vida cotidiana das periferias à medida que ele conhece os perrengues que a população está vivendo”, diz o mestre em ciências sociais Renato Almeida, pesquisador do CEP (Centro de Estudos Periféricos) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Durante este mandato os parlamentares votaram alguns projetos com reflexo direto no dia a dia das periferias. A pedido da Agência Mural, o pesquisador listou alguns deles:
Projetos que causam impacto nas periferias
Auxílio Emergencial – repasse de dinheiro para famílias necessitadas na pandemia
Lei Aldir Blanc (auxílio a artistas que ficaram sem recursos durante a pandemia)
Obrigatoriedade na distribuição de itens de segurança sanitária para os entregadores de aplicativo
Proibição de reintegração de posses em centros urbanos durante a pandemia
A redução de impostos no preço dos combustíveis
A substituição do Bolsa Família pelo Auxílio Brasil
A autorização aos bancos para tomar imóveis de clientes inadimplentes
Alguns temas foram consenso entre os parlamentares. O auxílio emergencial, a lei Aldir Blanc e a distribuição de kits de higiene aos entregadores de aplicativos tiveram voto favorável dos dez. Também houve votação favorável na redução de impostos sobre os combustíveis e a substituição do Bolsa Família pelo Auxílio Brasil - em geral, eles seguiram as bancadas de seus partidos.
No entanto, a postura foi diferente sobre os projetos que buscavam impedir as desapropriações de famílias de baixa renda. Nele cinco deputados foram contrários a suspender os despejos durante a fase mais grave da pandemia: Eduardo Bolsonaro, Celso Russomanno, Joice Hasselmann, Kim Kataguiri e Marcos Pereira. Votaram favoravelmente Tiririca, Rui Falcão, Nilto Tatto, Alexandre Leite e Carlos Zarattini.
A votação desse projeto foi uma das medidas para conter os impactos da crise econômica, tendo em vista o aumento de pessoas vivendo em favelas e famílias sem condições de pagar o aluguel.
Os deputados também discordaram no Projeto de Lei que permitiria o confisco de imóveis por conta de dívida. Nesse caso, quatro parlamentares não estiveram na votação, três votaram contra e três a favor.
Nas últimas eleições, os eleitores das periferias de São Paulo representam quase 60% dos aptos a votar na cidade. Em 2018, representavam 5,2 milhões de eleitores distribuídos em 33 zonas eleitorais em 2018. Ao todo, são 70 deputados federais eleitos por São Paulo para representar os moradores do estado na Câmara dos Deputados.
Dos dez deputados mais votados nas periferias na última eleição, todos foram eleitos. Deste grupo há nove homens e uma mulher. Dos parlamentares seis são brancos, três são negros e um é amarelo.
Além disso, entre os partidos, o PT conta com três representantes, o Republicanos, União Brasil e PL contam com dois cada um e o PSDB com uma deputada.
Deputados falam sobre atuação
Procurados pela reportagem, apenas quatro dos dez deputados federais mais votados nas periferias da capital paulista responderam sobre as atuações em prol das periferias e o que esperam de um eventual novo mandato.
Alexandre Leite (União), Carlos Zarattini (PT), Marcos Pereira (Republicanos) e Nilto Tatto (PT) citaram a participação nos projetos de transferência de renda durante a pandemia, como o auxílio emergencial, Auxílio Brasil e auxílio gás, como principal atributo do trabalho para as periferias.
Filho do vereador Milton Leite (União), Alexandre Leite (União) citou destinar recursos para ampliação de serviços nos Hospitais da Guarapiranga, M'Boi Mirim, Campo Limpo e Grajaú. Também citou a entrega de asfalto em vias da cidade.
“Os problemas ainda são muitos, mas temos a convicção de que avançamos e esse trabalho precisa continuar”, diz. “Seria magnífico mais Alexandres lutando e trabalhando por melhorias na nossa periferia”, afirmou.
Carlos Zarattini (PT), além dos auxílios como o Vale Gás, Zarattini citou a compra de vacinas para Covid-19 e que destinou recursos para áreas de saúde e educação.
“O meu mandato tem como marca registrada a luta por baratear o custo de vida da população”, diz o deputado. Ele cita que tem como pauta o Bilhete Único Metropolitano, prorrogação da Lei de Cotas por 50 anos e a criação da Bolsa Permanência para que jovens pobres consigam estudar.
O deputado Marcos Pereira (Republicanos) afirma ter destinado “R$ 25 milhões para obras e melhorias, sobretudo nas periferias da capital.”
“Enquanto alguns parlamentares "ativistas" dizem defender os mais necessitados, eu vou lá e faço”, alegou o parlamentar que é ligado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao Republicanos que faz parte da base de Jair Bolsonaro (PL).
Pereira diz também que atua por moradia na cidade, desde antes de ser deputado e que atua junto a secretaria municipal de habitação, onde indicou o atual secretário municipal, João Farias.
No caso de Nilto Tatto (PT), além do auxílio emergencial, citou ser um dos autores do Vale Gás e da Lei Aldir Blanc, além de destinar R$ 15 milhões em emendas para a cidade de São Paulo.
“Sou parlamentar de oposição ao atual presidente e considero que minha luta contra projetos como a reforma da previdência, que penalizam aposentados e trabalhadores na ativa, são batalhas em prol da população pobre”, aponta.
Diz que em um novo mandato pretende atuar por investimentos para jovens das periferias e por uma Política Nacional para a População em Situação de Rua.