É incomum começar uma reportagem da Agência Mural na Avenida Paulista, mas são em pontos centrais da cidade onde é possível encontrar bicicletas para alugar. E foi em um domingo em que as primas Carol e Marilene, de Guarulhos, na Grande São Paulo, vieram passear e usaram bikes compartilhadas.
“A pessoa tem que se deslocar de Guarulhos para vir para São Paulo para ter um serviço que lá não tem e poderia ter, né?”, comenta a assistente administrativa Carolina Oliveira de Matos, 28.
Uma das principais ações do tipo em São Paulo é o Bike Itaú. São 2.700 bicicletas compartilhadas em 260 estações restritas à região entre a Sé, no centro da cidade de São Paulo, e os bairros de Santana, Brooklin e Butantã, de acordo com informações disponíveis no site do banco. Com isso, moradores das periferias e de cidades da região metropolitana têm acesso ao serviço apenas nas regiões centrais da capital.
Natural do bairro de Cumbica, em Guarulhos, Carol mora em São Paulo e usa as bikes para ir do ponto de ônibus ao escritório onde trabalha na Faria Lima. Mesmo morando na capital, ela enxerga um potencial de crescimento do serviço para outras regiões.
“Em Guarulhos, a gente tem uma dificuldade no transporte público que é muito lotado, então facilitaria de repente um deslocamento não tão longo e também é uma opção de saúde”, afirma Carol.
Há na cidade outros serviços de bicicletas compartilhadas como o CicloSampa, com apenas 20 estações. Outras iniciativas de aluguel de bikes também já atuaram na cidade, como a Grin e a Yellow.
Esta última disponibilizou magrelas em bairros periféricos da zona sul, em 2019, mas o serviço foi encerrado em 2020 após a venda da Grow, empresa dona da Yellow, para o grupo de investimentos Mountain Nazca.
Além de incentivar a mobilidade ativa – a locomoção sem o uso de motores -, as bikes compartilhadas também são usadas para trabalho. Desde o começo do ano o entregador, Isac da Silva Cabral, 18, usa as magrelas para fazer entregas, mas apenas no centro.
“A gente tem que se deslocar de um lugar para o outro para pegar [as bicicletas] e trabalhar aqui. Agora se tivesse lá onde eu moro, seria muito mais fácil fazer [as entregas] lá”, argumenta.
Isac mora no bairro de Vargem Grande, na zona sul de São Paulo, e demora duas horas de ônibus e trem para chegar ao centro da cidade. O entregador vê uma injustiça na distribuição do serviço pela cidade e justifica que as pessoas das periferias também usam o equipamento.
“Eles colocam mais aqui porque o centro é mais movimentado. Onde moro, todo mundo usa a bicicleta, só que a própria né?”, rebate Isac.
Sem o serviço nas periferias e em outras cidades, a opção é comprar uma ou recorrer ao aluguel de bikes de comerciantes locais.
Desde 2020, Célio Roberto Alves da Silva, 44, conhecido como Tel, aluga bicicletas no Parque Linear Tiquatira, na Penha, na zona leste da capital.
“Estudando a região identifiquei essa necessidade do pessoal aqui por não ter bicicletas para alugar. Então tive essa ideia de trazer o aluguel de bike para essa parte do Tiquatira”, explica ele , morador da Ponte Rasa, também na zona leste.
Hoje Tel tem 30 veículos do tipo para alugar nos domingos e feriados das 8h às 17h por R$ 10 a hora no Parque Linear Tiquatira. Também há o aluguel de bikes para entregadores e para eventos. É possível acompanhar o trabalho do Tel pelo Instagram.
Aos domingos o Parque Linear Tiquatira recebe uma ciclofaixa de lazer. Com mais espaço para as bicicletas, o conferente de alimentos Max Milan Domingo Silva, 31, morador na Chácaras Cruzeiro do Sul, traz o pequeno Guilherme, 3, todos os domingos para andar de bike e se tornou um cliente de Tel.
“Ele [Tel] tem total preocupação. Ando com a cadeirinha com meu filho, ele sempre vê se tá totalmente presa. A gente já está aqui porque é muito agradável, faz com que a gente não procure outros lugares”, justifica Max.
Questionada, a Tembici, empresa responsável por fornecer as bicicletas do Itaú, argumenta que o oferecimento do serviço leva em conta “a concentração de empregos e atividades que contribuem para a motivação do deslocamento, e por sua condição centralizada, acaba definindo a área de cobertura dos sistemas de bicicletas compartilhadas”.
Também cita que “a infraestrutura cicloviária é essencial para garantir segurança e conforto aos usuários”.