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Fotógrafo busca quebrar preconceitos sobre favela em São Bernardo

Bicletas são meio de transporte muito utilizado pelos moradores da Vila São Pedro

Por: Gabriel Negri

Já teve a impressão que as periferias são muito retratadas nos jornais, novelas e filmes apenas pelos problemas e carências? O fotógrafo André Luiz Coelho, 27, já e para mudar essa percepção estigmatizada decidiu colocar suas lentes e seu olhar para trabalhar. Pela sua câmera, os moradores da Vila São Pedro, maior favela de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, começaram a ter sua imagem ressignificada de estereótipos.

“Eu curtia muito a ideia de fazer fotografia de rua, o problema era quando eu olhava para o Brasil e ficava incomodado porque esse conteúdo era só direcionado à Avenida Paulista ou ao centro de São Paulo. Parecia que não existia outros lugares aqui”, pontua André, chamado pelos amigos de “Steve”.

Moradores transitam pela quebrada o tempo todo @André Luiz

Por isso, ele decidiu iniciar seu projeto autoral de fotos no seu bairro, a Vila São Pedro, retratando uma paisagem conhecida nas quebradas da Grande São Paulo, com casas autoconstruídas, ruas estreitas, vielas e pequenos comércios. 

Outro objetivo central do seu trabalho é elevar a autoestima do pessoal da quebrada que fotografa na rua. “Quando eu comecei a atrair views, recebi comentários do tipo: ‘nossa, você deixou o lugar que eu moro bonito’ ou ‘nem parece que as pessoas têm medo daqui’. Isso me mostra o quão a espetacularização da violência afeta demais a forma que as pessoas veem as próprias quebradas”, diz.

Vila São Pedro também brilha de noite pelas lentes de André Luiz @André Luiz

Periferia nas redes

Natural de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, André veio com a mãe para São Bernardo ainda pequeno e passou a viver na Vila São Pedro, fundada há 36 anos e que hoje abriga pelo menos 65 mil moradores.

Jornalista de formação, ganhou o gosto pela fotografia durante a faculdade e mergulhou de cabeça nesta linguagem, trabalhando em organizações não governamentais do ABC para adquirir experiência.

A ideia de retratar a Vila São Pedro a partir da sua perspectiva já era antiga e inspirada em filmmakers que faziam conteúdos parecidos para as redes sociais. Além de registrar sua quebrada e outras do ABC, seu projeto era ajudar a mudar a imagem que a mídia construiu das periferias com o jornalismo policial.

“Pela TV, a favela é associada ao crime e à violência, como se não existisse nada além disso dentro da comunidade. Meu objetivo era mostrar que não só pode, como existem muitas coisas positivas dentro dela”. 

André Luiz Coelho

Com a publicação das fotos nas redes sociais, o trabalho de André acabou viralizando e atingindo a marca de quase 60 mil seguidores no Instagram (@andre.scoelho). Na “rede vizinha”, o TikTok, os números chegaram a 19,8 mil.

Pequenos comércios são frequentes ao cruzar as ruas da Vila São Pedro @André Luiz

E quem vê o projeto de fora ? 

Felipe Alberto de Lima Santos, 31, amigo, colaborador e também morador da Vila São Pedro, ressalta que o projeto ultrapassa as fronteiras do bairro e de todo o ABC Paulista.

“Acredito que [as fotos] acrescentem tanto na imagem do nosso bairro, como nas demais periferias, tanto que o André recebe muita mensagem de pessoas querendo que ele vá fotografar em outros lugares”, diz. “Ele já tirou fotos de Diadema, município estigmatizado por ser periférico e violento, e teve um feedback bem positivo do público”, diz.

O próximo plano de André é realizar exposições de suas fotografias em espaços culturais do centro de São Bernardo, como a Pinacoteca da cidade. Para isso aguarda a abertura de editais voltados para cultura pela prefeitura.

“Todo lugar tem seus perigos e não é porque um local é mais pobre que seja mais perigoso”

Tabata Ribeiro, 23, auxiliar admistrativa da Vila São Pedro

Ela se mudou sozinha para a Vila São Pedro, em 2019, em busca de aluguéis mais baratos e se surpreendeu ao ver ruas e casas da quebrada que escolheu como lar no seu feed. Mais que isso: ficou feliz lendo os comentários positivos.

Hoje, casada e com um filho, Tabata afirma que não tem problema em criar seu filho na Vila São Pedro e que se sente bem vivendo com a família no local.

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