Desempregada, mãe de três filhos e moradora em uma casa alugada, no Jardim Brasil, Prefeitura Regional de Vila Maria/Vila Guilherme, há nove meses, Mislene Cabral, 35, aguarda uma vaga em creche para o pequeno Lucas Gabriel, de dois anos. Longe de ser um caso isolado, o drama dessa mãe da zona norte se estende a famílias de toda a cidade.
Levantamento do mês de março, feito pela Secretaria Municipal de Educação, mostra que a fila de espera por vagas em creches e pré-escolas de São Paulo chega a 92 mil crianças, das quais 2.700 são da região de Vila Maria/Vila Guilherme.
O Observatório Cidadão confirma que essa região da cidade está entre as cinco piores no percentual de matrículas efetuadas em relação ao total de inscritos para atendimento em creches.
“Preciso voltar a trabalhar, não posso ficar cuidando dos filhos e só o Marcos sustentando a casa. Meu marido começou no emprego há um mês e está sobrecarregado”, diz Mislene, inconformada com a situação. Marcos da Silva, 33, trabalha como balconista em uma farmácia.
Segundo ela, o casal não tem como pagar uma escola particular ou mesmo uma pessoa para cuidar do filho.
“A creche é um lugar para o desenvolvimento da criança. Lá, ela aprende a se comunicar e começa a enxergar o mundinho dela. Antes de ir pra escola, o Marco Antonio, meu filho mais velho, era retraído e com a creche ele se soltou, ficou mais comunicativo. Sem trabalhar, minha situação também é muito triste, pois as crianças pedem coisas e eu não posso dar”, lamenta.
Sem ter qualquer previsão de atendimento pela prefeitura, Mislene procurou a Defensoria Pública do Estado de São Paulo para entrar com ação judicial. “Eu tive um primeiro atendimento e agora vou levar os documentos. Eles disseram que podem tentar adiantar o processo [de obtenção da vaga], mas que não é garantido”, diz.
Sobre a procura de famílias interessadas em pleitear a vaga por via judicial, o órgão informou ao 32xSP que 140 casos são agendados todos os dias e que o tempo entre o ajuizamento da demanda e a concessão da medida liminar varia de um a três meses.
A Defensoria Pública também destacou que, em geral, a decisão judicial é favorável ao pedido de vaga em creches, mas a grande questão é o tempo de cumprimento. Os pais interessados podem agendar o atendimento pelo telefone 0800-7734340.
Questionada sobre a gravidade do problema da falta de vagas, a Secretaria Municipal de Educação (SME) justificou que “a atual administração está trabalhando, neste momento, para zerar em um ano o déficit de vagas deixado pela gestão anterior”.
A SME também confirmou que a família de Lucas Gabriel fez o cadastro em 18/08/2016 e atualmente aguarda vaga em 18 Centros de Educação Infantil localizados a menos de 2 mil metros do endereço residencial. “A matrícula na Educação Infantil obedece à ordem de cadastramento, conforme disponibilidade de vagas nas unidades, na faixa etária da criança”, esclareceu.
Foto principal: Sergio Amaral/MDS