A pandemia do novo coronavírus tem diminuído as doações e modificado as ações sociais desenvolvidas pela IBCM (Instituição Assistencial Beneficente Conceição Macedo), localizada no bairro de Nazaré, no centro de Salvador, que mantém uma creche com atendimento voltado especialmente para crianças com o vírus do HIV.
Gestor da instituição, o padre Alfredo Doréa conta que as atividades presenciais precisaram ser interrompidas, entretanto a alimentação das crianças não poderia ser afetada. A saída foi levar as refeições até as casas das famílias assistidas.
“Quando as crianças estão na creche elas fazem cinco refeições diárias, com a pandemia estamos levando as refeições nas casas, além de entregar cestas básicas e produtos de limpeza. Entregamos 100 refeições diariamente. Nessas visitas também é possível observar como a criança está . Nós e as famílias somos responsáveis por ela”, conta.
A instituição se mantém por doações e já passava por dificuldades financeiras que se intensificaram. “Meu sonho é que a IBCM conseguisse um alicerce econômico que pudesse funcionar sem interrupções. As doações são necessárias, e importantíssimas, mas às vezes não são suficientes para a demanda que temos. Desde março de 2020 tivemos um decréscimo de 40% nas doações”, afirma Dórea.
Além da creche, que atende 74 crianças com idades entre 2 e 5 anos, a IBMC promove o acolhimento de famílias empobrecidas que convivem com HIV/AIDS, além de prestar assistência a transexuais, pessoas em situação de rua e profissionais do sexo.
A entidade auxilia no orçamento de 68 famílias; dessas 29 são beneficiadas com o pagamento dos aluguéis das casas onde vivem. Como é o caso da família de Diandra Conceição, 27, que encontrou na IBCM um suporte para ajudar na educação de dois dos seus quatro filhos.
“Eu estava com dificuldades de trabalhar na rua, pois não tinha com quem deixar os mais novos. Um dia passei pela porta da creche e me explicaram sobre o atendimento direcionado para as crianças soropositivas, mas insisti para que pudessem acolher os meus filhos, e sou muito grata por isso”.
Antes da pandemia, Diandra vendia sequilhos para sustentar a família, mas com as medidas de distanciamento social precisou se afastar do ofício, complicando a sua situação financeira.
“O auxílio emergencial ajudou muito com alguns gastos, mas não era o suficiente, até porque está tudo cada vez mais caro. Se não fosse a alimentação que eles trazem todos os dias para as crianças, não sei como faria. A IBCM não é só uma creche, é uma família para a gente.”
HISTÓRIA DE APOIO
O histórico de acolhimento da IBMC começa com a chegada do vírus em meados dos anos 80, quando a sua fundadora, a aposentada Maria Conceição Macedo dos Santos, de 77 anos, trabalhava como técnica de enfermagem no hospital Roberto Santos e compreendeu que os dilemas dos pacientes não estavam só ligados à saúde, mas também a questões sociais.
Conceição conta que ficou comovida com um paciente abandonado pela família no hospital e alugou um quarto para acomodá-lo. A partir dali, outras pessoas passaram a buscar ajuda.
“Não era a minha intenção naquela época ter um projeto. Eu precisava vender doces, comida, porque a minha renda não dava para me manter e manter mais as pessoas que chegavam, mas não podia dizer não; ainda mais quando chegavam as crianças”, conta.
O movimento criado por Dona Conça, como é carinhosamente chamada, ganhou corpo e voluntários até a fundação da entidade que leva o seu nome, em 1989.
Atualmente, um cuidado especial é voltado para as profissionais do sexo, com um trabalho de orientações sobre prevenção e tratamento das doenças sexualmente transmissíveis. “Todas as quintas, levamos alimentos, informação e também um olhar amigo, de cuidado. Estamos vivendo em uma crise sanitária e as dificuldades só aumentaram para essas pessoas, e parece que ninguém se importa.”
Segundo o balanço o Ministério da Saúde apresentado em dezembro do ano passado, o Brasil registrou um total de 41.919 novos casos de infectados pelo HIV em 2019, número 7% menor que as 45.078 novas infecções do ano anterior. Também em 2019, Salvador registrou 1.530 novos casos de HIV, de acordo com a Secretaria Municipal da Saúde.
Quando fala dos sonhos, a aposentada suspira e afirma desejar a cura do vírus e da desinformação. “A cura para o HIV seria a minha maior realização, talvez eu não alcance. Mas gostaria que a sociedade se curasse do vírus do preconceito, para que as pessoas soropositivas possam trabalhar, caminhar sem medo e seguirem as suas vidas e sonhos.”
Interessados em contribuir com doações ou saber mais sobre o trabalho realizado pela IBCM devem entrar em contato pela página da instituição no Instagram @crecheibcm, ou pelo telefone 71 3450-9759.