Wesley Barbosa, 33, contabiliza mais de 10 mil livros vendidos de maneira independente. O escritor independente lança neste domingo (17) “Eu te amo Ivan”, narrativa que traz a vivência de um casal LGBTQIA+ e uma adolescente, e as relações familiares na busca por amor e aceitação em meio à violência em que vivem.
Nascido e criado no Jardim Santa Júlia, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, Wesley recentemente celebrou outra conquista: pela primeira vez, terá uma obra traduzida em língua estrangeira.
“Viela Ensanguentada”, publicado em 2022, será lançado na França pela editora Margináli. A história fala sobre Mariano, que busca refúgio nos livros para fugir do cenário da criminalidade.
Desde que começou, o autor usa as vivências nas periferias para escrever, trazendo as relações de afeto e também da violência, que muitas vezes estão relacionadas nesse universo.
O interesse pela literatura começou na adolescência com a adaptação juvenil de “Odisseia” de Homero, um dos maiores clássicos da literatura mundial. Por conta da linguagem coloquial, a obra despertou a curiosidade em aprender os significados das palavras com o dicionário.
‘Na escola, eu não gostava de matemática e era um aluno relapso mesmo, não conseguia prestar atenção. Um dia, pedi para a professora para ir ao banheiro, vi a porta da biblioteca entre aberta e fiquei por lá’
Clarice Lispector, Hermann Hesse e Carlos Drummond Andrade foram os primeiros autores que lhe chamaram a atenção. Por meio das leituras, foi criando um espaço de conforto e refúgio da realidade, por se identificar com a jornada dos personagens.
No entanto, ao mesmo tempo em que lia os clássicos, não se via representado. Passou a ler outros escritores como Lima Barreto, Carolina Maria de Jesus e Ferréz. “Eu nunca tinha visto palavras que eu uso no cotidiano dentro de um livro”.
Outras inspirações fundamentais são Jorge Amado e Conceição Evaristo, por criarem personagens “da vida real”. Ao lê-los, ele construiu o próprio estilo.
O primeiro livro de Wesley foi “O Diabo na mesa dos fundos”, no qual traz uma série de contos urbanos que retratam conflitos cotidianos, desde uma menina que menstrua pela primeira vez até um cara que passa por uma situação no bar e termina o episódio de maneira brutal.
“A imaginação é minha ferramenta, mas a realidade é como se fosse um suplemento para escrever”. Para Wesley, mostrar a diversidade e a pluralidade nas vivências periféricas também traz mais leitores para perto. “Sempre quero trazer histórias que sejam parecidas com a realidade para que as pessoas se identifiquem”.
O passado de ambulante e a vida de escritor
Wesley já atuou como ambulante e levou essa experiência para impulsionar as vendas literárias. Vende as obras em eventos, pelas redes sociais e no boca a boca.
As vendas de forma autônoma fomentaram a abertura da própria editora, a Barraco Editorial. Lançada em 2023 sem nenhum patrocínio, a ideia é publicar autores das periferias e promover um espaço de visibilidade, já que muitos ainda não encontram isso no mercado tradicional.
De início, Wesley pretende fazer novas edições das próprias obras e, ainda para este ano, está organizando uma coletânea de livros com jornalistas das periferias de todo o país.
Uma das maiores felicidades para o escritor é ver a obra chegando em diversas pessoas, desde figuras públicas como o ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida, o cantor Criolo e o DJ KL Jay, até o trabalhador que está lendo o livro de bolso no trem lotado.
‘Ao me deparar, por exemplo, com os alunos da USP (Universidade de São Paulo) que leram meus livros, é reconhecer que mesmo eu, que não estudei naquele espaço, posso ser admirado e prestigiado com todo o meu esforço que venho fazendo sozinho’
Para o futuro, o escritor sonha em lançar livros infantis, um gênero ainda não explorado por ele, mas que o público vêm pedindo.
Endereço: Rua Costa Aguiar, 1112, Ipiranga
Lançamento: 17 de março no sebo Pura Poesia, às 15h30
instagram: @barbosaescritor