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Fim do serviço 710 da CPTM pode consumir até 2 dias por ano dos passageiros

Por: Júllia Zequim e Matheus Leitão

Marcado para 28 de agosto, o fim do serviço 710, operação que liga Rio Grande da Serra a Jundiaí, causa temor em moradores do ABC Paulista e, em especial, na região noroeste de São Paulo. Com a necessidade de uma nova baldeação para chegar ao centro, a estimativa é de que passageiros percam mais de 2 dias durante um ano.

Inaugurado em 4 de maio de 2021, o serviço 710 beneficia cerca de 165 mil passageiros por dia, segundo estimativa da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) naquele ano.

Antes da criação, quem utilizava as linhas 7–Rubi, que sai de Jundiaí e passa por bairros periféricos da capital como Perus, Pirituba e Jaraguá, e 10–Turquesa, cujo trajeto contempla cidades como Mauá, Santo André e @São Caetano do Sul@, precisava fazer baldeação nas estações Brás e Luz, o que aumentava o tempo de viagem.

Atualmente, de acordo com a CPTM, vão gastar em média 6 minutos a mais com a baldeação entre as duas linhas.

TEMPO PERDIDO

Com o gasto de 6 minutos em cada viagem, os passageiros tendem a gastar 12 minutos por dia.

Levando em conta a rotina de quem trabalha ser de 20 dias por mês, são 240 minutos mensais, ou 2880 minutos por ano – equivalente a 2 dias.

O tempo, inclusive, pode ser maior, pois depende da espera da nova conexão. “Afeta a minha rotina, pois tenho que gastar mais tempo fazendo baldeação. Atualmente, eu faço três, com a mudança, isso aumenta para quatro, o que acarreta em mais tempo no transporte público”, afirma o assistente de importação Pedro Gabriel Souza Cruz, 20, morador de Pirituba, na região noroeste.

Passageiros na estação Santo André. Atualmente, moradores do ABC conseguem ir até Jundiaí sem baldeação @Jullia Zequim/Agência Mural

Para ele, o caminho de Pirituba até a avenida Paulista, local onde trabalha, dura atualmente uma hora. Com outros meios de transporte, o tempo passa para duas horas.

Assim como os usuários que vêm da zona norte, moradores do Grande ABC também demonstram receio em relação ao tempo de deslocamento. “A mudança dificulta o acesso no dia a dia, muda a rotina, como a necessidade de acordar mais cedo, deixando meu trajeto mais longo”, afirma a estagiária de comunicação Ana Julia Chagas, 21, moradora de São Caetano.

O anúncio feito em janeiro previa situação ainda mais complicada. Inicialmente, a previsão era de que a linha 7–Rubi operasse apenas entre Jundiaí e Palmeiras-Barra Funda, enquanto a linha 10–Turquesa seguiria de Rio Grande da Serra até a Luz, apenas, cortando a conexão direta entre as duas regiões.

No entanto, a concessionária decidiu também que a operação da Linha 10 seguirá para a Barra Funda.

Privatização

Uma das justificativas apresentadas pela CPTM tem sido que o encerramento será feito por conta da expansão na linha 11-Coral, vinda de Mogi das Cruzes, e que também seguirá até a Barra Funda, onde já circulam três linhas de trem e uma de metrô.

Além disso, em 2024, por meio de um leilão estadual, a Linha 7-Rubi foi concedida à iniciativa privada, juntando-se a outras linhas como 8-Diamante, 9-Esmeralda, 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade.

Trem da linha 7-rubi hoje ajuda moradores a chegarem no centro de SP @Léu Britto/Agência Mural

Moradores também temem a piora no serviço com a privatização. Alguns problemas enfrentados nas Linhas 8 e 9, administradas pela ViaMobilidade, é um exemplo disso. Segundo levantamento do G1, as duas linhas apresentaram quase o dobro de falhas em comparação às linhas pertencentes a CPTM (10-Turquesa, 11-Coral e 12-Safira).

A linha 9-Esmeralda lidera o número de falhas, no ano de 2023 foram 68, em 2024, 58 e sete em 2025. “Existem outras linhas que foram privatizadas e que não estão funcionando bem. É repetir um erro que já está acontecendo”, afirma a atriz Caroline Silveira, 20, moradora de Mauá, onde há uma estação da linha 10.

“Não vejo ninguém que vai ser beneficiado nessa história, senão a instituição que está ganhando dinheiro com a privatização.”, conta Caroline.

Anúncio inicial falava em parar na estação Luz, mas houve mudança para linhas se encontrarem na Barra Funda @Leú Britto/Agência Mural

Ela relata também que antes da união das linhas, o intervalo entre os trens chegavam a 40 minutos aos fins de semana. Com a privatização da linha 7-Rubi, ela se preocupa com a aglomeração nas plataformas e os problemas que podem surgir.

Para Caroline, o governo do estado de São Paulo desconsidera que nem todas as pessoas moram no centro e que dependem de um transporte eficiente para sobreviver. “Muita gente sai daqui pra trabalhar em São Paulo e volta pro ABC só pra dormir, isso nunca é levado em consideração quando a gente pensa em transporte público.”

CPTM

Em nota, a CPTM não informa os motivos do fim do serviço 710 e nem os possíveis impactos na população. A companhia aponta que, “as mudanças decorreram após a realização de estudos técnicos”, mas sem informar quais estudos.

A empresa ressalta que antes do Serviço 710, a transferência era realizada na estação Brás e em plataformas distintas, o que aumentava ainda mais o tempo.

“O passageiro que for seguir sentido Jundiaí ou Rio Grande da Serra não terá a necessidade de utilização de escadas e mezanino, não proporcionando interferência significativa no fluxo interno da estação, além de diminuir o impacto no tempo de viagem”, afirma.

Diz que tem informado à população por meio de comunicado à imprensa, posts nas redes sociais, atuação das equipes para auxiliar os passageiros nos deslocamentos, além de informações por avisos sonoros, painéis eletrônicos e sinalização no local.

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