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‘Moda é muito mais do que fazer roupas, é um ato político’, afirma Padduan, estilista do Capão Redondo

Por: Barbara Paula

Autodidata, o estilista e artista criativo Padduan Lopes, 22, como prefere ser chamado, nos conta porque se considera a nova promessa da moda periférica brasileira.

Cria do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, ele começou há um ano e sete meses a marca Seven Padduan e já produziu quatro coleções: “Batimento”, “Torre de Babel”, “Submundo”, “ O Vazio -Geneses 7”.

Ele vem construindo a nova coleção, que estreará em novembro. A última delas, “Geneses”, contou com um desfile no Museu das Favelas para um público de mais de 200 pessoas.

O começo foi complicado. Para comprar a primeira máquina de costura, ele se desdobrava em empregos noturnos, criação de conteúdo da moda e trabalhos como modelo.

Padduan produzindo em seu ateliê @Suzana Leite/Agência Mural

Atualmente, para ser um negócio sustentável, a marca presta serviços de styling, ajudando as pessoas a desenvolverem um estilo próprio, cenografia, produções de curta metragem, clipes e outras confecções artísticas.

“Seven, número 7, é meu número da sorte, data do meu nascimento. A construção dessa marca só foi possível, pela minha rede de apoio e persistência, precisei aprender a administrar meu tempo, dar valor a ele e ao meu trabalho”, conta.

Padduan é um nome de origem indigena que significa “aquele que vem”. O designer queria um nome que representasse um novo começo para a trajetória, e escolheu essa denominação depois de uma mensagem espiritual que teve em sonho.

Bastidores da produção de Figurino para longa metragem “Punk da Periferia” @Suzana Leite/Agência Mural

Como observador e amante da moda, ele relata que no Capão Redondo percebe as diferenças em estilos entre jovens e adultos, e vê personalidade na nova geração. “Olho ao redor e vejo cada vez mais jovens e crianças mais seguras de si no modo de vestir.”

O trabalho exigiu que ele aprendesse a como se organizar. Ele começou a contabilizar quantas horas leva para costurar determinada peça, como também organizar orçamentos e variedade de materiais para conseguir de fato manter o negócio e se sustentar.

Um grande apoio foi a contratação de uma assessoria e guardar a renda de vários trabalhos e freelas, que ia executando.

Empreender é isso, dar valor ao seu trabalho, começar a partir do que tem e falar para sua realidade que você não quer mais ela.”

Trabalhando como influenciador, criador de conteúdo de moda e recriando peças, sentiu a necessidade de inventar novas e não apenas reproduzir.

Ele queria que o trabalho trouxesse impacto cultural e construísse uma moda que reafirmasse as próprias origens, ancestralidade, sensualidade e a diversidade da comunidade LGBTQIAPN+, dando maior representatividade as minorias.

Estilista afirma que o trabalho dele traz a ancestralidade e a diversidade @Suzana Leite/Agência Mural

Quando questionado sobre o que é moda, o estilista explica que hoje moda é consumo, é poder de compra, fome por tendências, mas também é comunicação, ferramenta de inclusão e poder empoderar as pessoas.

“Moda é o porquê dessa roupa, é um ato político. Quem vai representar essa roupa? Quem vai vestí-la? Quem são as pessoas interessadas nela? Existem muitos porquês por trás da construção de uma coleção, é muito mais que fazer roupas”, afirma.

‘A moda humaniza corpos como o meu, periféricos, pretos e LGBTQIAPN+

Padduan, estilista

O estilista afirma que as inspirações para produzir são as próprias pessoas, as novelas que assistia na infância, os clipes de músicas, a ancestralidade, o místico, a diversidade de corpos, texturas e o estilo dark, sensual e romântico do rock.

No processo criativo, revela que primeiro vem a inspiração, a ideia e a partir dela começa a pesquisa, e o aprofundamento técnico.

“Já teve peça que finalizei no dia do desfile, ali no camarim, porque mudei de ideia, ou porque queria mudar a proposta para aquele momento. E a Seven, é isso, uma constante em movimento, o que ela é hoje, não será amanhã. Por isso pergunto a pessoa: o que você quer vestir no hoje?”

A primeira coleção dele, “Batimento”, surgiu durante a recuperação de duas paradas cardíacas que teve aos 19 anos de idade. Foi ela que abriu a marca ao mundo, trazendo o que ele descreve como um reencontro com a saúde física, mental e espiritual, como também da autoestima, amor próprio e essa nova chance de viver.

“A moda é criar uma nova sociedade, uma ferramenta que me protege nas ruas, e reafirma a minha existência, independentemente de opiniões, a roupa te traz poder sobre si e quebra padrões que foram impostos.”

Padduan ao lado da máquina de costura que usa para as confecções das roupas @Suzana Leite/Agência Mural

Para ele, idealizar faz parte do trabalho, não somente a confecção em si. Por exemplo, para a segunda coleção, Torre de Babel, o estilista foi buscar na bíblia o que seria paz, e entender como ela é vista pela religião de maior domínio nacional.

Dessa pesquisa, veio a Trilogia criativa: “Torre de Babel”, representando a desordem estrutural; “Submundo”, representando a queda da torre, nós seres humanos tentando sobreviver à realidade, ao mundo e “O Vazio Geneses 7”, representando a saída, a tentativa de voltar a paz prometida.

O estilista comenta que aprendeu a costurar sozinho, a coleção “ Geneses 7” foi a primeira confeccionada toda na máquina.

Torre de Babel foi a coleção mais desafiadora para o artista até agora, apesar de serem apenas 5 composições, ela foi o primeiro desfile da marca. Umas das peças foi um vestido de noiva, foi a que mais deu trabalho e precisou de ajustes. Já a última coleção do estilista teve bastante repercussão.

Essa última coleção contou com uma deusa, que o artista chamou de a mãe das 7 faces, representando os mundos. O artista também compartilhou pequenos spoilers anunciando que na próxima estreia também terá uma deusa, mas que não será uma de tradição nacional.

A seletiva para os modelos da nova coleção contou com mais de 600 inscrições por meio de um vídeo de convocação que viralizou com mais de 17 mil visualizações, mas o estilista deve escolher somente 20 modelos.

Quando questionado sobre ser a nova promessa da moda, o artista responde: “E por que não? Eu sou uma promessa”.

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