Em 2019 a estação São Mateus da Linha 15 – Prata do monotrilho foi entregue à população, após sete anos de atraso nas obras. Mesmo com a entrega, passageiros que circulam no local apontam uma deficiência: não há uma conexão direta, seja por túnel ou passarela, com o terminal de ônibus para quem vai embarcar.
O novo meio de transporte liga o bairro de São Mateus, na zona leste de São Paulo, à Linha 2 – Verde do metrô. Para chegar à plataforma, os passageiros vindos do Terminal São Mateus precisam atravessar a avenida Adélia Chohfi.
“O fluxo de carros é muito grande. Você tem que esperar o farol fechar e às vezes muitos não respeitam. Se você estiver desatento pode ser atropelado”, conta a vendedora Katy Berber Cordeiro, 41.
Katy mora no Jardim Santa Adélia, próximo ao Terminal São Mateus, e usa o monotrilho diariamente para ir ao trabalho e sair aos fins de semana.
Para a vendedora, a falta de uma ligação entre o monotrilho e o terminal de ônibus deixa os passageiros vulneráveis a violência. “A segurança é zero. Nenhum tipo de segurança. Você tem que pedir pra alguém vir aqui para te buscar, para te acompanhar até em casa. E olha que eu moro aqui [perto]”.
A ligação entre a estação São Mateus e o terminal de ônibus está em desenvolvimento, de acordo com a Secretaria de Transportes Metropolitanos do estado. A pasta, porém, não informou uma previsão para a implantação.
Progresso e incertezas
Morador do bairro há 56 anos, o aposentado Eurípedes Carnevazzi, 81, usa o monotrilho esporadicamente para ir ao Hospital São Paulo, na Vila Clementino. Eurípedes vive no bairro Jardim Walkiria, próximo a estação São Mateus e assume: o monotrilho atende muito bem a população, mas demorou para chegar na região.
“[O monotrilho é] ótimo. Vou falar com sinceridade, pensei que ia morrer e não ia ver esse monotrilho. O que estava programado já há muitos e muitos anos, mas graças a Deus veio”.
Eurípedes se refere ao tempo que levou para conclusão da Linha 15 – Prata. O monotrilho foi anunciado em 2009 pelo governo do estado com previsão de entrega para 2012, como um legado da Copa do Mundo de 2014. Junto com os anos também cresceu o custo da obra. Anunciada pelo governo do estado por R$ 2,8 bilhões, o projeto custou R$ 5,5 bilhões até a estação São Mateus, de acordo com o G1.
Questionada a Secretaria dos Transportes Metropolitanos não informou o valor total da construção do monotrilho da zona leste e o porquê a obra encareceu.
Mesmo com a demora, moradores esperam que as obras continuem e cheguem aos outros bairros do extremo leste. “São Mateus cresceu muito com [o monotrilho]. Como a hora que ele [monotrilho] for sentido Iguatemi, para aqueles lado, vai subir mais ainda. Não sei se eu vou a chegar a ver”, afirma Eurípedes.
A linha 15 – prata transporta cerca de 300 mil pessoas por dia ao longo de 11 estações. Com a inauguração das estações Ipiranga, Boa Esperança e Jacu-Pêssego, o Metrô espera transportar mais de 480 mil pessoas diariamente. De acordo com o relatório de empreendimentos de abril deste ano da companhia, não há previsão da extensão do monotrilho até Cidade Tiradentes.
O projeto de expansão prevê novas estações na Avenida Ragueb Chohfi, no distrito do Iguatemi, em São Mateus. Os terrenos das futuras estações Boa Esperança e Jacu-Pêssego já foram desapropriados dos antigos moradores e estão cercados. De acordo com o Metrô, as estações estão previstas para 2025.
Porém, a situação tem causado um outro problema. O analista de comunicação Jessi Rodrigues, 31, acompanha a chegada do monotrilho da marmoraria onde o pai dele trabalha há 30 anos. Jessi comenta que a desapropriação dos imóveis somada a demora para a construção da Linha 15 – Prata tem elevado a sensação de insegurança no bairro.
“A demora para começar a mexer exatamente nessa parte vai deixando o local um pouquinho deserto e automaticamente os moradores de rua estão tomando conta e às vezes até saqueando locais que já foram fechados”