Moshood Silva Balogun, 11, vive em Diadema, na Grande São Paulo. Ele pratica o islamismo com o pai, o nigeriano Kehinde Olasunkamni Balogun, que preside a mesquista Bilal-Al-Habashi no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.
O garoto frequenta o local todas as sextas-feiras para acompanhar o hadith, reações que o profeta Muhammad tomava diante de algumas situações e que servem como orientação religiosa pontuada pelo Sheikh.
No mesmo lugar, ele faz aulas de árabe há cerca de um ano. “Queria ir mais a fundo na minha religião. Minha família encontrou esse [curso] de árabe e foi uma coisa bem legal pra mim, fiz novos amigos e estou aprendendo muito”, explica.
Conforme descreve o menino, a rotina religiosa em casa é composta pela prática de cinco orações por dia. A primeira ele faz às 5h30, após a ablução (banho/higiene corporal). Como está na escola na parte da manhã, pode seguir com as demais orações a partir do meio-dia até a última, que ocorre às 20h.
“Quando faço oração, imagino que é tipo um baú. Tento pedir tudo que quero e penso nas pessoas que eu quero proteger. Aí se Deus gostar da minha oração, tudo que estou pedindo vai se tornar realidade. Geralmente se torna”, afirma Moshood.
ISLAMISMO
Baseada no Alcorão, livro que traz a palavra de Deus transmitida a Maomé, o islamismo cultua um só Deus e é a principal de países asiáticos no Oriente Médio, onde há mais muçulmanos, como Índia e Paquistão. Ela se divide entre xiitas e sunitas.
A mãe, Charlene Silva Balogun, 48, trabalha como profissional de articulação e difusão da Fábrica de Cultura Diadema. Ela se converteu ao islamismo há 18 anos. Um dos relatos trazidos por ela e o filho, que fortalece a prática religiosa da família, é o fato de que, aos 4 anos de idade, Moshood teve uma pneumonia, foi diagnosticado com DGC (Doença Granulomatosa Crônica) e precisou passar por uma cirurgia.
“Meu filho teve uma crise e por questões políticas e raciais o médico se negou a atendê-lo”, descreve Charlene. A mãe fez jejum do Ramadan e orações durante 10 dias. “Moshood nunca mais teve uma internação, Al hamdulillah (Louvado seja Deus)”, agradece.
Jejum
Charlene explica que o Ramadan é a celebração do Alcorão marcada pelo jejum de 30 dias do amanhecer ao pôr-do-sol no mês de abril e que acaba em uma grande festa, Eid Al-Fitr. Segundo ela, a abstenção do alimento só é obrigatória a partir da adolescência. Ainda assim, desde 2019, o filho pratica voluntariamente o jejum diurno.
“É mais difícil na escola, porque às vezes os amiguinhos me oferecem umas coisas muito gostosas pra comer. Mas eu digo não quando estou de jejum”
Moshood Silva, 11
Na aula de educação física, por exemplo, ele conta ser difícil por causa da sede que sente depois de praticar futebol. “Mas como faço jejum desde 2019, eu já consigo me segurar.”
O aluno também explica o significado de passar pelo processo. “Quando você completa todo o jejum, Deus, como eu posso dizer, ele apaga todas as coisas ruins que você fez no passado. Por isso eu gosto do jejum, que é uma forma de limpar”, diz, mas faz questão de ressaltar: “Não que eu faço coisas erradas, tá gente?”, completa.
Durante o jejum, Charlene, mãe do Moshood, o acorda às 4h20 da manhã, pois ele pode se alimentar e se hidratar até as 5h, quando faz a primeira oração do dia. “Quando chega as 18h, horário da oração Maghrib, quebramos o jejum geralmente com água e tâmaras, assim como fazia o profeta [Muhammad], realizamos a oração e a alimentação volta a ser permitida até as 5h do dia seguinte”, detalha.
REPORTAGEM ESPECIAL
Moshood é um dos entrevistados da série especial Religião na Infância, sobre como crianças lidam com a religião e o cenário de intolerância. Confira todas as histórias