Para fazer home office, trabalhadores que moram nas periferias precisam se virar para conseguir acessar a internet
Por: Redação
Notícia
Publicado em 31.03.2020 | 18:16 | Alterado em 22.11.2021 | 16:00
Manter o isolamento social é uma das medidas para combater o coronavírus, por isso trabalhar em casa, o famoso home office, passou a fazer parte da rotina de alguns trabalhadores. No entanto, para aqueles que vivem na periferia, a dificuldade para acessar a internet tem tornado tudo mais difícil.
O “Em Quarentena” conversou com alguns profissionais que vivem nas periferias de São Paulo e dependem da internet para realizar em casa as atividades que fariam no ambiente de trabalho. Eles relataram as principais dificuldades que estão enfrentando e compartilharam como têm driblado a situação.
Deise Dantas é recepcionista numa clínica e desde o início da pandemia está trabalhando de casa, no Taboão da Serra, município da Grande São Paulo. Ela improvisou um espaço na lavanderia de sua casa para trabalhar e contou como têm feito para atender os clientes da clínica por meio do WhatsApp.
“Para que esse WhatsApp funcione eu preciso rotear [a internet] do meu celular para o celular da clínica, e assim, conseguir atender neste espaço porque se eu sair daqui o celular já não funciona mais”. (ouça a partir de 01:09)
A assistente jurídica, Juliana Galzo, de São Miguel, na zona leste, falou sobre a dificuldade de abrir um simples e-mail. “Demora muito tempo. Estou conectada à internet, com acesso, mas só chega 1 megabyte para mim. Algo que eu demoraria dez minutos para fazer lá no meu trabalho, aqui eu demoro em torno de 30 minutos”. (a partir de 01:31)
Juliana deu como exemplo também os vídeos que sua filha, de um ano e meio, gosta de assistir. “A internet é tão precária que até para carregar um vídeo de um ou dois minutos demora mais do que isso. Então ela não consegue assistir os vídeos dela por conta disso”. (ouça em 02:00)
O jornalista Vagner dos Santos mora no Jabaquara, zona sul da capital. Ele também está fazendo home office e defendeu que internet boa não deveria ser privilégio dos moradores da região central.
“Todo mundo merece uma internet com qualidade seja para o trabalho, entretenimento, diversão ou comunicação. Essa internet deveria ser acessível a todos. Independente da região ou do CEP que a pessoa reside”. (ouça em 02:27)
Ana Beatriz, repórter da Agência Mural, fez uma matéria sobre a dificuldade de acesso à internet na periferia e que foi publicada na Folha de S.Paulo. Ela compartilhou o que as operadoras de telefonia responderam quando ela questionou por que a internet é tão ruim.
“Só a Vivo e a Tim responderam. Se pronunciaram pelo SindiTeleBrasil, que é o sindicato do setor. Disseram que a internet não chega porque São Paulo tem uma legislação desatualizada sobre o assunto. E que ainda tem 1.728 pedidos de instalação de antenas, muitas delas na periferia, que estão aguardando o licenciamento da prefeitura e há dois anos não eram concedidas novas atualizações”. (em 03:02)
A repórter mostrou também a resposta da prefeitura. “A prefeitura não respondeu sobre as atualizações pendentes e disse que também entende que a modernização da legislação é importante para melhorar esse processo de instalação de antenas”. (em 03:31)
Ana contou que descobriu que em 2019 foi instaurado uma CPI sobre o tema. Chama ‘CPI das antenas’. Ela busca exatamente investigar possíveis irregularidades das empresas que atuam no município”. (em 03:52)
Para ajudar, o podcast da Agência Mural listou algumas dicas para driblar à conexão ruim, dentre elas, posicionar o roteador, o aparelho que libera a internet, no centro da casa. Se possível em um lugar alto e sem obstáculos.
Ouça este bate papo completo no Em Quarentena #06: Com internet ruim, moradores narram dificuldades para trabalhar de casa.
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Viver em meio ao coronavírus não deve estar sendo fácil para ninguém. Imagina então para quem vive nas periferias.
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