Nos dias 19 e 20 de agosto, jornalistas, educadores e estudantes participaram do 3° Congresso Internacional de Jornalismo da Educação, realizado pela Jeduca (Associação de Jornalismo de Educação), no Colégio Rio Branco de Higienópolis, capital de São Paulo.
O Congresso trouxe nesta edição três convidados para uma palestra no formato TED, e em 15 minutos um jornalista, uma estudante e duas educadoras contaram suas experiências e a visão sobre a cobertura da imprensa.
No primeiro dia do evento, o jornalista da Agência Mural, Vagner de Alencar, apresentou uma crônica da visão de um jornalista da periferia.
Vagner morou por 10 anos em Paraisópolis, a maior favela do estado de São Paulo. Para ele, a mídia tradicional ainda mostra as favelas como algozes da cidade.
“Costumo dizer que nosso sonho, no futuro, é não existir. Porque existimos para preencher os buracos de uma cobertura jornalística das periferias ainda carregada de estereótipos.”, declarou ao falar da Agência Mural.
No segundo dia do evento, o público pode ouvir a estudante Julia Farias, 17, uma das contempladas pelo programa de bolsa Acontece na Escola, da Agência Mural. Ela produziu uma reportagem “Professores de Etec em Osasco fazem protesto silencioso contra reforma do ensino médio“.
Julia criticou a falta de representatividade dos estudantes por parte da cobertura de imprensa, que segundo ela, só são lembrados quando surge o tema do Enem.
“Tantos os professores quantos os alunos, sendo contra ou a favor da reforma, a gente não se sentiu parte da discussão”, afirma a respeito das reportagens.
A estudante conversou com 33 estudantes de 14 a 24 anos para questionar quantos consomem conteúdo jornalístico.
Segundo ela, 70% não consomem jornalismo por interesse, apenas nos intervalos de programação da TV ou enquanto rolam o feed nas redes sociais.
Para encerrar as opiniões sobre as coberturas de imprensa, o Congresso recebeu a vice-diretora Lilian Keli Guilherme de Lima e a professora Sandra Perez, da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, local alvo do massacre que resultou na morte de sete alunos e funcionários, em março deste ano.
Fake news, assédio com professores e alunos na porta da escola e questionamentos sobre a qualidade de segurança da escola foram os maiores erros dos jornalistas, para ambas educadores.
Segundo as educadoras, a escola foi um sucesso nos últimos 15 anos. “Até o dia 12 de março a escola era uma potência. A Raul Brasil já esteve entre as 3 melhores do município, com fila de espera para novos alunos”, afirma Lilian.
Sandra se defende “Eu ainda não fiz um curso, como vocês [jornalistas] também ainda não fizeram de como proceder num massacre. Eu sei corrigir uma redação.”
Ela comentou que as pessoas querem saber dela sobre o massacre, quais são as falhas, onde a escola errou. “Isso dói demais porque somos vítimas de uma fragilidade social”.
Mas a professora diz compreender toda a situação “Todas essas falhas acho que foram cabíveis, tanto para os profissionais da educação quanto para os profissionais do jornalismo”, completou.