Todo mês de junho o bairro da Penha, na zona leste de São Paulo, é ocupado por turistas de várias regiões do país. Os visitantes vão ao local para acompanhar a festa da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que chega à sua 21ª edição em 2023.
Neste ano, a programação contará com um show do rapper Rincon Sapiência, além de apresentações teatrais e atividades religiosas que se estenderão até o dia 2 de julho.
A tradicional “coroação dos reis”, cerimônia que escolhe duas pessoas para representar a comunidade, ocorrerá no próximo domingo, dia 18 de junho.
O objetivo do evento é divulgar a importância do templo religioso, considerado patrimônio arquitetônico e histórico de São Paulo.
“Nós temos que preservar o nome da igreja”, conta Selma Casemiro, 57, moradora da Penha e uma das organizadoras da festa.
O local é símbolo vivo do que foi a luta da população negra na cidade no século 19. Construída em 1802, durante o período escravocrata do Brasil, a Igreja do Rosário dos Homens Pretos era frequentada por pessoas escravizadas que eram proibidas de acessar outras igrejas.
Ela foi erguida pela Irmandade Rosário dos Homens Pretos, um grupo que promovia a fé católica entre a população negra. O produtor cultural e membro do Movimento Cultural Penha, Julio Marcelino, 58, conta como a irmandade surgiu.
“Ela surge no primeiro momento para dar direito ao enterro digno aos escravos que viessem a falecer”, explica ele. Quem fazia parte da irmandade recebia o direito de ser enterrado na igreja, além do velório.
Com o passar dos anos, surgiu uma nova irmandade vinculada à igreja, a Irmandade de São Benedito. Morador da Penha desde criança, o aposentado Carlos Casemiro, 62, conta que sua avó foi membro dessa entidade e zeladora da igreja. Atualmente, ele é um dos organizadores da festa.
“[É uma] satisfação de estar resgatando uma coisa que teve a participação dos meus ancestrais”, ressalta.
O evento é organizado pela Comunidade do Rosário, que reúne moradores do bairro e outros admiradores da festa, incluindo pesquisadores, integrantes de grupos artísticos e membros de pastorais afro.
A programação convida o público a conhecer culturas ligadas à população negra, como o Congado Mineiro e o Jongo, destacando como a herança africana se manifesta em diferentes áreas de nossa vida, como a cozinha e a religião.
Os católicos que participarem do evento, por exemplo, poderão vivenciar as chamadas missas afroinculturadas, nas quais os tambores desempenham um papel fundamental nos cânticos.
A celebração teve início no dia 4 de junho, com a colocação de um mastro no Largo do Rosário, local onde a igreja está situada, e será retirado somente no último dia do evento.
Para a historiadora Patrícia Freire, 39, a Comunidade do Rosário ajuda a recuperar uma tradição interrompida, já que celebrações como essa eram comuns no passado.
“A gente fala que nós retomamos a festa, que ela estava adormecida”
Patrícia Freire, historiadora
Solange Ferreira, 63, também compartilha dessa opinião. Eleita “rainha” em uma edição anterior do evento, ela afirmaenfatiza que as atividades da programação valorizam a história negra. “Nós somos descendentes de reis e rainhas”, lembra a moradora da Penha.
A expectativa dos organizadores é que 3.000 pessoas participem no dia 18 de junho, quando os próximos rei e rainha da festa serão coroados.
Confira aqui a programação completa ou fique ligado nas redes sociais da Comunidade do Rosário da Penha.
Endereço – Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos : Rua Arnaldo Vallardi Portilho – Penha
Quando: Até 2 de julho de 2023
Preço: Gratuito