Que atire a primeira pedra quem nunca passou um dia sem conseguir definir bem o que estava sentindo. Aquela impressão de estar “meio sei lá o que” é o tema do novo livro da jornalista, educadora popular e cofundadora do Periferia em Movimento, Aline Rodrigues, que está com uma campanha de financiamento coletivo aberta para custear a obra.
O livro “Meio sei lá o que” conta a história de uma criança que tenta se entender em meio a uma confusão de sentimentos, e convida o leitor a refletir sobre a importância do acolhimento em situações como essa. “Ele propõe que o adulto observe que a criança também tem esses momentos e possa conversar com ela”, explica a autora.
Uma das principais inspirações para a escrita foi o livro “Sonhos de Dia”, da escritora Claudia Werneck. Com mais de 250 mil exemplares vendidos, a obra foi uma das primeiras da literatura infantil brasileira a cumprir, na íntegra, as leis de acessibilidade. “Meio sei lá o que” também terá versões em libras e audiodescrição.
Moradora do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, Aline iniciou em março uma campanha para arrecadar os recursos necessários para a impressão.
O financiamento coletivo, aberto no site Catarse, vai até o dia 29 de abril. Entre as recompensas previstas para quem apoiar o projeto estão exemplares do livro, ecobags e uma régua de sentimentos.
A ideia do livro surgiu depois de uma conversa com a amiga e psicóloga Elânia Francisca, em 2021. Na época, as duas tinham uma reunião marcada, mas Francisca pediu para adiar o encontro.
“Ela mandou uma mensagem falando que não estava ‘legal’. Usou mais ou menos esse termo, ‘tô meio sei lá o que’. No mesmo dia eu escrevi, do começo ao fim, a primeira versão do livro”, relembra Aline.
Mãe de Helena, 6, a jornalista é apaixonada por literatura infantil e percebeu que nenhum dos livros da filha abordava emoções como aquela.
“Nunca tive acesso a um livro que falasse desse não-lugar, do não saber definir”
Em “Meio sei lá o que”, uma criança descreve o que sente em dias confusos. “A cabeça fica cheia, ao mesmo tempo que parece não ter nenhum pensamento dentro dela… É um vazio que parece ter um buracão dentro da gente”, conta um trecho do livro.
As ilustrações foram feitas pela artista visual Zerlo, que foi também a responsável pela ideia de costurar a história através de uma criança.
“A princípio eu não tinha nem pensado no personagem e aí ela trouxe a ideia de alguém que passeia por essas emoções”, diz Aline.
A criança da narrativa foi desenhada sem traços específicos de gênero, segundo a autora. “O personagem não tem nome e gênero. Acho que é uma oportunidade para que todos se identifiquem”.