O avanço do novo coronavírus têm gerado dúvidas sobre a doença nas periferias de Santo André, na Grande São Paulo. A cidade é a segunda na região do ABC com mais casos de pessoas infectadas, são 440 casos confirmados e 45 óbitos até esta quarta-feira (29), atrás apenas de São Bernardo do Campo.
Em busca de levar informação sobre a Covid-19 para bairros periféricos do município, uma associação de moradores criou o Comitê das Comunidades, um grupo via Whatsapp para discutir assuntos da doença e prevenção.
A ação foi iniciada pelo o MDDF (Movimento de Defesa dos Favelados), que desenvolve trabalhos nas comunidades, como luta por moradia, há mais de 30 anos.
Liderado pelo gestor ambiental Edinilson Ferreira dos Santos, 39, a ideia foi organizar uma rede virtual com moradores e lideranças comunitárias que representam as favelas do município e traçar temas que serão debatidos no grupo.
“Percebemos que de fato as informações não estavam chegando nas pontas [periferias] e as pessoas estavam preocupadas”, diz Santos, que mora no bairro Aquilino há cinco anos e atua no MDDF desde a adolescência, quando morou em favelas da região.
O Comitê das Comunidades foi criado em meados de março, quando o governador João Doria (PSDB) decretou o início da quarentena no estado. São cerca 60 integrantes, que têm a responsabilidade de repassar as informações para a população.
A preocupação se deu por causa da propagação nas favelas da cidade. O MDDF teve informação que ao menos 6 casos foram confirmados e outras 20 pessoas apresentaram os sintomas e estão na quarentena.
Eles alertam ainda, o fato das moradias nas favelas serem próximas, uma do lado da outra, e num espaço pequeno uma família ter muitas pessoas, tudo isso pode propagar a proliferação do vírus.
O grupo tira dúvidas dos moradores sobre os cuidados com a higiene pessoal e do coronavírus. O movimento tem parcerias com rádios comunitárias da região. Um locutor gravou áudio que foi passado com carro de som, alertando os moradores da importância de respeitar o isolamento social.
Conforme a propagação da doença avançou, o movimento resolveu produzir vídeos na internet. O youtuber Lucas de Sousa Beserra, 19, foi convidado a apresentar os vídeos sobre como se prevenir da doença.
Ele mora no bairro Capuava com o pai e irmão numa casa de alvenaria, e organizou num cômodo da residência um espaço onde grava, prepara o roteiro e faz edição.
“Sempre gostei do audiovisual, sou autodidata e tenho um canal no youtube que comento sobre reality show. Conheci o MDDF, ano passado quando participei de um documentário Favela na Tela, que foi apresentado em janeiro, no Sesc Santo André”, relata.
Lucas grava vídeos curtos de conscientização e conteúdos de como evitar a contaminação, orienta a população dos devidos cuidados necessários, como lavar as mãos e o uso do álcool em gel.
“Muita gente não entende essa questão de ficar em casa, não acredita na doença, a necessidade do distanciamento social. Nos fins de semana alguns comércios estavam abrindo, mas a fiscalização passou e multou quem desrespeitou”, explica.
Os vídeos são transmitidos via whatsapp para alcançar o maior número de pessoas. Tem uma equipe dentro do MDDF, que o auxilia na produção e pautas relacionadas a pandemia.
A ideia é também fazer uma prestação de serviço, com a informação do que vem sendo feito como a entrega do kit merenda em casa, os itens da cesta, locais de entrega e data, quando alguns bairros têm falta de água.
Algumas famílias de comunidades, como Parque João Ramalho e Capuava, receberam as cestas básica com atraso.
VEJA TAMBÉM:
Minha esposa não teve um atendimento humanizado na hora que mais precisava no parto
Confira a página especial sobre o coronavírus
Grande SP chega a 15 mil casos; capital, Osasco e Guarulhos têm mais vítimas
Sem auxílio, filas em frente à Caixa se tornam rotina nas periferias
Questionada, a Prefeitura de Santo André diz que segue o cronograma de entrega dos alimentos desde o início da ação, do Programa Merenda em Casa, no dia 2 de abril, a próxima entrega está prevista para o dia (30/04), beneficiando os 41 mil alunos das Emeiefs (Escolas Municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental), das creches municipais.
A prefeitura afirma que houve dificuldade em localizar algumas famílias, já que os endereços não estavam atualizados, e os feriados do mês de abril dificultaram o trabalho das equipes.
Estão sendo distribuídos 25 mil kits de alimentos e de limpeza que são montados, respectivamente, pela Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) e pelo Fundo Social de Solidariedade de Santo André.