No Brasil, de cada 100 pessoas, 22 são jovens entre 15 e 29 anos. É um momento que parece encerrar o chamado “bônus demográfico”, quando o número de jovens em idade ativa para trabalhar supera o de crianças e idosos. Mas para além de questões relacionadas ao direito ao trabalho, renda, moradia e transporte, é importante garantir aos jovens equidade e igualdade.
Este, inclusive, é um dos princípio do Estatuto da Juventude, que garante respeito à identidade, à diversidade, à uma vida segura e sem discriminação. A pergunta que fica é se esses direitos estão sendo respeitados na prática?
O debate é urgente, principalmente quando se fala dos direitos das juventudes das quebradas, que já têm a vida atravessada por carências e dificuldades de acesso à cidade. Quer ver?
O Artigo 88 da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência determina o capacitismo como crime passível de punição. Isso não impediu que o ator Kelvin França Delamare, 24, da Casa Verde, na zona norte, vivesse situações de discriminação.
“Uma vez uma mulher fez um escândalo por eu estar no lugar preferencial do ônibus, mesmo eu identificado como uma pessoa com deficiência”
Kelvin França
O jovem foi diagnosticado aos 21 anos com Autismo, Transtorno de Déficit de Atenção, superdotação e altas habilidades e têm o direito garantido, apesar de nem sempre respeitado.
Em 2019, o Supremo Tribunal Federal equiparou atos ofensivos a pessoas LGBTQIAPN+ como crime de injúria racial, definido pela Lei do Racismo. Isso não impediu que a jovem Chloe Domingos de Oliveira, 21, produtora de moda, cria de Guaianazes, zona leste, passasse imune ao preconceito.
“Quando trabalhava em um shopping de área nobre, uma mulher começou a gritar comigo para sair do banheiro e me seguiu até a loja que eu trabalhava”, conta sobre o crime de transfobia. “Ser mulher trans não é somente potência, é política de resistência de uma comunidade que sempre foi largada às margens. Meu corpo é força e também é amor”.
Lívia Alves de Oliveira Cruz, 29, jornalista, cria do Jardim Ingá, Campo Limpo, zona sul da capital paulista, ainda não tem uma legislação que a proteja da gordofobia. Até existe um Projeto de Lei, de 2022, que pretende equiparar ao crime de racismo o ato de discriminar alguém em razão do peso corporal. A lei poderia mudar a história de meninas como ela.
“Eu ouvia comentários ridículos quando praticava futebol e basquete. Eu desisti por conta disso, mas não entendia que isso era gordofobia, eu só sentia o desconforto muito grande”, lembra.
Recife já possui uma lei antigordofobia que define práticas gordofóbicas como atos de preconceito, repulsa ou discriminação social, política e econômica cometidos contra pessoa gorda. A expectativa é que haja medidas assim válidas para todo país, afinal, a gordofobia, transfobia e capacitismo comprometem os direitos humanos.
Capacitismo: ideia na qual as pessoas sem deficiências são um padrão ideal a ser perseguido
Transfobia: opressão motivada na identidade de gênero das vítimas
Gordofobia: preconceito contra corpos gordos, com ideia que são menos capazes
Na série de webstories produzida pela Agência Mural, três jovens definem as discriminações sofridas, falam sobre suas experiências e propõem caminhos para combater o preconceito pelas quebradas.
Gordofobia
“Não é como se as pessoas me julgassem, elas já tem a certeza de que não vou conseguir fazer algo pelo meu peso”, fala Lívia Alves de Oliveira Cruz, 29, do Jardim Ingá, Campo Limpo, zona sul da capital paulista.
Transfobia
“As pessoas relutam em aceitar que sou uma mulher, parece que elas não me veem como eu me vejo”, por Chloe Domingos de Oliveira, 21, produtora de moda, de Guaianazes, zona leste.
Capacitismo
“Capacitismo é o ato de resumir nossa pessoa e individualidade apenas às deficiência e limitações”, define Kelvin França Delamare, 24, jovem neurodivergente, morador da Casa Verde, zona norte da capital.