Em setembro de 2020, em clima de véspera eleitoral, a prefeitura de Poá, na Grande São Paulo, inaugurou uma das principais promessas de campanha do então prefeito Gian Lopes (PL): o Pronto Atendimento Infantil (Pró-Criança).
O serviço, com capacidade para atender 300 crianças por dia, não foi suficiente para garantir a reeleição do prefeito, que acabou derrotado no pleito pela opositora Márcia Bin (PSDB).
Assim que assumiu a prefeitura em janeiro, Márcia, que já foi primeira-dama e representa o grupo político do ex-prefeito Francisco Pereira de Sousa, o Testinha (SD), optou por fechar o prédio do Pró-Criança, alegando que nele havia problemas estruturais, e que estava localizado em área de enchentes.
A mudança pegou de surpresa Gian Lopes, que se manifestou pelas redes sociais. “Nossa população merece respeito. Não podemos deixar uma conquista do povo poaense acabar. Como podem alegar estrutura precária em uma obra inaugurada há três meses?”, questionou.
Com o encerramento do prédio do Pró-Criança, os seus serviços foram transferidos para outro equipamento inaugurado pela gestão anterior: o Ceme (Centro de Especialidades Médicas), onde se concentravam as consultas com especialistas.
A nova gestão optou por dar fim ao Ceme, alocando cada especialista em uma UBS (Unidade Básica de Saúde) diferente da cidade.
As polêmicas decisões geraram revolta nas redes sociais em janeiro. Usuários dos equipamentos denunciaram que as mudanças foram repentinas, e estavam prejudicando tratamentos já agendados. Foi o caso de Angel Priscila, usuária do espaço, que fez um dos muitos posts de desabafo no Facebook.
“Você, gestante de alto risco, sai passando mal debaixo de sol e vai para o Ceme, onde faz seu pré-natal, chega lá e é avisada que ali não é mais Ceme, que hoje não teria consulta, e que não tem previsão de quando terá e onde será”, escreveu.
As críticas voltaram à tona, inclusive, com acusações de que as mudanças teriam sido realizadas por motivos políticos, após a prefeitura inaugurar um Centro de Fisioterapia no prédio do antigo Pró-Criança em 15 de fevereiro.
“A secretária da saúde falou que esse prédio não tinha condições de uso devido a enchentes e estava irregular com a documentação. Quer dizer que agora pode ser o Centro de Fisioterapia?”, disse a usuária Evalda Maria da Silva. “Ficou claro que é apenas capricho da prefeita em tirar o Centro das Crianças. Se queria economizar de verdade, era só colocar o centro de fisioterapia no antigo Ceme”.
A secretária de Saúde, Cláudia de Deus (SD), frisou que o objetivo da atual gestão é apenas reduzir custos, já que Poá passa por uma crise financeira desde a saída da Itaúcard da cidade, em 2019, o que gerou queda na arrecadação. Com previsão de déficit de R$ 77 milhões para este ano, o município decretou estado de calamidade financeira.
“Nosso objetivo é esse, reduzir custos sem perder a qualidade no atendimento e, se possível, oferecer novos serviços aos munícipes. A Saúde é a pasta mais complicada, financeiramente falando, assumimos no dia 1º de janeiro com diversas dificuldades e problemas”, disse, durante a inauguração do Centro de Fisioterapia.
Com a mudança dos espaços destinados a área da saúde, a prefeitura estima economizar R$ 1.317.600,00 em aluguéis pelos próximos quatro anos.
Com o mesmo argumento de controlar as contas públicas, a prefeitura tomou outra medida polêmica: restringiu o atendimento no Hospital Municipal Dr. Guido Guida, também conhecido como Hospital Medina.
Por tempo indeterminado, apenas moradores de Poá, com comprovante de endereço, poderão usufruir do atendimento do local, que funciona como pronto-socorro.
Próximo ao limite com as cidades de Itaquaquecetuba, Ferraz de Vasconcelos e até mesmo com o bairro do Itaim Paulista, na Capital, o Guido Guida costumava atender pacientes dessas regiões.
Em 2013, durante a gestão de Testinha em Poá, o hospital também fechou as portas para os moradores de cidades vizinhas.
Em nota, a prefeitura informou que a medida é temporária, e que os atendimentos de urgência e emergência não serão negados.