Grafiteiro desde 2013, Robson Melancia, 46, viveu o maior tempo sem pintar um muro desde que começou a quarentena. Foram ao menos 40 dias sem utilizar o spray em Diadema, cidade da Grande São Paulo.
Nesse período, o artista teve alguns trabalhos suspensos, como eventos, grafites em muros de escolas e trabalhos para prefeituras da região. Para se proteger, parou os trabalhos, com uma exceção. Decidiu fazer um desenho na rua de casa.
Foi quando decidiu grafitar Babu Santana, ator, que participou este ano do BBB (Big Brother Brasil). “Quando soube que o Babu Santana havia saído do reality, resolvi fazer uma homenagem para ele em um muro em frente da minha casa”, diz Melancia.
O grafiteiro diz que a ideia já estava na cabeça desde antes da quarentena, por considerar que Babu representa as periferias brasileiras.
“Pintar o Babu já era um projeto que tinha desde o filme Tim Maia”, diz. “Não acompanhei a trajetória dele no BBB, mas quando soube que ele estaria, já sabia que iria fazer a diferença e mostrar para a galera a realidade que vivemos nas periferias”, completa.
As mudanças na vida de Melancia são semelhantes a de outros artistas das periferias. Com as medidas de distanciamento social para evitar o avanço da Covid-19, a atuação de quem leva cores aos muros da Grande São Paulo teve de passsar por adaptações ou ser interrompida.
Quem segue nas ruas tem utilizado máscaras, kits com água e sabão para higienizar as mãos com frequência e também é exigido que no local da pintura esteja presente apenas o artista. “Nao estou grafitando, mas tem medidas que alguns grafiteiros estão tomando”.
Um dos momentos é quando pessoas param para ver o desenho sendo colocado na parede. “[Os grafiteiros] pedem educadamente para que circulem para evitar aglomerações. A gente sabe que o grafite é uma arte que chama a atenção, mas todo cuidado é pouco para combatermos o Covid-19″, relata o artista.
Melancia iniciou a carreira em um evento de skate no Jardim Miriam, periferia da zona sul de São Paulo, incentivado por um amigo.
Após participar do evento, ele se inscreveu em um concurso chamado “Graffiti pelo fim da violência contra a mulher”. O evento foi realizado em São Mateus, na zona leste da capital, e o grafite de Melancia foi escolhido como o melhor.
Após vencer, ele foi convidado para a edição final no Morro do Catete, na comunidade Tavares Barros, no Rio de Janeiro. “Só tinha cara brabo no evento, eu ainda estava começando, não conhecia ninguém. Ganhar esse concurso foi muito bom para o meu crescimento pessoal e profissional”, conta Robson.
PIXOTE
Pixote Mushi, 35, é grafiteiro há mais de 20 anos. Atualmente é também professor de grafite e xilogravura na Fábrica de Cultura de Diadema.
O artista conta que o foco de produção e a rotina de trabalho mudaram nesse período de isolamento social. “O que eu produzia na rua eu passei a produzir em casa, no meu ateliê, pintando em telas. Essa foi uma forma de estar em contato com as latas” afirma Pixote.
Além de adaptar as pinturas para telas brancas e sem a textura de uma parede de concreto, Mushi também teve que adaptar as aulas de grafite e xilogravura para um ambiente digital.
Ele criou um grupo de WhatsApp com os alunos para manter contato. “Depois que esse período foi se estendendo, cada educador da Fábrica de Cultura foi buscando maneiras de adequar o conteúdo de aula para estimular e manter os alunos incentivados”, ressalta Pixote.
Com essa mudança na rotina dos grafiteiros e dos artistas visuais, os profissionais da área começaram a produzir mais conteúdos para a internet e mídias sociais, e esses conteúdos estão ajudando o educador Pixote Mushi a ministrar suas aulas online.
“Comecei a juntar esses conteúdos de lives e vídeos em documentos, e a partir disso explico processos de aula, exemplificando com as técnicas de diversos artistas. Utilizo esses grafiteiros que produzem conteúdos para mídias sociais como referência”, diz Pixote.
Enquanto o período de quarentena não acaba, os grafiteiros recomendam que os amantes da arte não parem de estudar. E afirmam que existem várias formas de estimular o processo criativo. Pixote mesmo para não ficar parado, resolveu reativar o site e atualizar sua loja no site.
“Hoje estou produzindo trabalhos digitais, em formatos de print, da impressão fineart e da gravura. Público eles no Instagram e coloco a venda na loja”. Essa foi uma forma que o artista encontrou para complementar sua renda e continuar estimulando o seu processo criativo.