Para atender às mudanças do novo ensino médio, que propõe alterações na grade curricular e oferta de cursos técnicos e profissionalizantes nas escolas, a Fieb (Fundação Instituto de Educação Barueri) adotou um novo material didático que causou insatisfação nos pais e responsáveis por alunos da instituição.
As famílias afirmam que não têm condições de arcar com as despesas extras exigidas para este ano letivo, pois muitos pais e mães estão sem emprego ou perderam renda durante a pandemia de Covid-19.
Uma reunião com a Comissão de Pais da Fieb e o superintendente da Fundação, Luiz Antonio Ribeiro, estava marcada na Câmara de Vereadores de Barueri no último dia 14, mas foi cancelada pelo vereador e presidente da assembleia, Toninho Furlan (PDT). Houve um protesto no local.
Milayne Lemes da Rocha, 16, é estudante do ensino médio regular da Fieb Aldeia da Serra, uma das nove unidades do município. Ela conta que os pais estão sem condições financeiras para adquirir o novo material solicitado pela escola.
“Se necessária a aquisição, provavelmente eles arquem com os custos parcelando, prezando pelo meu aprendizado. Mas, infelizmente, acabariam criando uma dívida”
Milayne Lemes da Rocha, 16, estudante
A aluna lembra que os familiares compraram, em 2020, um box com materiais que seriam utilizados durante os três anos do ensino médio e que, na época, custou cerca de R$ 2.000. Porém, o material quase não foi aproveitado durante o período de pandemia.
Mudança no kit escolar
A Fundação Instituto de Educação Barueri é uma autarquia, ou seja, uma instituição de ensino que funciona em prédios públicos, mas com autonomia própria. Por isso, os responsáveis pelos alunos precisam arcar com os custos durante o ano letivo.
Para 2022, a Fieb exige um kit com livros físicos e uma plataforma online chamada Plurall. Segundo os membros da comissão, as despesas podem chegar a R$ 2.500, sem incluir valores de alimentação, transporte e uniformes. Se optarem por adquirir somente o acesso à plataforma, o custo seria de R$ 1.000 por estudante, em média.
Lúcia*, 35, é mãe de um aluno do 1° ano do ensino médio na unidade Aldeia da Serra. Ela ainda não adquiriu o material solicitado. “Não consegui identificar os benefícios da plataforma, pois os estudantes precisam dos livros físicos e a plataforma só seria usada em casa”, afirma.
Além disso, diz que a plataforma exigida pelo colégio só habilita combos de livros físicos e, para funcionar, precisa inserir o código dele.
“Se os alunos vão usar o livro físico, que sentido tem pagar por uma plataforma digital?”
Lúcia*, 35, mãe de aluno
Outra queixa é de que a Fieb está designando um único local para a compra do material. Pais ouvidos pela Agência Mural contam que a escola orientou que eles só poderiam adquirir o material ofertado pela empresa Somos Educação na própria instituição de ensino, impossibilitando-os de obtê-lo em outro local, como ocorreu nos anos anteriores.
Por causa disso, mesmo com o cancelamento da reunião, cerca de 100 pessoas foram até a Câmara Municipal de Barueri na data e horário marcado para participar do protesto. Na ocasião, foram recebidos pelas vereadoras Cláudia Aparecida (PDT), Tânia Gianeli (DEM) e pelo vereador Leandrinho Dantas (PRTB).
Também pediram aos vereadores um esforço pela causa e solicitaram que interferissem diante do prefeito Rubens Furlan (PSDB).
Os manifestantes pretendiam tentar uma negociação sobre o valor do kit escolar com o superintendente da Fundação. Além disso, queriam questionar as informações sobre a empresa que está comercializando os materiais e solicitar o treinamento dos professores e do apoio pedagógico para ministrar as aulas na nova plataforma.
Em comunicado no site, a Fieb diz que a transição do material didático foi anunciada na última reunião de pais de 2021, realizada no dia 18 de dezembro, e afirma que a aquisição é imprescindível para acompanhar todas as reformas do currículo escolar – que foi atualizado para todos os níveis de ensino.
Como as aulas na instituição se iniciaram em 14 de fevereiro, algumas famílias acabaram adquirindo o material com medo dos filhos perderem a vaga ou serem prejudicados pela falta do mesmo.
Foi o caso da Cleonice*, 50, mãe de um aluno do 6° ano do ensino fundamental na Fieb Maria Theodora, em Alphaville, bairro de Barueri. Ela pagou R$ 2.137 pelo kit com os livros e o acesso à plataforma.
Segundo a mãe, a escola dificultou o acesso ao material. “Não tem como obter o material usado, pois o físico está amarrado ao digital, ou seja, você só consegue comprar todo o material junto”, diz.
A Comissão de Pais da Fieb aguarda uma redução no custo do material didático e solicita o reembolso para aqueles que já adquiriram o material. O instituto de educação não retornou nosso contato até a data de publicação.
*Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas, que têm receio de represálias.