Famosos por promoverem o acesso à arte e a literatura na periferia, os saraus da zona sul de São Paulo são considerados referência quando o assunto é impulsionar sonhos.
É o que conta José Marques Sarmento, 62, educador e escritor do Campo Limpo, autor da trilogia “Paraisópolis – Caminhos de Vida e Morte”, “Bixiga – Um Cortiço dos Infernos” e “Ângela: um jardim no vermelho”.
“A Felizs (Feira Literária da Zona Sul) me deu coragem para editar meus livros”, conta Zé Sarmento, como é conhecido por todos.
Sarmento participou da quinta edição da Felizs, evento anualmente organizado pelo Sarau do Binho, e que tem se consolidado como um dos principais eventos culturais da capital.
A Agência Mural acompanhou o evento no final de setembro, que teve atividades como contação de histórias, encontros com autores periféricos, exposições, intervenções poéticas, apresentações de dança e teatro.
Neste ano, foram homenageados duas personalidades conhecidas nos saraus: o escritor e dramaturgo Marco Pezão, autor do livro “Nóis é Ponte e Atravessa Qualquer Rio” e curador do sarau A Plenos Pulmões; e a escritora e atriz Tula Pilar, que morreu em abril deste ano, autora dos livros “Palavras Inacadêmicas” e “Sensualidade de fino trato”, que ganhou a obra póstuma “Pilar futuro presente: uma antologia para Tula”, lançada durante a Felizs.
“O primeiro livro da Tula era artesanal e poucas pessoas tinham. Como ela tinha muita coisa publicada em outras antologias e eu falei ‘vamos fazer um livro só dela’. Foi também uma forma de arrecadar uma grana para os filhos”, conta Suzi Soares, 53, produtora e articuladora do Sarau do Binho.
Durante a mostra, o público encontrou publicações de diversos gêneros como romances inspirados em histórias reais e até terror. Todos produzidos por autores que moram nos bairros das periferias de São Paulo.
São escritores que dividem suas vidas entre o trabalho formal para sustentar a família e a paixão pela literatura, como é o caso da publicitária e escritora Ivone Lopes de Lana, 36, moradora do Jardim das Rosas.
“Quando eu comecei a escrever meu primeiro livro eu nem sabia o que era literatura marginal e que existiam outras pessoas fazendo a mesma coisa”, conta Ivone, autora do romance “Jardim das Rosas: Diário de um Mano” e das poesias do livro “Cheiro de Mato e Capim Limão”.