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Inspirada no afrofuturismo, editora na Brasilândia aposta em autores negros

Por: Ítalo Yuri Leal Mendes

Moradores da Brasilândia, na zona norte de São Paulo, Israel Neto, 32, Anderson Lima, 37 e Aisameque Nguengue, 27, são o motor da Kitembo – Edições Literárias do Futuro. 

Criada em 2019, a editora possui no catálogo as obras “Os planos secretos do regime” e “Amor banto em terras brasileiras”. O trio decidiu se basear na cultura afro para estimular a literatura na região. 

O nome Kitembo é uma alusão ao deus do tempo da cultura de Angola. E as obras são baseadas no conceito de “afrofuturismo”, movimento que nasceu nos anos 1960. 

Presente na música, literatura, cinema e nas artes visuais, o movimento estabelece uma conexão entre história, mitologia, cosmologias africanas e as outras ciências para pensar a sociedade. Por fim, questiona sobre o futuro: como seria o mundo se as ciências africanas fossem o centro? 

Amor Banto em terras brasileiras foi um dos livros impressos pela editora @Ítalo Yuri/Agência Mural

O termo foi utilizado em 1994 nos Estados Unidos pelo crítico Mark Dery em um ensaio chamado: Black To The Future.

“O foco da Kitembo é produzir literatura fantástica para todos os públicos e fomentar principalmente escritores e escritoras negras”, diz Israel, fundador da editora e autor dos dois livros publicados pelo trio.

“Os planos secretos do Regime” trata de uma trama que se passa no Brasil durante o final da década de 1960. Já “Amor banto em terras brasileiras” é um romance que se passa no período da escravidão, também no Brasil.

“O que chama atenção pelo que eu notei foi mais a representação que a gente faz. O pessoal vê que não é aquele clichê”, ressalta o ilustrador Aisameque responsável pela arte e pelas ilustrações de “Amor Banto”. 

Ele cita, por exemplo, histórias que repetem a ideia de um romance entre uma mulher negra e um homem branco. “Quando vão ver é um romance de um casal negro. Coisa que pra mim precisa ser mais representada no Brasil”, ressalta. “Falam que no Brasil não tem preconceito. Mas você não vê a representação de casais negros na TV”. 

MODO DE TRABALHO

Além de produzir e publicar as obras, a Kitembo organiza encontros e palestras sobre o processo criativo. Realizam também ações de divulgação e rodas de conversa em centros culturais e casas de culturas, além de escolas da rede pública e colégios particulares.

Por fim, participam de uma rede de coletivos, formada por várias editoras independentes, como a Coesão independente e o coletivo de escritores Litera ABC. 

Moradores da Brasilândia, Israel, Aisameque e Anderson têm apostado no afrofuturismo @Ítalo Yuri/Agência Mural

“O que a gente vende não é livro, a gente vende histórias”, diz Anderson Lima, responsável pelas vendas da editora.

O trabalho é todo feito na casa de Israel, que trabalha com pedidos feitos pela internet. Uma das preocupações é o preço das obras. O trio quer trabalhar com o preço máximo de R$ 20. Para isso, imprimem em gráficas selecionadas pela rede de editoras independentes. “R$ 80 num livro está fora da realidade. É uma semana e meia de mistura”, diz Israel.

Hoje, a editora funciona com dinheiro gerado por meio da venda de livros e a parceria de apoiadores – eles investem uma quantia e recebem participação no lucro das vendas. Eles recebem pedidos pelas redes sociais

Em agosto de 2019, o grupo lançou uma chamada para a antologia de contos afrofuturistas “O Futuro é Nosso”, para autores e autoras de contos afrofuturistas. Os contos selecionados serão publicados em uma antologia, após avaliação dos editores. Ainda não há previsão de lançamento.

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