Herdeiro da extinta Casa de Detenção de São Paulo, popularmente conhecida como Carandiru, o Parque da Juventude não tem qualquer relação com o passado trágico do lugar, mas esconde alguns perigos para os seus frequentadores. A área, que tem obras de arte, ruínas históricas da penitenciária e uma agradável vegetação de Mata Atlântica, tem também uma infraestrutura desgastada, com locais de alimentação fechados, equipamentos esportivos em mau estado e relatos de acidentes.
Segundo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, o início da cobrança pelo estacionamento na entrada da avenida Zaki Narchi, há três meses, teve “o objetivo de aumentar a arrecadação para obras do parque e ajudar no pagamento de despesas mensais”. Na outra entrada, a da avenida Cruzeiro do Sul, essa cobrança já era feita. Apesar da empresa responsável pelo estacionamento pagar R$ 31 mil mensais, os visitantes não têm notado melhorias ou mesmo serviços de manutenção do espaço.
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Morador da região, o fotógrafo técnico pericial, Nivaldo Torres, 54, sempre traz o filho Lucca, 8, para andar de skate. Ele critica as más condições da pista, que prejudicam as manobras e já causaram acidentes. “Em vários pontos há buracos e cantoneiras soltas”. Para ele, a segurança do lugar é falha. “A vigilância é inoperante, se limita a ficar olhando. Em caso de acidente, nós mesmos temos que socorrer. Eles nem chamam uma ambulância”, relata. Sobre a questão do estacionamento pago, Torres avalia que tudo continua do jeito que era e até hoje ele não viu nenhum investimento no parque. O fotógrafo também reclama da falta de lanchonetes. “Aqui não tem nada para consumir. Você precisa sair ou comprar dos camelôs lá fora”, diz.
O estudante Gabriel Melo, 13, já sofreu um acidente na pista. Durante uma manobra, o seu skate passou em cima de um buraco e ele caiu. “Eu quebrei a clavícula e bati a cabeça. Não tive nenhuma assistência. Só um amigo me ajudou”. Para o garoto, a pista precisa de uma reforma total, já que está cheia de buracos e os ferros estão soltos. Além de apontar falhas na manutenção, o estudante Felipe Rodrigues, 22, também pede a presença de um orientador de skate para as crianças. “Aqui é perigoso”, alerta.
Nas quadras poliesportivas, os problemas também estão presentes. Os jogos de basquete são disputados na base do improviso, sem redes nas cestas e com as tabelas em más condições. Nas quadras de futsal, não há redes nos gols, enquanto duas outras, que estão esburacadas, não têm traves, tabelas ou redes e as linhas de marcação estão apagadas.
Ao lado do mau cheiroso córrego Carandiru, fica a área de recreação infantil. Os balanços estão desativados, faltam assentos e os suportes ficam enrolados. O motoboy Jairo Silva, 25, levou a família para se divertir no parque e se esforçou para manter a animação. “No parquinho, a situação está precária. Não tem mais brinquedos, só um balanço, os demais estão quebrados. O de cordas está arrebentado. Só dá para se divertir na areia”, diz. O motoboy não usou o estacionamento e deixou o carro em uma rua próxima. Ele considera absurda a cobrança, pois o parque é da população e, até agora, ele não teve melhoras. Silva também reivindica a instalação da lanchonete e uma maior conservação do espaço. “A gente vem aqui para trazer os filhos, precisa uma estrutura melhor. Parece que ninguém mais está ligando”, desabafa.
A opinião dos visitantes do Parque da Juventude confirma a baixa avaliação das áreas de lazer da cidade, divulgada pela última edição da pesquisa Irbem (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município). Na avaliação sobre a revitalização e conservação de parques, praças e várzeas existentes, a nota média foi de 4,2, na escala que vai de 0 a 10. Na região norte 1, onde segundo a divisão do Ibope está inserida a Prefeitura Regional de Santana/ Tucuruvi, a nota média foi de 3.9.
Sobre os problemas relatados pelos frequentadores, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente informou “que a equipe de manutenção foi acionada para verificar e proceder com os devidos reparos”. Em relação à assistência médica em caso de acidentes, o órgão afirmou que tem um procedimento de acionar o SAMU para socorro nesses casos. Sobre a falta de lanchonete, justificou que “há um processo licitatório em andamento que prevê um prazo em torno de 30 dias para o início das operações.