Segunda maior favela de São Paulo, Paraisópolis tem mais de 100 mil moradores. Desses, cerca de 25 mil têm mais de 60 anos de idade. Nos últimos dias, as lideranças comunitárias foram notificadas de possíveis cinco casos do novo coronavírus no bairro.
“Temos um óbito suspeito e outro confirmado aqui. Mas a Secretaria Estadual de Saúde não passa informações [se há casos registrados em Paraisópolis]. Sabemos devido a operação das ambulâncias”, comenta Gilson Rodrigues, 35, líder comunitário.
Um problema que atrapalha os cuidados necessários para evitar a contaminação e proliferação da Covid-19 na favela é que muitas famílias não têm condições adequadas de moradia ou mesmo acesso à água.
Mesmo quem possui os serviços básicos, contudo, sofre com outra questão: o racionamento de água pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).
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A doméstica Gerimar Oliveira, 32, não tem caixa d’água na residência. Ela conta que o fornecimento acaba todas as noites por volta das 22h e retorna apenas no dia seguinte às 5h30.
“Como tenho criança em casa, tenho que guardar água em baldes para alguma emergência”, diz Gerimar, que mora com o marido e a filha de seis anos.
“Às vezes um de nós chega mais tarde em casa e temos que ter a água guardada para que a gente não fique sem tomar banho”
Gerimar Oliveira, doméstica
Segundo moradores, essa situação ocorre desde o início da crise hídrica no estado de São Paulo, em 2014, e nunca foi regularizada pela Sabesp. Com a pandemia do coronavírus no Brasil, as preocupações se intensificaram.
“A falta de água aqui é rotineira. Isso me preocupa bastante porque não podemos fazer nossa higienização”, relata a garçonete Rejane Carvalho, 25. Ela também não tem reservatório em casa e, em situações como essa, depende dos baldes que sempre deixa cheios.
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Nesta terça-feira (31), a rua onde ela mora com o marido e a mãe de 46 anos está há quase 24 horas sem água. De acordo com Rejane, a interrupção teve início ontem volta das 18h.
“Entrei em contato com a Sabesp pela manhã e me relataram que o corte se dava por conta de um vazamento e que provavelmente só retornaria no fim do dia”, conta.
Por enquanto, a garçonete e a família têm feito uso de álcool em gel para se prevenirem. O produto foi encontrado pelo preço de R$ 29. “Antes, o frasco de 500 ml custava em torno de R$ 12. É um absurdo, mas como precisamos, tive que comprar”.
COMPANHIA NEGA RACIONAMENTO
Em nota, a Sabesp nega que exista racionamento na comunidade. “Os casos de falta de água que são notificados têm sido verificados para que possam ser solucionados”, explica a empresa, orientando que a população entre em contato pelos canais digitais e pela central de atendimento telefônico.
Para momentos de interrupção, a companhia cita a importância das casas terem caixa d’água para suportar o abastecimento por 24h.
Em Paraisópolis, foi iniciada uma ação de distribuição gratuita de reservatórios para a população na última sexta-feira (27).
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A ação é uma parceria entre a Sabesp e as empresas Tigre e Amanco, e tem o objetivo de evitar que os moradores fiquem sem água durante manutenções e possam manter ações de prevenção ao novo coronavírus. Até a segunda-feira (30), foram entregues 487 caixas para a comunidade.
MAIOR CONSUMO DE ÁGUA
A Sabesp também informa que, em razão do isolamento social e intensificação das práticas de higiene para combater o coronavírus, houve um aumento da demanda por água no estado. No entanto, esclarece que não há risco de falta da mesma.
“Para manter todos abastecidos, estamos readequando os parâmetros técnicos da gestão da demanda para atender a todos conforme esse novo padrão de consumo do momento.”
Por gestão da demanda, a companhia explica que é uma prática adotada pelo setor de saneamento. Com essa técnica, reduz-se a pressão das redes de água no período noturno, quando o consumo é menor, a fim de evitar perdas por vazamentos e rompimento de tubulações.
“Ressaltamos que os mananciais estão com boa capacidade de armazenamento e as estações tratamento de água continuam operando 24 horas por dia”, finaliza.
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