O corretor de imóveis Daniel de Queiroz, 24, frequenta a Igreja Cristã da Família, em Guaianases, no extremo leste da capital paulista. A rotina se repete duas ou três vezes na semana.
No templo, ele se reúne com lideranças locais e promove ações sociais na comunidade, como as campanhas do agasalho e da comida, para distribuir alimentos a pessoas em situação de rua.
“Temos um ministério de ação social. Todos os anos distribuímos cestas solidárias com alimentos para algumas famílias”, diz.
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“A mais recente foi a colaboração com a Igreja da Bolívia, que veio até Guaianases para fazer um trabalho social com diversas crianças do bairro”, exemplifica.
Para o corretor de imóveis, a Igreja realiza trabalhos importantes na sociedade, como as que tem atuado, e que poderiam ser replicadas fora do espaço religioso. A opinião dele não é isolada.
Para a maioria dos paulistanos, a Igreja é a instituição que mais colabora para o bem da sociedade, segundo o estudo “Viver em São Paulo: Qualidade de vida”, divulgado em janeiro deste ano pela Rede Nossa São Paulo e Ibope.
A Igreja foi a resposta de 19%. Em seguida, a Prefeitura de São Paulo, aparece com 17%, à frente dos meios de comunicação, com 15%.
Frequentadora de um templo no Jaguaré, zona oeste, a professora Marina Alda Monteiro, 41, acredita que a instituição religiosa conscientiza as pessoas sobre a importância do amor e assume um papel que deveria ser protagonizado pelo Estado.
“É lógico que dentro do cenário caótico de descaso do poder público com a população menos favorecida é sempre pouco o que se faz, tanto as igrejas quanto as ONGs e outras instituições”
Marina Alda Monteiro, professora e católica
“A pobreza só cresce, mas o importante nesse caso é não desistir desse trabalho de formiguinha. Mesmo sendo pouco, já acalenta algumas famílias”, reforça a católica.
A IGREJA NAS CINCO REGIÕES DE SP
Adentrando as cinco regiões paulistanas, a maior parte das menções à Igreja aparece nas zonas norte (23%), sul (20%) e leste (19%).
Para os moradores da zona oeste, a instituição que mais promove o bem social é Ministério Público, com 21% das indicações. Já no centro da cidade, o trabalho realizado pelas ONGs é que obteve maior percentual: 20%.
De acordo com o mestre em ciências sociais, Renato Souza de Almeida, 41, a crise de representatividade do Estado pode justificar as respostas dos paulistanos.
“Em 2013, nos protestos que aconteceram no país, houve uma crise de representatividade do Estado, que a partir de então ganhou força na sociedade. E o impacto foi na forma como as pessoas passaram a ver os serviços públicos e o próprio Estado, com certa desconfiança”
Renato Souza de Almeia, mestre em ciências sociais
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Ele explica que a acolhida e a sociabilidade são dois aspectos que podem justificar a importância das instituições religiosas na qualidade de vida dos paulistanos. Uma sociedade ideal, completa Almeida, seria que a Igreja despertasse o sentido coletivo, não individual.
“A gente precisa entender que as melhores experiências passam pela experiência coletiva, e não pela via individualista, trabalhada em algumas denominações. A desigualdade é o que gera as mazelas sociais, e isso a gente combate junto”, finaliza.
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