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Jovens falam sobre política nas periferias de SP; 67% não se interessam pelo tema

Por: Redação

Divulgada nesta quinta-feira (21) pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope, a edição de 2021 da pesquisa “Viver em São Paulo: Qualidade de Vida” mostra que mais da metade dos paulistanos não tem vontade de participar da vida política na cidade.

O levantamento ouviu 800 moradores com 16 anos ou mais entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021. Deste número, apenas 11% afirmam ter “muita vontade” de participar de ações ou grupos relacionados à vida política da capital paulista.

Outros 30% têm “alguma vontade”, mas a maioria dos entrevistados (58%) disse não ter “nenhuma vontade” quanto ao tema. O índice dos paulistanos mais desinteressados é maior entre pessoas das classes D e E (75%) e com idade entre 16 e 24 anos (67%).

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Há sete meses, Natália Ranieri faz parte do Projeto Direito Nosso (Arquivo pessoal)

Moradora da Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo, a estudante de direito Natália Ranieri, 23, começou a se interessar por temas sociais quando ainda estava no colégio. “Minhas aulas de história eram repletas de debates sobre a realidade brasileira. Todo mundo falava o que achava na situação político-social do Brasil”, conta.

Há sete meses, Natália integra o projeto Direito Nosso — uma iniciativa de seis jovens periféricos da zona sul da capital que buscam debater noções de direitos e deveres para a comunidade, através de uma linguagem simples e contextualizada na realidade da quebrada.

Para ela, o baixo interesse das pessoas mais jovens pela política está atrelado ao baixo nível de informação e conhecimento sobre a real situação do país nas mais diversas áreas.

“Dessa forma, os jovens se preocupam menos com necessidades vividas pela sociedade. É preciso conhecimento íntegro sobre a real situação para depois impulsionar o interesse sobre a política. Neste sentido, a política vai, naturalmente, se mostrar como um caminho legítimo para transformações sociais”
Natália Ranieri, estudante de direito

A pesquisa da Rede Nossa São Paulo e Ibope também aponta que existem várias formas de participar da vida política de uma cidade. Entre os paulistanos que praticam alguma ação ou debate, “assinar petições ou abaixo-assinados” é a prática mais comum apontada no levantamento, com 26% das menções.

“Compartilhar notícias sobre o município pelas redes sociais” e “participar de associação comunitária, de moradores ou sociedade de amigos do bairro” também são ações citadas por 16% e 10% dos entrevistados, respectivamente.

As respostas menos citadas foram: participar de audiências públicas presenciais (5%) e fazer parte de algum Conselho Participativo Municipal (4%).

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Weslley Silva é coordenador do coletivo O Corre (Crédito: @anaprarua)

Morador do Grajaú, também na zona sul da cidade, o educador social e arte educador Weslley Silva, 23, integra o coletivo de comunicação periférica O Corre. Sua vivência política começou ainda na adolescência, em 2015, após o jovem participar do cursinho pré-vestibular Vladimir Herzog no distrito.

“Quando eu entendi o porquê eu necessitava daquele cursinho e o porquê da precariedade do ensino médio e do ensino nas periferias, eu comecei a tomar práticas a partir disso”, conta. A partir daí, em 2018, ele e mais sete moradores fundaram o Cursinho Popular Alexandre Dahora Niggaz, também no Grajaú, voltado para artes cênicas e visuais.

Já durante a pandemia da Covid-19, uma das ações do coletivo O Corre foi o lançamento de um livro para colorir para ajudar crianças a acessarem conteúdos pedagógicos durante o isolamento social. Posteriormente, o material foi transformado em uma história em quadrinhos com o apoio do Sesc Interlagos.

Para Silva, não existe falta de interesse dos jovens pela política, mas sim um baixo índice de inserção da juventude na política formal. “Os jovens já estão fazendo política em suas ações coletivas e individuais. As ações da juventude no território são políticas por si só”, comenta.

“A vivência e o aprendizado desses jovens no território é um ato político muito importante quando a gente entende a juventude negra, indígena e periférica, as oportunidades e todos os dados que se relacionam para não-vida dessas pessoas”
Weslley Silva, educador social e arte educador

Segundo ele, O Corre aborda essa perspectiva. “O coletivo nasce das correrias que a gente tem que fazer para estar em pontos onde pessoas privilegiadas já estão ou já nascem com o privilégio de estarem ali”, finaliza o educador.

OUTROS DADOS:

• A administração municipal é avaliada como ‘boa’ por 18% dos paulistanos; como ‘regular’ por 45%; e ‘ruim’ por 35%.

• A atuação das 32 subprefeituras de São Paulo é avaliada como ‘boa’ por 18% dos paulistanos; como ‘regular’ por 38%; e ‘ruim’ por 37%.

• 29% paulistanos não conhecem as funções desempenhadas por uma subprefeitura; 13% conhecem bem e 58% conhecem pouco.

• A Câmara Municipal de São Paulo é avaliada como ‘boa’ por 9% dos paulistanos; como ‘regular’ por 33%; e ‘ruim’ por 52%.

• 47% dos paulistanos consideram que a chegada de mais mulheres, mulheres negras e transexuais na Câmara de Vereadores nas últimas eleições melhora a qualidade da política.

Clique aqui para conferir a pesquisa “Viver em São Paulo: Qualidade de Vida” completa

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