Pela primeira vez, a artesã Maria José, 55, atua em uma campanha eleitoral. Ela é moradora do Jardim Canaã, distrito de Anhanguera, localizado na zona noroeste de São Paulo.
As portas fechadas dos gabinetes de alguns vereadores e e-mails sem respostas, foi o que motivou a participação. Na região, desempenha um papel de líder comunitária, mas neste ano, também atua como mobilizadora de votos para o candidato a vereador André Santos (Republicanos).
“Nós idosos somos excluídos pelos governantes no período eleitoral. Não há propostas. Esquecem que também votamos”, conta Maria. “Meu projeto social é o único que atende o distrito. Estamos lutando para ter a Casa do Idoso aqui”.
O projeto de lei (01-00647/2018) Creche para o Idoso está em tramitação na Comissão de Finanças e Orçamento da Câmara Municipal de São Paulo.
Sobre os cuidados com a saúde dos idosos por conta da Covid-19, Maria encerrou as atividades da associação. Mas, mantém contato via whatsapp onde divulga o material do candidato. “Quando preciso fazer visitas, tomo todos os cuidados, uso máscara e álcool em gel”, explica Maria.
Pessoalmente, diz acreditar que a ligação política é importante para que as pautas saiam do papel. “O trabalho é uma troca, hoje, eu corro atrás de votos, para que, amanhã, eu possa cobrar ajuda com verbas parlamentares para a região”.
Como Maria, a Agência Mural ouviu outros líderes comunitários das periferias de SP, que também consideram a união política é a estratégia para que obras e projetos sociais onde vivem sejam realizados.
Alguns são praticamente puxadores de votos profissionais – apesar de dizer que a atuação é voluntária.
Por outro lado, algumas lideranças têm enfatizado o distanciamento da campanha eleitoral, como as principais associações de Heliópolis e Paraisópolis.
Na contramão de Maria, está Ivanilde Alves, 45, uma veterana nas eleições. Militante do PT desde os 16 anos, ela diz que nunca trabalhou para outro partido político. “Já tive pedidos, mas recusei”, diz Ivanilde.
VEJA TAMBÉM:
Candidatos LGBTQIA+ driblam preconceito em busca de uma vaga na Câmara
Mulheres sofrem ataques virtuais e intimidação durante campanha
Confira a cobertura das eleições 2020 nas periferias da Agência Mural
Moradora da Cohab Raposo Tavares, zona oeste de São Paulo, há décadas, a líder comunitária apoia o candidato a vereador Donato (PT).
Pela experiência, Ivanilde considera essa eleição difícil pelo descrédito das pessoas com a política. “São muitas manchetes e até fake news sobre corrupção, o que dificulta o meu trabalho na hora de pedir votos”, diz a militante. “Em contrapartida, muitas pessoas me perguntam quem eu apoio para votar, o que é muito bom”.
A militante é uma das responsáveis pelo coletivo Espaço Cultural Cachoeiras que articula ações sociais de cultura e meio ambiente na região. “Nós do coletivo procuramos apoiar o Donato, que embora não seja morador do bairro, disse que vai ajudar caso seja reeleito”.
Sobre as demandas prioritárias da Cohab, a líder comunitária pontua a cultura, habitação e o meio ambiente. “Há famílias que estão morando em casas construídas dentro do terreno do Parque Juliana de Carvalho Torres”, afirma Ivanilde. “Precisamos tirar essas pessoas de lá e colocá-las em um lar decente”.
A 66 km no Itaim Paulista, extremo leste de São Paulo, mora o Reinaldo Silva, 67, mais conhecido como Tio King. Morador há décadas da região, Tio King é conselheiro gestor da saúde e desempenha um papel de líder comunitário ambiental com o projeto de conscientização sobre o lixo no bairro.
Diferente de Ivanilde, Tio King escolheu o candidato Edson Coqueiro (Republicanos), morador da região e de direita. “Não há vereadores do Itaim Paulista na Câmara Municipal há anos, escolhi apoiar quem mora no meu bairro”, afirma o líder comunitário.
Pessoalmente, ele diz que a sua preferência política é de centro e que avalia a história do político, as propostas tudo face a face para poder apoiar. “Tem políticos que estão no poder e eu nunca nem vi, quero gente nova no poder”.
“Tenho andado no bairro com a equipe de panfletagem”, diz Tio King. “Trabalho 18 horas por dia com política até sonho com isso”.
Outro setor explorado é a igreja, o líder comunitário é cristão e explica que não fala de política dentro da casa de Deus, mas aproveita a hora que vai entregar as cestas básicas, ação social que o templo faz para os fiéis e fala sobre o seu candidato.
“Quando estou na casa de Deus não falo sobre eleições, aproveito o momento certo, geralmente, é quando vejo a pessoa na rua, quando vou na minha casa, ou, na entrega das cestas básicas”, diz Tio King.