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Favela On chega em Sussuarana para conectar moradores à internet

Por: Joyce Melo

A jornalista Brenda Cruz mora próximo ao ponto de Wi-Fi instalado pelo Favela On em Sussuarana @Joyce Melo/Agência Mural

“Agora estou on de verdade porque chega internet lá no meu quarto, e a zorra”, celebra a jornalista Brenda Cruz, 23, moradora de Sussuarana, na periferia de Salvador, onde chegou o primeiro ponto de acesso à internet gratuito do projeto Favela On no bairro, no último dia 17 de junho.

A iniciativa é da Cufa (Central Única das Favelas) e teve como ponto beneficiário a sede da associação Casa do Povo, localizada na rua Abelardo Barbosa, ao lado da casa de Brenda, que reclama ter sofrido por anos com as dificuldades por conta da qualidade de conexão na região.

“Depois de quase dois anos de uma pandemia, que levou muitas vidas daqui da quebrada, do país e do mundo, o processo para aumentar a virtualidade de muitas das nossas atividades cotidianas é inegável. A gente não retrocede mais”, diz Brenda.

O ponto de acesso gratuito no local faz parte do projeto Mães da Favela On, realizado pelas parcerias entre a Cufa e as empresas Comunidade Door e Alô Social, lançado em setembro do ano passado.

De acordo com o coordenador da Cufa Sussuarana, Ronald Castro, 25, o objetivo é democratizar o acesso e dar ferramentas para que os moradores do bairro também retomem suas atividades superando o isolamento digital.

“É o maior projeto de conectividade em favelas já feito no Brasil com o objetivo de conectar dois milhões de pessoas até julho de 2021, e nós, da Grande Sussuarana, fomos uma das 150 grandes favelas do Brasil a serem contempladas por esse projeto”, conta Ronald.

Val do Povo, presidente da associação Casa do Povo @Joyce Melo/Agência Mural

Para acessar, basta ter um aparelho que permita conexão Wi-Fi e esteja dentro do raio de alcance próximo à Casa do Povo. A velocidade é de 10mb/20mb por usuário, uma estratégia utilizada para que não tenha oscilação quando as pessoas estiverem conectadas.

Brenda enumera os públicos que podem se beneficiar com o projeto. “Essa iniciativa é fundamental para quem está em home office e não tem espaço de trabalho, para alunos do ensino médio que estão prestes a fazer Enem e outros vestibulares, para quem precisa resolver um problema na rua e comerciantes que têm ou que querem utilizar máquinas de venda via cartão. Vai ser um adianto pra favela toda”, afirmou.

O presidente da associação, Val do Povo, 46, afirmou que já percebia a importância da conectividade quando instalou, há quatro anos atrás, pontos de internet em Sussuarana, não mantidos por limitações financeiras.

“Meu desejo é impactar o máximo de pessoas possíveis. As pessoas de baixa renda, muitas vezes, não tem uma conexão boa e nem tem acesso a internet, então o objetivo é facilitar o dia a dia dessas pessoas”, diz Val.

O coordenador da Cufa Sussuarana informou ainda que além da Sussuarana Velha, já estão sendo instalados pontos na Nova Sussuarana, Novo Horizonte, e Parque Jocélia II, como forma de atender toda extensão do bairro.

Para Adenilton Correia, 34, analista administrativo e voluntário da Casa do Povo, o novo ponto de acesso gratuito significa inclusão para a comunidade

“Pra mim, ter internet grátis em nosso bairro abre um leque de oportunidades, que vão além da inclusão. Parece mentira, mas boa parte não tem acesso à internet, já que o orçamento não permite”, avalia Adenilton, conhecido como Deni.

Comprovando a observação de Deni, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua e números de 2019, do IBGE, 40 milhões de brasileiros não têm acesso à Internet.

O comprometimento financeiro também é um fator determinante. A pesquisa aponta que a renda média dos domicílios com utilização da internet (R$ 1.527) era o dobro da renda dos que não utilizavam a rede (R$ 728).

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Para driblar as dificuldades com sua conexão pessoal, mesmo antes do Favela On, Brenda já tinha pedido a senha do WI-FI da associação a Val do Povo e utilizava quando precisava. Mas, ainda sim, tanto ela, quanto Deni sentiram os impactos de uma internet ruim na vida profissional, pessoal e acadêmica, especialmente, neste período pandêmico.

No início da pandemia, em 2020, Deni não conseguiu participar de um processo seletivo on-line e Brenda perdeu algumas reuniões de acompanhamento do seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).

“Essa situação me trouxe total inquietação por um tempo. Entendi que a facilidade ao acesso é indispensável nos nossos dias. Vivemos em tempos de imediatismo e o acesso rápido à informação transforma nossa rotina”, pontuou o analista administrativo.

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