Ícone do site Agência Mural

Escritor de Carapicuíba transforma cidade em protagonista de novo romance

Por: Kim Dias e Renan Cavalcante

Ao começar a pensar no terceiro e mais recente livro, o professor e escritor Gabriel Carvalho, 26, decidiu ambientar a história em um lugar bastante familiar para ele, a Cohab II em Carapicuíba. O bairro onde ele cresceu é o pano de fundo para “Barbaridade”, um romance sobre fofocas, bares e conversas periféricas.

A inspiração surgiu da leitura de “Velhos Marinheiros ou Capitão de Longo Curso“, de Jorge Amado. Gabriel, que já havia lançado a coletânea de poemas “Descascado” e o romance “Serenidade do Alvoroço”, explica que a forma como Jorge Amado retrata a fofoca ressoou com as próprias experiências na Cohab II, conjunto habitacional criado nos anos 1970.

Livro abriu portas para o escritor Gabriel no mercado literário @Arquivo pessoal/Divulgação

‘Achei interessante ele falar de fofoca, porque era uma coisa que vivia lá em Carapicuíba. Todo mundo falando um do outro’

Gabriel, escritor

A partir daí, a ideia de retratar o bairro, com as histórias e os moradores, ganhou força. “Eu só conseguiria falar da Cohab. Não conseguiria falar de outro bairro. Queria contar uma história que as personagens fossem muito reais. E, para isso, eu tinha que me inspirar em pessoas reais”, explica Gabriel.

O livro transita entre os anos 1980 e os dias atuais e gira em torno de um bar fictício com o mesmo nome, Barbaridade, onde a maioria dos acontecimentos do bairro são discutidos.

O escritor defende que a cidade é mais que um simples cenário. Para ele, Carapicuíba é a verdadeira protagonista, a força que move a narrativa e os personagens. A obra também toca em temas sérios, como preconceito e truculência policial, evidenciando as complexidades da vida local.

Gabriel durante lançamento do primeiro livro @Arquivo pessoal/Divulgação

Crescer na cidade proporcionou experiências que ele carrega até hoje e que deram material para o livro. Ele lembra das conversas com amigos na pista de skate que ajudaram a formar uma visão de mundo e dos quadrinhos comprados na banca da Caixa D’água, que o ajudaram a se tornar leitor e depois escritor.

A influência cultural também vem dos pais. “Minha mãe, por ser professora, incentivava muito a leitura. E meu pai sempre foi uma grande referência de música”, lembra.

Professor do ensino fundamental, Gabriel ressalta a importância de trabalhar a literatura de forma contextualizada e interdisciplinar nas escolas, estimulando a leitura de maneira mais dinâmica para despertar o prazer de ler nos alunos. Ele também reflete sobre a jornada de se tornar escritor. “Demorou para entender que era possível qualquer pessoa ser escritora”.

Barbaridade é o terceiro livro de Gabriel Carvalho, obra ambientada na Cohab II de Carapicuíba @Arquivo pessoal/Divulgação

“Barbaridade” não é o primeiro trabalho do autor a citar o município. Em “Serenidade do Alvoroço” a cidade aparece. “Comecei a escrever querendo que ele fosse sobre Carapicuíba, mas não consegui. A obra aborda as questões de morar na região, mas não fala de lugares de lá”.

O lançamento de “Barbaridade” pela editora patuá marcou uma virada na carreira do autor. Gabriel está tendo a oportunidade de divulgar o trabalho em grandes eventos literários, como a Feira do Livro de São Paulo e a Festa Literária Internacional de Paraty. Ele descreve esta nova experiência como “furar uma bolha”.

“Na periferia a gente não cresce com contatos que possam nos ajudar na carreira de escritor. Eu não tinha referência de mercado editorial e demorou para compreender.”

Lançamento do livro Barbaridade

Endereço: Livraria Patuscada- Luís Murat, 40, Pinheiros – SP

Horário de funcionamento: Sexta-feira (12/09) das 19h às 22h

Sair da versão mobile