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‘Desisti do Enem porque tive de começar a trabalhar’, relata estudante sobre prova na pandemia

Por: Jessica Silva e Lucas Veloso

Até maio do ano passado, a estudante Damares Alves dos Santos, 19, estava focada em conseguir uma vaga em artes visuais na universidade, por meio do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Com a pandemia de Covid-19, teve de desistir dos planos.

Na família dela, todos ficaram desempregados nos últimos meses e ela teve de ajudar a complementar a renda da casa. “Acabei desistindo porque comecei a trabalhar e fiquei sem tempo para o Enem. Meu tempo ficou menor. Estou focando em outras coisas, como cursos no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial)”, comenta ela que trabalha como operadora de telemarketing. 

Moradora do bairro Monte Belo, em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, ela vendia roupa de brechó antes da pandemia e assim conseguia conciliar a rotina com os estudos. “Atualmente só eu estou trabalhando registrada [em casa]. Tanto que no dia da prova vou estar trabalhando.”

Em maio do ano passado, a estudante já mostrava preocupação com o exame. O argumento dela era que a desigualdade no ensino prejudicava os estudos dos alunos mais pobres, o que se agravou com a pandemia e as aulas virtuais. “Não é todo mundo que tem acesso à educação, sabe? Isso frustra muito”, disse na época.

Damares mudou os planos depois do começo da pandemia @Arquivo Pessoal

A história de Damares exemplifica a dificuldade de estudantes nas periferias de São Paulo para prestar a prova que leva ao ensino superior. O exame será aplicado em 17 e 24 de janeiro (versão impressa) e 31 de janeiro e 7 de fevereiro (versão digital).

Entre os entrevistados nesta reportagem, a maioria citou que a falta de rotina de estudos e dificuldades financeiras atrapalharam a preparação para o exame. Outros que foram ouvidos durante a apuração chegaram a desistir.

No bairro Rodeio, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, Maria Cecilia Mesquita, 17, afirma que os últimos meses de estudos foram conturbados. “Estar longe da escola e de todo o meio escolar que eu estava acostumada foi bem difícil, em casa há muitas distrações e é complicado se concentrar 100%”. 

Ela diz que as maiores dificuldades foram as áreas de exatas e de conseguir se concentrar nas aulas, além da ansiedade em não saber o que vai acontecer após o exame. Maria, que pretende cursar jornalismo, diz que a expectativa está alta. “Sou apaixonada por escrever e lendo sobre o curso e pesquisando me encontrei nele”. 

Os últimos meses também foram mais difíceis para a estudante Isadora Gonçalves Costa Tardelli Silva, 17. Moradora do Alto do Ipiranga, também em Mogi das Cruzes, ela diz que teve problemas para se concentrar nos estudos e teve muito desgaste ao longo do ano, o que diminuiu o rendimento.

“Esses últimos dias estão sendo mais tensos por não saber se minha preparação foi suficiente para conseguir uma boa nota”, acrescenta. Na reta final, diz que tem buscado se manter “calma e relaxada” até a avaliação 

Segundo Isadora, a maior dificuldade foi, com certeza, o ensino a distância, algo que não estava acostumada. “Foi bem difícil estudar sem o auxílio direto dos professores e sem a dinâmica da sala de aula”, aponta. “Era muito comum eu me distrair no meu quarto e parar de prestar atenção na aula ou acabar procrastinando durante a tarde”. 

Medidas de segurança para quem fizer a prova @Magno Borges/Agência Mural

O Enem teve data definida depois de polêmicas sobre a realização. Organizações estudantis e redes de cursinhos populares promoveram nas redes sociais uma campanha pelo adiamento da prova que estava prevista inicialmente para novembro de 2020. 

“Num Brasil em que escolas particulares mantêm seus programas de ensino via internet e escolas públicas ficam paralisadas, manter o calendário do Enem é retroceder na luta por um ensino superior plural e democrático”, dizia um dos manifestos.

Após uma enquete, o Ministério da Educação marcou o exame para janeiro. Uma enquete com os inscritos chegou a ser feita, quando a maioria optou por maio. Mas a decisão não foi acatada.

CUIDADOS NA PROVA

Por conta da pandemia, a organização da prova estabeleceu regras para reduzir aglomerações nos locais de exame, durante a aplicação. Os portões serão abertos às 11h30, 30 minutos antes do previsto nos editais.

De acordo com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), que organiza o exame, os inscritos terão de usar máscaras, e fazer a higienização das mãos com álcool em gel antes de entrar na sala de provas. Também diz que haverá distanciamento entre os participantes e aplicadores da prova. 

Mais detalhes sobre os cuidados e medidas de proteção contra a Covid-19 podem ser lidos no site da organização da prova.

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