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Entre o sonho e o preço, jovens das periferias buscam alternativas para festas de casamentos

Por: Artur Ferreira

Keith Alves, 24, se tornou noiva de Guilherme Nunes, 25, há poucos meses quando fizeram uma viagem para Campos do Jordão, região serrana de São Paulo. Após a euforia do “sim”, o jovem casal começou a planejar a cerimônia de casamento prevista para 2026 e tem vivido sonhos – e alguns sustos – pelo caminho.

“Nós achamos que precisamos de pelo menos um ano para organizar tudo, tanto para ter tempo quanto por dinheiro”, conta Keith, profissional de Tecnologia da Informação, que mora na Vila Sônia, zona oeste da capital paulista. “Queremos uma cerimônia tradicional. Eu considerei fazer no interior, por haver mais opções de ambientes arborizados e pelo preço”.

O preço. Esse tem sido o principal entrave dos jovens periféricos que sonham com vestido de noiva, festa, bolo de três andares e pessoas queridas reunidas para celebrar a união. Ainda assim, o interesse pelas cerimônias tradicionais não perdeu força entre os mais novos, que vem se reinventando para fazer o sonho caber no bolso e no gosto das juventudes periféricas.

Keith e Guilherme em Campos do Jordão, logo após o “sim” @Arquivo pessoal

“Confesso que eu demorei para entender o propósito do casamento, mas sempre foi um sonho. Depois do Guilherme, compreendi o que era querer me casar com alguém”, conta Keith, emocionada. “O casamento não é só um papel, é muito mais do que isso!”

Quem também sonha com o altar é o programador Lucas Ferraz, 24, e a assessora de investimentos Giovanna Escadelai, 23, ambos de Santo André, no ABC Paulista. Eles, porém, já têm data marcada: agosto de 2025.

“A gente vai comemorar com os amigos íntimos e a família, nada muito grande devido ao valor”, conta Lucas. “Na minha visão, encontrar alguém para ser sua amiga e companheira para a vida é a realização de um sonho”.

Giovanna e Lucas, já noivos optaram por uma celebração no civil @Acervo Pessoal

No meio do sonho, o preço

Muitos casais periféricos acabam esbarrando em um ponto crucial para a realização do desejo de casar: a grana. O valor para realizar um casamento pode até variar dependendo do local, da decoração e da quantidade de convidados, mas dificilmente fica abaixo dos cinco dígitos.

E o céu é o limite. Keith chegou a receber um orçamento de R$ 200 mil para a realização da festa. Os valores mais baixos, para uma comemoração mais intimista, com 50 convidados, ficaram em torno de R$ 40 mil.

“Foi muito chocante. É acima de qualquer coisa que já fiz. Optamos pela cerimônia no civil, por um ensaio de fotos e por uma festa pequena. Só isso já passou dos R$ 20 mil”.

Keith Alves

Essa também foi a opção do casal Lucas e Giovanna. “A ideia é chamar as pessoas mais próximas, celebrar e viajar com meu noivo, que para mim é o mais interessante. Casar hoje é muito caro”, conta a noiva de Santo André. “Existe um ‘superfaturamento’ de preços em tudo que envolve o casamento e vejo que as redes sociais ajudaram a aumentar mais ainda a comoção sobre esse assunto”.

O mercado dos casamentos vai além de organizar a cerimônia e a festa. Exige pensar na decoração, nas vestimentas (até dos convidados por vezes), na maquiagem e em mais uma longa lista de afazeres, onde tudo tem que estar perfeito para o grande dia.

Para tentar driblar as exigências e os altos preços, a estudante de Publicidade e Propaganda, Deborah Barbosa, 23, apostou na cerimônia de casamento no civil. Moradora do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, ela e o marido Victor Maciel, 25, decidiram cortar custos e pensar em alternativas para realizar o sonho de casar.

Victor e Deborah em sua cerimônia de casamento no civil @Arquivo pessoal

“Não achávamos lógico iniciar nossa vida com uma dívida enorme, contraída em um só dia. Então fomos ao cartório, arrumadinhos, assinamos os papéis, tiramos fotos e comemoramos em um restaurante”, conta. “O ambiente era confortável e os preços não eram exorbitantes. Optamos pela comanda individual” – um “detalhe” fundamental para reunir 130 pessoas em uma celebração que não passou dos quatro dígitos.

Deborah e Victor já namoravam há 8 anos quando formalizaram a união, em 2025. Hoje, morando juntos, Deborah se diz muito feliz com a escolha – do tipo de celebração e do casamento. “A parceria de um casamento saudável não se compara ao de um namoro saudável”, conta emocionada.

E a vida à dois?

Se os valores das festas de casamento fazem os jovens das periferias adiarem e adaptarem o sonho de casar, o compromisso com a vida a dois segue firme, como no caso do técnico de seguros, Eduardo Ivan Omena, 25, e sua companheira Stefani Santana, 25, estagiária de finanças. Eles se conhecem no colégio e estão juntos há uma década.

“Para mim, o casamento são duas coisas distintas: a prática e a cerimônia. Já me sinto casado por morarmos juntos e dividirmos a vida, mesmo sem uma cerimônia”, diz Eduardo. “Nós passamos pela escola, cursinho, faculdade e amadurecemos juntos. Um leva o outro para frente. Eu quero estar com ela pra sempre”. O casal, que vive na zona sul da capital, ainda não bateu o martelo se vão ou não celebrar a união.

O casal Stefani e Eduardo, que estão juntos há uma década @Arquivo pessoal

A psicóloga Ana Maria, 27, e o auditor financeiro Carlos Eduardo, 24, já passaram da fase de decidir e planejar a festa e já comemoram três anos de casados. “A gente conseguiu evitar muito perrengue. Casamos em um local em Ribeirão Pires com tudo incluso: buffet, assessoria, decoração e cerimônia”, conta Ana.

“Ela é minha melhor amiga, compartilhamos os bons e os maus momentos”, diz Carlos, morador de Santo André, no ABC Paulista. “Algumas pessoas até dizem que nos casamos jovens, mas eu nunca senti a pressão da idade, eu só sentia no meu coração que ela é o amor da minha vida”.

E o que mais importa?

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