É por meio da moda que o produtor cultural Louis Guxtrava, 24, quer transformar realidades. Morador do Parque do Engenho, zona sul de São Paulo, ele é responsável pela marca Indignação Queer, que produz peças sem gênero, e também pela Crash Party, a principal balada LGBTQIA+ da região do Capão Redondo.
A Crash existe desde 2016, quando Louis começou a observar que os rolês que haviam na região não eram tão inclusivos.
“Vi que a gente tinha uma necessidade aqui na quebrada de uma festa onde o meio LGBT possa colar e se sentir à vontade”, conta Louis.
“Eram uns rolês super machistas, e não era isso que eu queria, não era esse tipo de rolê que eu queria ir e que meus amigos e amigas frequentassem. Senti essa necessidade de criar um espaço seguro, não só para quem é LGBT, mas também para as mulheres”, conta Louis.
Na época, Louis tinha um trabalho fixo com vendas, mas acabou largando-o para se dedicar à moda e a Crash. Ele mora no distrito do Capão Redondo desde os seus 11 anos e observa a região como o lugar de resistência.
“A gente está o tempo todo na mira de alguém do outro lado da ponte, mas também a gente sempre está aqui batalhando e construindo nosso espaço. Aqui tem muita gente fazendo muita coisa, a maioria dos meus amigos daqui trabalham com arte”.
Para ele, mesmo quando o “outro lado da ponte” quer dar visibilidade para o que rola na periferia, tem um interesse por trás: “eles só vêm pra cá quando, tipo, eles veem que alguma coisa vai gerar algum conteúdo ou dinheiro pra eles, sabe?”.
Mesmo assim, Guxtrava considera que a maior conquista da Crash foi ter participado do SP na Rua, uma espécie de “virada cultural” focada em música eletrônica no centro da cidade.
“Nunca tinha tocado pra tudo aquilo de gente e eu levo como uma experiência grande. Foi uma sensação de ‘mano, eu podia tá com essa estrutura lá na minha quebrada”, afirma.
Além das festas, que antes da pandemia costumava reunir mais de 300 pessoas no Espaço Reggae, lugar onde é realizado, a Crash também se preocupou em passar para a frente o conhecimento que adquiriu nesses quatro anos de produção.
No começo de 2020, o coletivo organizou o “De Férias com a Crash”, uma série de oficinas dentro do espaço da Fábrica de Cultura Capão Redondo:
“A gente conseguiu capacitar bastante gente. Fico muito feliz de ter conseguido capacitar essas pessoas. Tem DJ que fez a oficina e já está tocando em outros lugares. A gente viu que faltava só o empurrão para essa pessoa poder fazer o que ela quer, sabe?”, conta Louis.
Ele afirma também que se sente como uma “referência” para quem está começando e se inspirando na Crash. “As pessoas me enxergam como uma referência na minha quebrada, e isso pra mim também é uma grande conquista!”.
*Esta reportagem faz parte da série Crias da Quebrada, com a história de dez jovens das periferias de São Paulo