A zona sul de São Paulo perdeu um dos principais nomes da cultura da região, o sanfoneiro, Francisco Miguel de Paula, 83, o Escurinho o Acordeão. Vítima de pneumonia, ele morreu em 7 de junho, aos 83 anos. Deixou 5 filhos, 12 netos e 9 bisnetos.
Francisco começou a tocar acordeão quando tinha oito anos no município de Viçosa, em Minas Gerais. Com o instrumento, começou a animar as festas na região. Nos anos 1960, formou uma banda com o amigo João Caetano e, anos depois, o filho José Francisco de Paula completou o trio.
Nascido em 1937, Francisco era conhecido como Escurinho do Arcodeon, o mesmo nome adotado pelo trio musical. O grupo interpretava canções de diversos estilos musicais, como xote, bolero, valsa e samba.
Composições de Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Gilberto Gil sempre estavam no repertório. Músicas como “Xote das Meninas” e “A Volta da Asa Branca” são alguns exemplos.
O filho José Francisco conta que Luiz Gonzaga, conhecido como Rei do Baião, era a grande inspiração do pai. “Ele era muito fã de Gongaza e por isso ele queria comprar uma sanfona branca. Disse que um dia teria e comprou”, lembra o filho. “Grande parte das coisas que têm na casa e a nossa educação veio dela”.
Escurinho chegou ao Jardim São Luís, na zona sul, em 1962, onde começou a trabalhar em indústria metalúrgica. Nos dias de descanso, tocava em batizados e festas de casamento da região, acompanhado do acordeão.
José Francisco cita que o pai sofreu dificuldades por conta da cor. “Imagina, 50 anos atrás, um negro, do interior da roça para se firmar em São Paulo. O caminho era mais dolorido”.
A importância de Escurinho foi reconhecida pelos governos locais. Uma das homenagens mostradas pelo filho é uma placa da subprefeitura local, onde se lê ‘Escurinho do Acordeon, o Luiz Gonzaga de Santo Amaro. 52 anos de sanfona’. O reconhecimento foi em agosto de 2015.
Entre os comentários sobre o pai, o que mais marcou José Francisco foi o de que as festas da periferia vão perder muito.