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Agência de Jornalismo das periferias

Justiça social, fotográfica e periférica para quem?

Marlon Marinho

Registrar memórias e publicar histórias da periferia é urgente para evitar apagamento no mercado de arte

Por: Léu Britto

Crônica

Publicado em 23.05.2025 | 12:52 | Alterado em 26.05.2025 | 17:08

Tempo de leitura: 3 min(s)

Entre debates acalorados sobre o avanço de inteligências artificiais e seu possível impacto no mercado da arte, uma dúvida: será que a vivência e a criatividade ainda terão espaço na fotografia periférica? Esta inquietação me acompanhou nos dias que antecederam o último 10 de maio, quando eu e mais três entusiastas da fotografia promovemos mais uma edição do FotoBeco.

No evento, expusemos fotos das periferias em lonas instaladas nos becos da minha quebrada, a Favela Monte Azul, na zona sul de São Paulo. Mas fomos além: lançando o zine “BECO – Volume 1”, uma parceria entre a editora Selo Vertigem e a Galeria Sérgio Silva que reuniu 30 imagens de gente que crê na importância de nossa missão na fotografia, resistindo às dificuldades e às “facilidades” do mercado, na sua estrutura hierárquica comercial.

Parte dos fotógrafos selecionados na visita ao beco, após a chuva @Marlon Marinho

A fotografia pode não ser vista como algo para gente da periferia, mas persistimos em produzir e divulgar. A força dessa afirmação ressoa na realidade do mercado fotográfico brasileiro que, muitas vezes, ao analisar um portfólio parece considerar mais a origem do fotógrafo e sua trajetória acadêmica do que o trabalho em si.

Esta avaliação considera a representatividade, a quebra de estereótipos e a potência do olhar periférico na fotografia? A reflexão ecoa nas palavras de Maria Luiza Meneses, minha mana e curadora de arte, que escreve o prefácio do zine. “São fotografias que ampliam os modos de perceber as periferias paulistas, igualmente importantes para a transformação do imaginário coletivo”.

Visitantes conferem fotos das periferias impressas em lonas @Marlon Marinho

Essa constatação, vinda de uma profissional negra, especializada e curadora da atual exposição de “Luiz Braga – Arquipélago Imaginário”, no IMS, reforça como a fotografia periférica é uma ferramenta de mudança na percepção das periferias e dos mercados da arte comercial e institucional.

A cada edição do FotoBeco, a convicção se fortalece: expomos em lonas de 4×2 metros o que genuinamente registramos, pois a representatividade e a luta contra os estereótipos negativos dos nossos territórios – favelas, periferias e quebradas – ainda são indiferentes ao mercado.

Pai e filho contemplam registros das periferias de São Paulo em Beco da Favela Monte Azul @Marlon Marinho

Mesmo com chuva, mais de 50 pessoas prestigiaram os trabalhos arduamente selecionados. Foram 200 inscrições recebidas, material para produzir zines e lonas durante todo o ano. “A quantidade, as perspectivas e a diversidade de imagens recebidas são indícios da dimensão que as quebradas ocupam no interesse fotográfico contemporâneo”, concluiu Maria.

Esta certeza reverberava em mim enquanto caminhava em direção ao beco, para oficializar os lançamentos do “Beco – Volume 1” – um zine que pulsa com a força do nosso olhar – e das lonas com fotos. E eu não estava sozinho.

Fotos retratam prática de esportes, comércios e trabalha nos periferias @Marlon Marinho

“Sou de Taboão da Serra e lembro direitinho de quando tudo era só vontade: vontade de fotografar. Eu quase não conhecia a profissão, não tinha referência de gente da quebrada que tinha conseguido chegar lá. Parecia algo distante demais”, disse Tuane Fernandes, outra jurada da seleção, dando voz a um sentimento coletivo.

Na atmosfera vibrante do lançamento, cada um e cada uma buscava eternizar o momento, trocando autógrafos nos zines recém-lançados. As assinaturas rabiscadas nas capas e contracapas eram, na verdade, uma celebração da nossa vivência, agora traduzida nas fotografias, no papel e nas lonas expostas. Entre brindes, sorrisos e partilhas, reforçamos uma certeza: ainda vale a pena eternizar as memórias das periferias.

Logo menos, zine BECO – Volume 2, nas pistas! Até lá, vem conferir o FotoBeco!

Exposição coletiva do FotoBeco

Quando: até 28/06

Endereço: Viela do escadão da rua Inácio Dias de Oliveira, 19 – Jardim Monte Azul

Preço: Gratuito

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Léu Britto

Fotojornalista e videomaker. Transitar pelos becos e vielas do mundo amando cada um do seu jeito e maneira de viver. Cofundador do DiCampana Foto Coletivo. Correspondente do Jardim Monte Azul desde 2010.

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