Fundado em 2004, o Futebol Clube São Bernardo (Tigre) é o principal time da cidade do ABC paulista. Inclusive, Orlando Morando (PSDB), atual prefeito do município, foi vice-presidente do clube no início da criação. Em julho, o Tigre e a prefeitura entraram em atrito por causa de uma ação do Ministério Público. O time não pode mais treinar nas dependências do estádio Primeiro de Maio. Para jogar, é preciso pagar uma taxa de R$ 3 mil, cobrança para utilizar estádios municipais.
A equipe do Tigre reclama da imposição e afirma ter feito melhorias com recursos próprios no estádio. O clube afirma que montou toda a estruturação do local, como a construção de novas arquibancadas, alojamentos, lavanderia, refeitório, departamento médico e academia. Além disso, fazia a manutenção do espaço, gramado, segurança e limpeza.
Por causa do fechamento, o time precisou retirar equipamentos, demitir os funcionários e alugar uma casa no bairro Baeta Neves para alojar jovens de 15 a 20 anos que disputam os campeonatos Sub 17 e 20. Os aparelhos para exercícios físicos foram levados para o escritório do presidente do time, que improvisou a sala para atender os atletas na parte de fisioterapia.
Prestes a completar 15 anos, o Futebol Clube São Bernardo (Tigre) conquistou títulos do Campeonato Paulista da Série A2, da Copa Paulista em 2013, disputou duas Copas do Brasil e ficou seis anos na Série A1, primeira divisão do futebol de São Paulo. Nas redes sociais, possui mais de 100 mil seguidores.
Segundo o presidente do Tigre, Edinho Montemor, 63, o clube recebeu uma notificação ano passado para desocupar o espaço. A equipe pediu prorrogação do prazo, mas não houve acordo.
Há interesse do time em participar da licitação de concessão, que ainda não tem data. “Vínhamos suportando gastos no estádio que agora quem vai bancar? Vai ficar largado, e será que a prefeitura irá arcar?”, questiona Montemor.
O Tigre tem folha de pagamento de R$ 280 mil por mês e recebe uma verba da FPF (Federação Paulista de Futebol) de R$ 800 mil por ano. O valor ajuda em parte das despesas que somam R$ 1,8 milhão. O clube patrocínios, parcerias e algumas vendas de atletas completam o valor.
Para o presidente do Tigre, se a proibição para utilizar o estádio for mantida, o time terá que mudar de cidade.
ESTÁDIO
O estádio Primeiro de Maio, localizado no bairro Vila Euclides, foi construído em novembro de 1967. O local foi palco de manifestações e greves na década de 1980 com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na época era metalúrgico. Após algumas reformas e com o crescimento do Tigre, recebeu disputas de times da Série A.
O momento de maior ascensão da equipe foi durante a época em que a prefeitura era administrada pelo PT. Apesar de ter feito parte da equipe, Morando se distanciou do clube e venceu em 2016 com discurso anti-PT. No entanto, a prefeitura nega que a questão seja política e indica que o Ministério Público exigiu que tomassem as medidas.
Numa situação pouco parecida está o time Esporte Clube São Bernardo (Cachorrão), que com 92 anos é considerado o clube mais antigo do ABC. O Cachorrão faz parte da Série A3 e tem feito os jogos aos sábados no estádio Primeiro de Maio. A cada competição paga o valor de R$ 3 mil por partida, a média é de R$ 15 mil em um campeonato. Como não têm clube fixo, os atletas treinam no estádio do Baetão e alugaram duas casas para abrigar os jogadores das categorias 15 e sub 20.
Para o vice-presidente do Cachorrão Gigio Sareto, 48, o estádio tem custo alto de manutenção e deveria fazer uma concessão ou a prefeitura administrar as dependências. “Não tem como um time ficar no espaço público sem dar recurso”, indaga.
O Cachorrão tem uma parceria com o time Monte Azul e divide a folha de pagamento no valor de R$ 40 mil. Em jogos do campeonato Estadual recebem da FPF uma verba de R$ 300 mil, mas também contam com apoio de parceiros e patrocinadores.
PREFEITURA
Em nota, a Prefeitura de São Bernardo afirma que o São Bernardo FC foi notificado em dezembro de 2018 sobre o fim da concessão do estádio Primeiro de Maio e que teria o prazo até o dia 4 de maio de 2019 para desocupar o local. O clube confirmou o recebimento da notificação.
O Ministério Público questionou a Prefeitura sobre a utilização do estádio municipal, administrado com verba pública, por um clube particular. Assim, o EC São Bernardo segue retirando os seus pertences das localidades internas do Primeiro de Maio.
Ambos os clubes que levam o nome da cidade são particulares e, por isso, precisam pagar para uso de patrimônio público. A prefeitura diz que busca um novo modelo de concessão para o estádio “visando o benefício de toda população”.
O Ministério Público informou que há suspeita de diversas irregularidades no convênio firmado entre a municipalidade e a entidade desportiva São Bernardo Futebol Clube. Entre elas, ausência de recolhimento de tributos sobre serviços prestados em partidas de futebol.
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