Luan Batista não é apenas um fotógrafo. Ele é um contador de histórias visuais, cuja lente é testemunha das complexidades das comunidades periféricas de São Paulo. Criado no bairro de Guaianases, no extremo leste da capital, a jornada dele na fotografia começou nas ruas que o cercavam, onde cada esquina e cada rosto contavam uma história única.
“Meu bairro tem uma particularidade que adoro”, diz Luan. “Ele é uma quebrada que divide várias outras, de um lado o morro do Jardim Robru (onde o sol nasce) do outro os prédios coloridos da Cohab (onde o sol se põe).”
Essa geografia de Guaianases, onde diferentes comunidades se misturam, ofereceu a Luan uma fonte de inspiração visual. “Cada bairro tem características próprias e todas se misturam no meu. Já que aqui é rico em tantas coisas, por que eu deveria fazer uma coisa só?”, ressalta.
Atualmente, o fotógrafo está participando de duas exposições. Uma delas é no Museu das Favelas, onde algumas de suas obras integram a EXPOSIÇÃO FAVELA-RAIZ, dentro da instalação “Visão Periférica” do Coletivo Coletores e Topográficas.
Além disso, há uma pequena participação dele no projeto “Selva Cidade“, onde é possível adquirir alguns prints do artista, localizados no terceiro andar.
Nas exposições, Luan mostra o trabalho que traz um pouco do que aprendeu com Guaianases. Ao crescer na região, Luan absorveu não apenas as cores vibrantes, mas também uma compreensão da realidade social e cultural que o cercava.
Para ele, a fotografia não é apenas uma forma de capturar a beleza do mundo, mas também uma ferramenta poderosa para amplificar as vozes de comunidades marginalizadas.
‘Crescer na periferia me fez visualizar as coisas de uma forma diferente. Todo o contexto social e cultural me fez entender que não adianta a fotografia ser somente bonita se ela não transmite algo’
Luan Batista, fotógrafo
As influências de Luan são diversas e vão desde a pintura barroca até a direção de fotografia de anime, passando pelo streetwear do hip-hop.
As coleções de revistas de moda servem como fonte de pesquisa, assim como a cena ballroom, que o inspira profundamente. Nas artes visuais, ele encontra inspiração nas pinturas, que continuam sendo uma fonte de estudo constante.
Ele ainda cita a importância da semiótica, área que estuda os símbolos, signos e sinais que fazem algum significado humano. O fotógrafo cita que acrescentou uma nova camada de profundidade e significado às imagens.
O projeto “Perecível“, por exemplo, mergulha na complexa relação entre o corpo e o consumo, utilizando o plástico filme como uma metáfora visual da efemeridade e da fragilidade da condição humana. “Minha ideia era criar um ensaio crítico do corpo com objeto de consumo”, explica.
Ele mergulhou em um intenso processo de pesquisa e experimentação, buscando formas de transmitir sua mensagem por meio das lentes da câmera. Uma das características distintivas do projeto é o uso do plástico filme como elemento visual. “Enrolar corpos nus em plástico filme como produtos de supermercado.”
A ideia era criar uma atmosfera que convidasse o espectador a refletir sobre a relação complexa entre o corpo humano e a cultura do consumo.
Ao longo dos anos, “Perecível” passou por várias interações e desenvolvimentos. Luan levou o projeto para as ruas, exibindo lambe lambes de 1,5 metro de altura pela cidade. Ele também explorou novas narrativas e abordagens, projetando as fotos em espaços urbanos como parte de uma experiência imersiva.
Embora o projeto “Perecível” esteja temporariamente em pausa, Luan sonha em publicar um livro oficial do projeto.
Explorando Novos Horizontes
Luan está mergulhado em uma fase de expansão, tanto profissional quanto artisticamente. “Estou em um momento focado na produtora que tenho desde 2018 com dois amigos, a ideia é criar um polo de audiovisual na quebrada, uma ideia que tínhamos há muito tempo e que está começando a se concretizar.”
Além disso, está concentrado em criar um estúdio, que seja um espaço inspirador para colaboração criativa. Em termos artísticos, Luan planeja duas novas séries voltadas para a fotografia analógica. Ele também tem planos de estabelecer um laboratório em casa para aprimorar as técnicas e começar a compartilhar o conhecimento por meio do ensino.
Quando questionado sobre conselhos para fotógrafos emergentes, Luan afirma que é fundamental buscar uma variedade de experiências para o desenvolvimento da identidade artística e profissional. “Experimentem”, aconselha.