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Campanha busca financiar projeto que ensina programação para crianças em SP

Por: Humberto do Lago Müller

Arthur Gandra, 31, morador de Franco da Rocha, na Grande SP, viu sua vida mudar muitas vezes nos últimos anos. Cansado do seu trabalho em um escritório chegou a conclusão de que queria contribuir mais para a sociedade, foi então que se demitiu e passou a usar sua experiência para buscar algo a mais através das suas próprias habilidades. 

Surgia assim, em 2017, o projeto Jovens Hackers, que tem como meta ensinar para as crianças da periferia o que para muitos ainda é impensável, algo restrito a alunos de algumas poucas escolas ou cursos pagos de alto padrão, a arte da programação.

“O Jovens Hackers não é apenas meu emprego ou atividade profissional, é meu propósito de vida e surgiu da vontade de ensinar programação para meu irmão e meu sobrinho. Durante os momentos em família, sentia falta de ensinar algo produtivo a eles”, conta Gandra.

“Finalmente descobri uma maneira efetiva de retribuir para a sociedade tudo que recebi. Empoderando crianças por meio da tecnologia e da educação” completa.

A empreitada não é fácil, as crianças estão sempre abertas a aprender, cada dia mais conectadas e ambientadas no meio digital, mas quanto mais longe do centro, menor o acesso à tecnologia, especialmente de forma gratuita.

Outra grande dificuldade é a mesma de muitos empreendedores nas periferias, o financiamento.

Durante os últimos meses de 2020 o projeto  busca por meio do site “Benfeitoria” uma maneira de continuar a partir do ano que vem.

“A periferia sempre foi vista como beneficiária de programas sociais, nunca como protagonista. Sempre alguém vinha de fora com soluções prontas para problemas que ele não vivenciava, para tirar uma foto e aparecer no jornal. Depois ele ia embora, mas o problema não.” explica Arthur, que já atuou em bairros como Paraisópolis e Campo Limpo, na zona sul de São Paulo.

O Jovens Hackers já teve sua atividade beneficiada pelo VAI-TEC, edital da prefeitura de São Paulo que “apoia empreendimentos inovadores das periferias que utilizam tecnologia como modelo de negócio”, segundo a descrição no site oficial.

Ele, no entanto, pondera que ainda faltam recursos para apoio e o erro, que é tido com bons olhos no empreendedorismo.

Não é um privilégio que a gente tem, principalmente por questões financeiras. Se não fosse pelo subsídio conseguido (através do Vai Tec) talvez eu nunca teria transformado as aulas para meu irmão e sobrinho em um negócio”.

Em 2020, mesmo tendo chegado a marca de 1.000 alunos beneficiados ao longo do tempo de atividade, tudo mudou, e foi preciso buscar outra maneira de financiamento.

“Com a pandemia, todas as nossas atividades presenciais tiveram que ser paralisadas por questões de segurança. Como trabalhamos com um público em vulnerabilidade social, isso dificultou muito a continuidade das atividades de forma virtual,” conta.

PROGRAMAÇÃO INCLUSIVA

Arthur e Miguel são dois irmãos de 11 anos, gêmeos, autistas, e filhos da representante de equipamentos Raquel do Carmo, 44, que é do Jardim Rosana, na zona sul da capital.

Ela conta que até os quatro anos eles não falavam, e com o passar do tempo não sentiram que o ambiente do ensino era um local para eles.

“Toda vez que eu os levava pra fazer alguma terapia ou curso os professores mesmos falavam, ‘olha, mãe, não vai dar, seus filhos não conseguem, nós não temos condições de atendê-los’. Com isso eles entendiam que eram rejeitados de certa maneira”, explica.

Raquel então procurou as aulas de robótica indicadas por psicólogos. “Foi então que conheci o projeto e eles fizeram a primeira aula, um pianinho com frutas, vê se pode. Meus filhos ficaram maravilhados e queriam mais aula, porque queriam voltar.” 

“Eles viram que eles podiam, que eles tinham essa capacidade, começaram a usar mais a criatividade desde então. O professor Arthur deu atenção, explicou várias vezes, mostrou como era e eles conseguiram fazer”, explica.

Raquel conta ainda que apoiou o projeto com uma doação. “Ele merece. As pessoas mais simples nunca iriam ter acesso a essas aulas, a robótica, nada disso, e as aulas fazem com que isso aconteça, né? Que os mais humildes tenham acesso, que os mais simples consigam, de repente, cobrir esse mundo maravilhoso que é da criação, da robótica, desse mundo da tecnologia.”

TUDO OU NADA

Na campanha, cada um real investido por apoiadores, a Fundação Tide Setubal, parceira do projeto, investe mais dois reais, triplicando a colaboração, com meta de R$90.000, sendo R$ 30.000 de colaboradores e o restante vindo do patrocinador.

Como se trata de uma campanha “tudo ou nada”, ao final do prazo (18 de dezembro) as colaborações são devolvidas caso não atinjam a meta.

O valor arrecadado até o momento é de R$ 79.722.

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