Já teve a impressão que as periferias são muito retratadas nos jornais, novelas e filmes apenas pelos problemas e carências? O fotógrafo André Luiz Coelho, 27, já e para mudar essa percepção estigmatizada decidiu colocar suas lentes e seu olhar para trabalhar. Pela sua câmera, os moradores da Vila São Pedro, maior favela de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, começaram a ter sua imagem ressignificada de estereótipos.
“Eu curtia muito a ideia de fazer fotografia de rua, o problema era quando eu olhava para o Brasil e ficava incomodado porque esse conteúdo era só direcionado à Avenida Paulista ou ao centro de São Paulo. Parecia que não existia outros lugares aqui”, pontua André, chamado pelos amigos de “Steve”.
Por isso, ele decidiu iniciar seu projeto autoral de fotos no seu bairro, a Vila São Pedro, retratando uma paisagem conhecida nas quebradas da Grande São Paulo, com casas autoconstruídas, ruas estreitas, vielas e pequenos comércios.
Outro objetivo central do seu trabalho é elevar a autoestima do pessoal da quebrada que fotografa na rua. “Quando eu comecei a atrair views, recebi comentários do tipo: ‘nossa, você deixou o lugar que eu moro bonito’ ou ‘nem parece que as pessoas têm medo daqui’. Isso me mostra o quão a espetacularização da violência afeta demais a forma que as pessoas veem as próprias quebradas”, diz.
Periferia nas redes
Natural de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, André veio com a mãe para São Bernardo ainda pequeno e passou a viver na Vila São Pedro, fundada há 36 anos e que hoje abriga pelo menos 65 mil moradores.
Jornalista de formação, ganhou o gosto pela fotografia durante a faculdade e mergulhou de cabeça nesta linguagem, trabalhando em organizações não governamentais do ABC para adquirir experiência.
A ideia de retratar a Vila São Pedro a partir da sua perspectiva já era antiga e inspirada em filmmakers que faziam conteúdos parecidos para as redes sociais. Além de registrar sua quebrada e outras do ABC, seu projeto era ajudar a mudar a imagem que a mídia construiu das periferias com o jornalismo policial.
“Pela TV, a favela é associada ao crime e à violência, como se não existisse nada além disso dentro da comunidade. Meu objetivo era mostrar que não só pode, como existem muitas coisas positivas dentro dela”.
André Luiz Coelho
Com a publicação das fotos nas redes sociais, o trabalho de André acabou viralizando e atingindo a marca de quase 60 mil seguidores no Instagram (@andre.scoelho). Na “rede vizinha”, o TikTok, os números chegaram a 19,8 mil.
E quem vê o projeto de fora ?
Felipe Alberto de Lima Santos, 31, amigo, colaborador e também morador da Vila São Pedro, ressalta que o projeto ultrapassa as fronteiras do bairro e de todo o ABC Paulista.
“Acredito que [as fotos] acrescentem tanto na imagem do nosso bairro, como nas demais periferias, tanto que o André recebe muita mensagem de pessoas querendo que ele vá fotografar em outros lugares”, diz. “Ele já tirou fotos de Diadema, município estigmatizado por ser periférico e violento, e teve um feedback bem positivo do público”, diz.
O próximo plano de André é realizar exposições de suas fotografias em espaços culturais do centro de São Bernardo, como a Pinacoteca da cidade. Para isso aguarda a abertura de editais voltados para cultura pela prefeitura.
“Todo lugar tem seus perigos e não é porque um local é mais pobre que seja mais perigoso”
Tabata Ribeiro, 23, auxiliar admistrativa da Vila São Pedro
Ela se mudou sozinha para a Vila São Pedro, em 2019, em busca de aluguéis mais baratos e se surpreendeu ao ver ruas e casas da quebrada que escolheu como lar no seu feed. Mais que isso: ficou feliz lendo os comentários positivos.
Hoje, casada e com um filho, Tabata afirma que não tem problema em criar seu filho na Vila São Pedro e que se sente bem vivendo com a família no local.