Não é de hoje que a Ilha do Bororé, localizada no Grajaú, zona sul de São Paulo, é ponto atrativo para quem vem de fora da região e o avanço na mobilidade tem facilitado esse interesse.Porém, a fila para embarque na balsa para atravessar a represa Billings ainda incomoda quem vive pela região.
Moradores ficam de 15 a 30 minutos esperando em dias úteis. Em horário de pico, esse tempo se estende em até uma hora ou mais.
Aos fins de semana, a paciência tem que ser ainda maior, porque a fila cresce consideravelmente por causa da movimentação dos turistas e a espera pode demorar até 2 horas.
“Por muito tempo nós pedimos por uma balsa maior que comporte cerca de 30 a 40 carros”, afirma Anatália Jesus da Rocha Ciliano, 57, presidente da Amib (Associação dos Moradores da Ilha do Bororé).
As balsas atualmente são operadas pela EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), que diz que fará melhoras para o próximo ano, segundo Anatália. “A EMAE prometeu que, até o final de 2023, irá nos disponibilizar uma balsa maior. Ela terá uma faixa exclusiva para carros, motos e preferenciais. Isso é o que eles dizem”.
A situação teve melhoras recentes no sistema que é composto por três balsas. Até 2017, a primeira balsa, conhecida como Bororé, comportava apenas 10 carros – sete quando o ônibus da única linha da região também embarcava.
Em outubro de 2018, o governo de São Paulo fez as trocas e aumentou a capacidade. Agora ela comporta 22 carros – 19 com o ônibus – e leva até três minutos para atravessar a represa Billings.
Wendersson Ferreira, 29, saiu do Jardim Mirna, também no Grajaú, para morar na Ilha do Bororé com a noiva Samara Freitas. Ele avalia positivamente o transporte e diz que os horários do ônibus costumam ser pontuais, mas faz ressalvas.
“Você tem que ter o horário regrado porque, se atrasar um minuto, perde o ônibus e até passar outro você já perdeu o seu horário”
Wendersson Ferreira, 29, morador da Ilha
Ferreira trabalha como segurança do Hospital Geral do Grajaú e usa carro próprio. Por causa do horário, ele consegue fugir do horário de pico. “Enquanto estou saindo da ilha, tem muita gente voltando e eu vejo como a fila é grande. Uma balsa maior não resolveria totalmente o problema, mas adiantaria muito o tempo de espera dos moradores”, comenta.
Enquanto a balsa maior não chega, há outra opção para sair da ilha para quem dirige. A avenida Paulo Guilguer Reimberg, mais conhecida como estrada do Poeirinha, como já diz o próprio nome, é um caminho alternativo composto parcialmente por terra que faz ligação com o bairro Varginha.
São em torno de 11 quilômetros de estrada. Apesar da distância, por ali há uma paisagem admirável que faz valer a pena a viagem.
Outras opções já foram cogitadas, mas descartadas. Anatália explica que a construção de uma ponte ou estrada de terra já foi um assunto pensado pelo poder público.
Ela se refere ao possível desmatamento da região em caso de aumento da circulação da população pela ilha, que é uma área de preservação ambiental protegida por lei.
O Bororé faz parte do Polo de Ecoturismo de São Paulo, junto com os distritos vizinhos Parelheiros e Marsilac, e não pode sofrer intervenções sem que haja uma autorização vigente. O fato do local ser um patrimônio cultural também é um dos fatores que favorece os cuidados.
“Uma ponte facilitaria muito o acesso à região e, consequentemente, a comercialização, mas não é isso que eles querem”, afirma a líder comunitária. “Qualquer plano de ação que culmine no aumento da população acaba sendo brecado. Tanto o poder público quanto os moradores não gostam da ideia”, diz.