“A água acaba sexta umas 22h da noite e só volta segunda de manhã com um jato fraco”, conta a manicure Luzia Oliveira, 65, moradora no Morro da Lua, bairro do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo.A falta de água ali é uma cena que se repete há anos, segundo moradores.
A situação piorou desde a tempestade que atingiu São Paulo em 3 de novembro. Residentes do Jardim São Roque, bairro vizinho, também vivem esse estado.
Com essa falta de água frequente, Luzia passou a estocar água como forma de fugir da escassez. “Deixo garrafas pet cheias, fico abastecendo sempre porque já sei como funciona aqui”, relata.
Cada recipiente tem um uso. “Tem um galão que eu deixo sempre água limpa e tenho três baldes de água que é para a gente tomar banho. As garrafas uso para fazer comida, beber e molhar minhas plantas”, completa.
Apesar das medidas, a falta de água em dias cada vez mais quentes preocupa a manicure e outros moradores da região.
No domingo (12), a cidade atingiu a maior temperatura registrada para o mês de novembro desde o início das atividades do CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) há 19 anos.
Essa situação forçou Luzia e tantos outros moradores que sofreram com a falta de água para improvisar na busca por soluções. “Faço apertado, né? Mas a gente tem que passar. Evitamos sujar as coisas. Compramos água para beber porque estava bem difícil, a água vem e vai embora.”.
A manicure Alinne Gomes, 32, conta que entrou em contato com amigas que moram próximas da região que não sofreram com a falta de abastecimento para pegar para ela e os três filhos.
Maiara Gomes, 25, prima de Alinne, também mora no Morro da Lua, e também usa baldes e garrafas para não sofrer aos fins de semana e em dias de calor.
“Sempre na noite de sexta acaba. Sempre que a água volta, guardamos em baldes e bacias para não ficar sem. Todo fim de semana ficamos sem água, principalmente se está calor”
Maiara Gomes, moradora do Morro da Lua
Um dos problemas com a ventania vista no mês de novembro que atingiu a cidade foram os danos causados às moradias. No Jardim São Roque, a confeiteira Zulmira, 56, conta que a tempestade afetou a caixa d ‘água da casa, o que deixou a família dependente do abastecimento da Sabesp.
“A tampa da caixa d’água voou, quebrou a telha e deixou o teto da sala com infiltração. Daí alguém teve que subir e tentar cobrir, mas agora vamos ter que comprar telhas e outra caixa d’agua. O pobre não tem paz.”
Moradoras também afirmam que entraram em contato com a Sabesp, mas que não conseguiram falar com atendentes.
“Desde o dia em que reclamei (a água) acaba de manhã e volta à noite, ou ao contrário. Mas uma coisa é certa, não tivemos um dia com água o dia todo”, comenta Zulmira.
A confeiteira também conta que durante a semana viu obras da Sabesp acontecendo em uma rua próxima. “Parece que estavam tentando resolver sem resolver nada.”
Manutenção e falhas na rede elétrica
Em resposta a Agência Mural, no dia 11 de novembro a Sabesp alegou que o corte de água no dia 10 no Morro da Lua foi causado por falta de energia elétrica no sistema de bombeamento que atende a região e a manutenção emergencial no sistema Guarapiranga durante o período noturno.
Na mesma resposta, a Sabesp diz que o sistema estaria em fase de normalização gradual e a previsão é de que a água retornasse na madrugada do dia 12, o que não aconteceu.
Segundo Luzia, depois de se unir a outros moradores em fazer reclamações nos portais de atendimento da Sabesp a água retornou, porém, acabou em pouco tempo. ”No domingo (12) veio água às 9h da manhã, quando foi 9h30 já não tinha mais água.”.
Em uma segunda resposta sobre os cortes de água aos fins de semana, a empresa conta que a falta de energia elétrica, aumento de consumo de água e obras de manutenção no Guarapiranga afetaram o abastecimento da região.
Durante o mês de novembro a Agência Mural manteve contato com os moradores do Morro da Lua e Jardim São Roque que confirmaram que a água permaneceu sendo cortada aos fins de semana e pelo menos uma vez entre segunda e sexta.
“A Companhia ressalta que executa obras para expandir seu atendimento e garantir a regularidade do abastecimento na região do Ingá e Morro da Lua, com conclusão prevista para o segundo semestre de 2024”, diz a Sabesp.