Amar em tempos de pandemia do coronavírus é se adaptar a um novo cotidiano. É o que indicam cinco casais das periferias de São Paulo que irão passar esta sexta-feira (12) de diferentes formas por conta da pandemia.
Eles contam para a Agência Mural como a mudança repentina, imposta pelos cuidados contra o novo coronavírus, vem acompanhada de uma série de ressignificados e perguntas: como lidar com o isolamento? O que fazer para o relacionamento sobreviver à pandemia? Como surpreender no dia dos namorados à distância?
Nestas cinco histórias, há quem decidiu morar junto, quem segue longe para proteger os familiares, aqueles que trabalham com saúde na linha de frente, uma pessoa isolada por conta da Covid-19 e alguém fora do país que não pode voltar para reencontrar a namorada.
Acima de tudo, os casais apontam as incertezas da pandemia e a principal dúvida. Quando poderão matar a saudade, sem medos.
DISTANTES PELAS FAMÍLIAS
Morando com a avó de 86 anos, e a mãe com diabetes, ambas no grupo de risco da Covid-19, Bárbara Sales, 21, do Parque Miguel Mirizola, em Cotia, na Grande São Paulo, viu o namorado Ronaldo Tadeu, 24, apenas uma vez durante a quarentena.
Mesmo há menos de 3 km de distância, no Jardim Leonor, ele também mora com a mãe de 62 anos. Ambos decidiram que seria melhor manter a distância pelo bem da família.
Com quase três meses de isolamento, o casal que antes passava todos os fins de semana juntos, se encontrou apenas quando completou dois anos de namoro para entrega de presentes.
“A gente planejava uma viagem para comemorar. E isso teve que ser trocado por uma visita muito rápida, com pouco contato, com máscara, sem beijos. Só entreguei uns chocolates e voltei para minha casa”, diz o Ronaldo.
“Foi bem frustrante porque a gente passou um bom tempo planejando isso, imaginando como seria a viagem.”
Para este Dia dos Namorados não vai ser diferente. Eles já combinaram de se encontrar no portão para trocarem os presentes. “Estou feliz e triste, ainda mais porque meu aniversário é no dia 15.”, ressalta Bárbara.
DISTANTES POR CAUSA DA COVID-19
Quem também está perto e longe ao mesmo tempo são a analista financeira Yasmin Takahara, 27, e o fisioterapeuta Vinícius Santos Faro, 24, moradores de Santana, na zona norte de São Paulo.
Ambos moram próximos, mas estão há três meses sem se ver. “Meu namorado trabalha na área hospitalar é exposto a pacientes com Covid-19”, conta Yasmin. “Moro com a minha mãe e mesmo ela não sendo do grupo de risco quero protegê-la”.
Ao longo desses um ano e nove meses de relação, o casal nunca passou tanto tempo sem se ver. “O máximo que ficamos longe foram cinco dias, por conta da correria do trabalho, mas, aos fins de semana, estávamos juntos”, diz Yasmin.
Apesar disso, eles dizem que o afastamento agora tem sido mais difícil, porque não se sabe quanto tempo a pandemia irá durar. “Quando decidimos ficar longe, não imaginávamos que seria tanto tempo assim, dói muito ter essa distância e ver outras pessoas furando a quarentena”, ressalta.
Sobre a saudade, o jeito tem sido manter o contato por meio de mensagens, ligações e videochamadas. “Tem dias que o coração aperta de saudade, seria o nosso segundo dia dos namorados, tínhamos planos de estarmos juntos, mas foi adiado”, finaliza Yasmin.
Em 2019, o casal comemorou o primeiro dia dos namorados em um jantar. Mas, agora será diferente, com os restaurantes fechados e Vinicius terá um plantão à noite.
A ideia é fazer a entrega de presentes, pela fresta do portão, com máscaras no rosto e nenhum contato físico.
COMUNICAÇÃO COMPLICADA
A 15 km de distância, outro casal vive situação semelhante. Willian Fagundes, 24, mora na Vila Prudente, e namora a biomédica Gabriella Tenfen Leal. Por conta da pandemia, adotaram o distanciamento por dois meses e meio. Se viram apenas uma vez nesse tempo, mas voltaram a manter o distanciamento depois.
“Foi muito estranho, precisei me apresentar novamente para a minha namorada”, conta Willian. Ele diz que, não há aparato tecnológico que substitua a presença. “As nossas conversas estavam truncadas, não nos falávamos direito por mensagens, pois não é a mesma conexão que presencial”.
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Ao longo da relação, que já dura sete anos, o casal passou por uma fase em que estiveram distantes — Willian fez um intercâmbio no Canadá por um mês. Ele conta que já era algo programado, diferente da pandemia, que não tem previsão de quando irá acabar.
A decisão de distanciamento social foi tomada em comum acordo, mas o fator decisivo veio da Gabriella, que trabalha na área da saúde, em um laboratório, que faz testes de doenças, inclusive da Covid-19.
A sugestão de Willian para os casais que estão passando pela mesma situação que ele é manter a cabeça no lugar. “Essa fase vai passar, se você realmente gosta dessa pessoa que está junto, você vai encontrar formas de manter vivo esse amor, essa paixão, no final tudo vai dar certo”.
Sobre o dia dos namorados Willian tinha planejado fazer um jantar romântico, mas foi surpreendido há dois dias com os sintomas da Covid-19. “Fui afastado do meu serviço por 14 dias, agora, vai ficar mais difícil de estar junto”, diz Willian.
MAIS FRONTEIRAS
Rafaella Brito, 22, mora em Cotia, na Grande São Paulo, e Cesar Andrés, 24, é de Cochabamba, na Bolívia. Ambos estavam planejando morar juntos em São Paulo, quando o país fechou as fronteiras com o Brasil e outros países, como um dos meios de se protegerem da Covid-19.
Tendo a música com uma das paixões em comum, a escritora e o desenvolvedor de software se conheceram pela internet e se encontraram pessoalmente em uma das viagens profissionais dele à capital paulista. Levaram um mês para se verem novamente em outra viagem e começarem a namorar.
“Fizemos muitos planos”, desabafa Rafaella. Cesar ficaria apenas alguns dias em Cochabamba para solucionar pendências burocráticas e voltaria ao Brasil. “Porém, naquela mesma semana, o governo boliviano anunciou o fechamento das fronteiras”, completa. Ela diz se sentir em um romance de novela.
Apesar de já lidarem antes com a distância de 3000 km, Rafaella sente que este momento é diferente, cheio de melancolias e incertezas sobre quando poderão cruzar as fronteiras novamente. “É grande a saudade, a vontade de estar perto, sobretudo porque já projetávamos nossa vida em comum.”
Mesmo com as dúvidas que cercam o casal, eles têm se reinventado até o próximo encontro. “Podemos dizer que as circunstâncias intensificaram e amizade e a união que já tínhamos. Aprendemos a demonstrar nossos sentimentos com palavras, com pequenos gestos. Temos buscado uma proximidade íntima para além do físico.”
Eles conversam todos os dias. Mas como não contavam de ter que passar o Dia dos Namorados tão longe, Rafaella já escreveu alguns poemas e Cesar algumas canções. A ideia é que recitem e cantem juntos.
CHÁ DE COZINHA VIRTUAL
Sara Donato, 29 e Tayan Ferreira, 27, MC e DJ do grupo Rap Plus Size, divulgaram nos últimos dias um Chá de Cozinha online pelo site vakinha, para viverem uma nova vida a dois nesta quarentena.
Com a pandemia, o casal conta que não teve escolha. “A gente queria reunir todos os amigos mesmo, fazer aquela comida que a gente gosta, se ver, trocar a ideia”.
Sara e Tayan dizem que tem sido um momento difícil para os artistas independentes nesta quarentena, que não podem realizar shows e não possuem outra fonte renda. “A gente tinha um dinheirinho guardado, mas também viu que não era o suficiente.”
Namorando há um ano e 10 meses, ambos moram juntos com uma outra pessoa, semelhante a uma república, na Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo. Mas agora decidiram avançar no relacionamento.
Tayan morava em Jaboticabal, interior de São Paulo, em 2013, quando assistiu ao show da Sara – que era de São Carlos – e se viram pela primeira vez. Começaram a namorar em 2018, depois de diversos desencontros motivados pela faculdade e trabalho.
No passado, Tayan decidiu vir à capital para dividir a casa com Sara e se integrar ao grupo Rap Plus Size. “Viemos do interior de São Paulo sem nada, não conhecia muita gente. Agora a gente fez amizades perto de casa, conhece mais pessoas. Não queríamos sair de onde moramos.”
Para este Dia dos Namorados, ainda não sabem como comemorar já que a pandemia atrapalha por conta do isolamento e também a falta de renda com o impacto da pandemia no meio artístico.
Ainda assim, garantem que será um dia especial.