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Em Osasco, gestão Rogério Lins teve avanço em empregos, mas projetos inacabados

Prefeitura abrigaria sede da Câmara Municipal

Por: Ariane Costa Gomes e Kaliny Santos e Paulo Talarico

Com quatro candidatos na disputa, as eleições em Osasco, na Grande São Paulo, servirão também como aval ou não para os oito anos de Rogério Lins (Podemos) à frente da prefeitura.

O prefeito chega à reta final com a entrega de algumas obras e o aumento de novas empresas na cidade. Ao mesmo tempo, não resolveu problemas que ainda afetam as periferias e o centro do município, e deixa uma série de questões em aberto para o futuro prefeito.

Com esse cenário, ele tenta eleger o deputado estadual Gerson Pessoa (Podemos), que é também cunhado de Lins, contra outros três adversários: o ex-prefeito Emidio de Souza (PT), o ex-vereador Lindoso (Novo) e Glória Brito (PCO).

SAIBA QUEM SÃO OS CANDIDATOS

A disputa pela prefeitura está dividida entre novos e antigos nomes da política na cidade.

  • O médico Elissandro Lindoso (Novo), 47, foi vereador em 2016 e já foi presidente da Câmara Municipal de Osasco. Em 2020, candidatou-se a prefeito.

  • Eleito duas vezes prefeito de Osasco (2004 a 2012), o deputado estadual Emídio de Souza (PT), 65, é advogado e disputa mais uma vez o cargo. Em 2020 ele concorreu à prefeitura.

  • Concorrendo pela primeira vez ao cargo, Gerson Pessoa (Podemos), 42, foi eleito deputado estadual em 2022 e é formado em análise e desenvolvimento de sistemas e pós-graduando em Gestão Pública. Foi secretário de Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento de Osasco da atual gestão. É cunhado do prefeito Rogério Lins (Podemos).

  • Única mulher na disputa pela prefeitura, Glória Brito (PCO), 26, concorre pela primeira vez numa eleição.

 

Osasco tem 592 mil eleitores e é governada por Lins desde 2017, que foi vereador por três mandatos e também concorreu a deputado federal.

Osasco tem mais de 500 mil eleitores @Ariane Costa Gomes/Agência Mural

Um dos pontos sempre exaltados pelo político é o aumento de empregos e a chegada de novas empresas. O município passou a abrigar as sedes de grandes startups de tecnologia, como Mercado Livre, Ifood, Rappi, Facility, B2W, Dafiti, Swift e mais.

Para atrair a chegada de mais empresas, Lins reduziu a alíquota de ISS (Impostos Sobre Serviços de Qualquer Natureza) de 5% para 2% para alguns tipos de atividade.

A prática aliada a boa localização e facilidade de acesso à cidade de São Paulo, fez com que as empresas se instalassem, o que aumentou o número de vagas de emprego na cidade. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), Osasco registrou saldo positivo de 7 mil vagas este ano. Em 2021, foram 24 mil postos levando em conta admissões e demissões.

Também foi feito investimento em obras de canalização a fim de combater um problema antigo enfrentado pelos moradores: as enchentes.

Cidade tem quatro candidatos na disputa de 2024 @Léu Britto/Agência Mural

Na zona norte, foi concluída uma obra que se arrastou por gestões: a canalização do Braço Morto do Rio Tietê na divisa entre o Jardim Rochdale, Canaã e Aliança.

No entanto, a obra também resultou na retirada da favela Ribeirão Vermelho, deixando famílias desamparadas e com dificuldade ao auxílio bolsa aluguel.

No Jardim Bonança, também na zona norte, foram entregues obras de contenção de encostas e drenagem das águas pluviais (chuva). Em setembro de 2022, a Prefeitura iniciou as obras de captação das águas de chuva na bacia do Quitaúna após anos de problemas enfrentados pelos moradores.

A operadora de caixa Tainá Ayale, 25, avalia positivamente a gestão da cidade em relação à educação. “O prefeito praticamente zerou as filas de espera por creches, os uniformes e mochilas são muito bons. Profissionais muito dedicados às crianças nas creches”, diz ela que complementa que percebeu melhorias na questão de segurança.

A principal crítica da moradora do Jardim Conceição, zona sul, é voltada à saúde. “Na UBS [Lia Buarque Macedo Gasperini] do Jardim Conceição faltam médicos e principalmente pediatras. Pelo que percebi, há um único pediatra só para atender toda aquela população”, conta.

Mãe de Lorenzo, 3, ela conta que a criança está na fila de espera há quase três meses para ser atendida por médicos especialistas como gastropediatra, nutricionista, fonoaudiólogo e psicólogo. “Outro problema é quando você consegue marcar chega no dia as pessoas ligam falando que o médico não foi. Está bem difícil a situação da gente”, lamenta.

Problemas antigos seguem

No plano de governo algumas propostas foram direcionadas a descentralizar o acesso a alguns serviços, mas não foram cumpridas.

Descentralização não avançou

1

Implantação de quatro espaços públicos de trabalho compartilhado (coworkings), nas periferias e regiões de maior vulnerabilidade;

2

Duas Casas do Empreendedor nos centros dos bairros periféricos (Zona Sul e Zona Norte), atualmente, Osasco tem uma Casa do Empreendedor localizada no centro

    3

    Implantação de CCInter (Centros de Convivência Intergeracional) nos territórios periféricos, espaços para a convivência entre crianças, jovens, adultos e idosos

    4

    Promessa de várias gestões, a terceira ponte sobre o Rio Tietê conectando o Jardim Rochdale e toda a região norte até o centro da cidade pela Avenida Marechal Rondon não saiu do papel.

    Além disso, o prefeito não conseguiu resolver problemas que herdou. A rodoviária de Osasco, que ele prometeu reformar, segue sem início. Nota enviada pela assessoria de imprensa da Prefeitura diz que a obra está em fase de licitação e a última reforma foi realizada em 2021 e compreendeu a reforma dos banheiros públicos, troca das luminárias fluorescentes por refletores de LED.

    Novo Paço Municipal foi herdado por Lins da gestão anterior com problemas. Em oito anos, não houve uma solução para o problema e obra segue parada @Paulo Talarico/Agência Mural

    E o prédio do novo Paço Municipal, foi embargado e a estrutura fantasma ficou paralisada durante os oito anos da gestão Lins. Em outubro de 2020, o prefeito informou sobre o cancelamento da obra que tinha como propósito concentrar os serviços do Executivo e Legislativo em um único espaço e garantir agilidade nos atendimentos prestados à população.

    “A prefeitura iria ficar com toda a parte de acabamento, cabeamento. Teria que gastar R$ 30 milhões, R$ 40 milhões. Não vou dar área nobre da prefeitura em troca de prédio sem acabamento”, disse à época.

    Nos últimos meses, o gestor divulgou que a iniciativa privada daria uma solução, sem detalhar o que seria feito. Em suas redes sociais, o candidato Dr. Elissandro Lindoso disse que, caso eleito, o espaço irá abrigar um complexo hospitalar nomeado Hospital das Clínicas de Osasco (HCO). No plano de governo, Gerson Pessoa propõe a retomada das obras do Novo Paço Municipal.

    Quanto à reforma do Calçadão de Osasco, a promessa de cobrir todo o calçadão foi deixada de lado, em especial na área em frente ao Osasco Plaza Shopping, e até o momento a obra não foi inaugurada oficialmente.

    Calçadão de Osasco é um dos pontos mais famosos da cidade @Ariane Costa Gomes/Agência Mural

    Mesma cidade, estruturas desiguais

    A cidade também ainda enfrenta a desigualdade, apesar de a cidade ser o segundo maior PIB (Produto Interno Bruto) no Estado de São Paulo e sétimo no ranking nacional.

    A zona norte de Osasco, que abriga boa parte das empresas, é um exemplo desse desafio. A desigualdade presente na cidade já foi identificada no Plano Diretor, instrumento usado na organização e planejamento urbano.

    Plano Diretor prevê necessidade de avançar em políticas na zona norte de Osasco @Paulo Talarico/Agência Mural

    Há objetivos voltados a fazer com que os bairros periféricos tenham acesso a mesma infraestrutura e qualidade de vida de outros bairros e ampliar a presença dos equipamentos públicos de educação, saúde, assistência social, cultura, esporte e lazer nesses territórios.

    A moradora Sônia Lima, 72, professora aposentada do bairro IAPI, na zona norte de Osasco, diz que a região precisa de mais espaços culturais, como os CEUs (Centro de Educação Unificada). A cidade conta com duas unidades, uma localizada na zona sul (José Saramago) e outra na zona norte (Dra. Zilda Arns Neumann).

    “Dou aula de música no CEU e ainda falta muita coisa por aqui. Precisamos de mais espaços como esses, como a Fábrica de Cultura”, afirma Sonia.

    A Fábrica de Cultura de Osasco foi inaugurada em 2022 como parte do projeto de reurbanização do bairro, que inclui a canalização do Braço Morto do Rio Tietê. Na época, os moradores foram informados de que o espaço seria destinado à construção de uma nova UBS (Unidade Básica de Saúde).

    Frente da prefeitura de Osasco @Ariane Costa Gomes/Agência Mural

    A atual UBS Helena Marrey, localizada na rua Alvilândia, 231, sempre estava cheia e enfrentava uma constante falta de médicos. A construção de dois Centros de Artes e Esportes Unificados (CEU das Artes) não foi implementada.

    Atualmente, Osasco possui o CEU das Artes Bonança (norte) e o CEU das Artes 1º de Maio (sul), ambos entregues na gestão de Jorge Lapas (PDT). Para ela, é fundamental incentivar crianças e adolescentes a se afastarem das ruas e a frequentarem atividades artísticas.

    Confira outras áreas:

    Bilhete Único e acessibilidade

    A ampliação do Bilhete Único Municipal com integração intermunicipal e com a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) também não aconteceu.

    Em novembro de 2019, foi aprovada a implantação do bilhete único em Osasco que possibilitou duas viagens durante uma hora e meia pagando uma só passagem. Aos domingos e feriados o período é de duas horas.

    Até então, para se deslocar dentro da cidade o passageiro que precisasse pegar mais de um ônibus pagava o valor integral de duas passagens. Com a mudança, a integração tarifária foi aplicada às modalidades de cartão BEM (Bilhete Eletrônico Municipal) Comum e Escolar.

    Ônibus em Osasco: bilhete municipal ainda não tem integração com trem e metrô

    Na primeira campanha eleitoral, ainda em 2016, Lins chegou a prometer ônibus de madrugada, mas ele recuou da ideia após assumir.

    Moradora do Recanto das Rosas, zona sul de Osasco, Simone Lara, 46, reclama das poucas opções e da demora dos ônibus. “Esses dias perdi uma vaga de emprego porque os ônibus demoram de 1 em 1 hora para passar e ainda andam numa lentidão terrível”, conta a cabeleireira que está há dois meses no endereço.

    Antes ela morava no IAPI, zona norte da cidade, e conta que lá os ônibus passavam com mais frequência. A moradora também reclama da falta de agência bancária, lotéricas e de uma UBS (Unidade Básica de Saúde) mais próxima de casa.

    Alex, marido de Simone, é uma pessoa com deficiência visual. Ao se locomoverem pela cidade, ambos percebem o quanto é preciso investir em acessibilidade. “As calçadas daqui [do bairro] ninguém consegue andar porque tem degraus elevados. Meu esposo é deficiente visual e temos que andar nas ruas porque na calçada não tem condições”, avalia.

    A manutenção das calçadas foi tema de algumas propostas previstas no plano de governo voltadas à acessibilidade, mas que não entraram em vigor.

    No Largo de Osasco, terminal de ônibus localizado na região central, o piso tátil está com alguns pedaços faltantes, há buracos no chão das plataformas, baixa iluminação e assentos faltando.

    A obra foi entregue na gestão anterior e não passou por reformas – agora o candidato apoiado por Lins promete um novo terminal.

    Simone reforça a necessidade de mais investimento voltado à formação de pessoas com deficiência. “Meu esposo tem que ir em instituições no centro [de São Paulo] tipo Dom Pedro II, Santa Cruz, Domingo de Moraes, Barra Funda ou Jabaquara se quiser ter algum curso porque por perto não existe e vejo que ninguém tem interesse em investir nisso”, finaliza.

    Saúde: problema antigo dos moradores

    Na área da saúde, uma das propostas não implantadas foi o novo Centro de Diagnósticos na zona norte nos moldes do já implantado na região central, cujo objetivo era descentralizar os atendimentos de ultrassonografia, tomografia, mamografia, entre outros.

    Entre as reclamações estão o tempo de espera para consultas e agendamento de exames, demora no atendimento, falta de médicos especialistas e mais.

    A Secretaria de Saúde chegou a realizar de forma esporádica mutirões nos fins de semana dedicados a atendimentos médicos e realização de exames. Em junho deste ano, a Ação da Saúde realizada na Policlínica Dona Leonil Crê Bortolosso, na zona norte, chegou a atender 2 mil pessoas, segundo a Prefeitura de Osasco.

    Hospital Antonio Giglio, em Osasco

    Na zona norte, duas importantes obras da área de saúde estão em andamento. O Hospital da Criança e da Mulher, que será nomeado como Hospital Dr. Celso Giglio, está em fase final de obras na Avenida Getúlio Vargas, no Jardim Piratininga.

    A unidade será a primeira da região voltada à saúde da criança e da mulher. A reestruturação do Hospital e Maternidade Amador Aguiar, com ambulatório específico para cirurgias e procedimentos à saúde da Mulher, já foi prometida diversas vezes e atualmente está em obra.

    A estrutura da rede pública municipal conta atualmente com 2 hospitais, 6 Prontos-Socorros, 2 policlínicas, 3 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), 36 UBSs (Unidades Básicas de Saúde), 1 Casa do Adolescente, 2 Centros de Atenção aos Idosos e 3 CAPs (Centros de Atenção Psicossocial).

    Algumas das propostas relacionadas à saúde que estão em andamento são:

    • Reformas e estruturação de 100% das unidades de saúde;
    • Redimensionar a rede de Atenção Básica, com projetos de reestruturação e construção de novas UBS nos territórios com maior demanda;
    • Reestruturação do Serviço de Atendimento de Urgência (SAMU);
    • Construção de novos Pronto-Socorros e Pronto-Atendimentos (PAs) no Novo Osasco, Munhoz Junior e Cidade das Flores.

    O pronto atendimento nas unidades do Munhoz Junior e Cidade das Flores teve a implantação anunciada em junho de 2024. Segundo a Prefeitura, durante a semana, ao longo do dia, funcionarão como UBS e, das 19h às 7h da manhã, como PA. Nos finais de semana e feriados, as duas unidades funcionarão 24 horas apenas como Pronto Atendimento.

    Em 2021 foi inaugurado o Centro de Hemodinâmica instalado no Hospital Municipal Antônio Giglio, no centro da cidade. O Jardim Bonança, na zona norte, recebeu sua primeira UBS em maio de 2023.

    Verticalização e trânsito

    Nos últimos anos, a cidade tem passado por um processo de verticalização com a chegada de diversos empreendimentos imobiliários, o que exigirá mais planejamento da administração pública em infraestrutura e serviços.

    Segundo estudo elaborado pela Secretaria de Finanças da Prefeitura Municipal a partir de informações cadastrais do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), o total de imóveis saltou de 154.914 em 2017 para 184.617 em 2022.

    Ainda segundo a análise, foi observado o aumento do número de condomínios residenciais que cresceu de 42.868 em 2017 para 65.885 em 2022.

    A quantidade de condomínios residenciais já é maior do que a quantidade de sobrados residenciais na cidade (54.686 em 2022). Quando consideradas também as casas térreas, o número de casas térreas e assobradadas (91.825 em 2022) ainda é maior do que o de apartamentos cadastrados.

    Ao circular pela cidade, a mudança na paisagem é nítida com o aumento do número de obras voltadas à construção de apartamentos. A novidade exige ainda mais investimentos em serviços públicos a fim de garantir uma melhor qualidade de vida aos antigos e novos moradores de Osasco.

    Em maio deste ano, o novo acesso da Rodovia Castello Branco foi inaugurado com a presença do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

    A obra custou R$ 232 milhões e a região central teve seu sistema viário reestruturado a fim de melhorar a mobilidade urbana, mas, segundo os moradores, não teve o efeito planejado. Há reclamações sobre o aumento do trânsito e da mudança dos sentidos de algumas vias.

    O trânsito tem gerado discussões sobre como melhorar a mobilidade urbana uma vez que a cidade não tem um Plano Cicloviário de Osasco, algo que foi previsto que seria elaborado a partir das diretrizes do Plano de Mobilidade.

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