Airton Gimenes, 63, morreu no dia 5 de abril sem o resultado do teste da Covid-19 colhido pelo Hospital Vital, em Mauá, na Grande São Paulo. Ele ficou uma semana internado no local, após passar por várias unidades de saúde.
Só tirou raio-x na terceira vez que procurou ajuda e foi internado na unidade que é fruto de uma parceria entre a Prefeitura e o hospital privado que “disponibiliza 24 leitos de observação e outros cinco de emergência para pacientes com a Covid-19”, segundo a gestão.
Apesar da parceria, os resultados dos testes levam cerca de 20 dias. A família só conseguiu a confirmação do diagnóstico com um exame particular feito no Albert Einstein, em São Paulo.
“A equipe da própria UTI autorizada pelo médico responsável colheu o material”, afirma Cibele Gimenes Rainato, 44, filha de Airton.
O primo dela levou o teste até o hospital da capital e pagaram pelo exame. “Pagaríamos o impossível para que eles tivessem diagnosticado meu pai na primeira fase onde ele só tinha tosse, febre e desconforto respiratório”, ressalta.
A dificuldade para atendimento no município do ABC paulista tem sido comum, segundo moradores.
A cidade possui mais de 470 mil habitantes, a terceira mais populosa do Grande ABC, e registrou 107 casos confirmados até esta sexta-feira (24). Houve também 13 mortes por conta da Covid-19. São 799 casos suspeitos.
Apesar de a assessoria da Prefeitura de Mauá informar, por e-mail, que todas as unidades de saúde são capazes de fazer a testagem, na prática, os testes não chegam.
Profissionais de saúde da UBS Sônia Maria e Capuava, por exemplo, afirmam não ter previsão de receber testes e sugerem, para casos mais graves, ida direto às UPAs (Unidade de Pronto Atendimento).
Quem chega na UBS com sintomas é medicado, recebe um protocolo de isolamento e o caso é notificado para a Prefeitura. Casos notificados entram como suspeitos nos boletins divulgados diariamente.
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A consultora de vendas Daniele Arantes, 34, também considerou procurar o sistema particular para fazer o teste no pai Gedival Batista, 64, porém desistiu ao se deparar com valores de cerca de R$ 500.
Sem convênio e com problemas da tireóide, Gedival procurou atendimento na UBS do bairro Sônia Maria duas vezes. Ele estava com todos os sintomas e teve contato com um caso positivo.
“A primeira vez que meu pai foi estava com tosse e febre, a recepcionista informou que o médico já tinha ido embora, era mais ou menos 16h, e pediu que ele tomasse dipirona para baixar a febre e fazer o isolamento”, conta. “Na segunda vez, ele não foi nem examinado, se quer mediram a temperatura, mas o médico passou antibiótico”.
Após sete dias de tratamento com antibiótico, ele apresentou melhora no quadro, porém não recebeu nenhum pedido de exame ou teste.
A falta de testes somada ao atendimento defasado são constantes para a população mauaense. A gestora ambiental Luciana Siriani, 32, enfrentou diversas dificuldades ao acompanhar um amigo que apresentava todos os sintomas da Covid-19 e não foi testado.
“Não há um hospital de referência para testagem em Mauá. Quando estávamos na UPA chegaram cinco pessoas com os mesmos sintomas e todas foram diagnosticadas com pneumonia. É triste porque os profissionais de saúde não têm culpa, é um problema estrutural”, afirma Luciana Siriani, moradora do Jardim Zaíra.
Entre idas e vindas na UPA Zaíra, o amigo de Luciana, de 31 anos, ainda não teve melhora no quadro.
A situação tem sido complicada também nos outros municípios da região, que tinham previsto a compra de 1 milhão de testes rápidos para detecção do coronavírus. No entanto, de acordo com o Consórcio Intermunicipal Grande ABC, a aquisição foi suspensa.
A região, que possui 2,7 milhões de habitantes, aguarda posicionamento do Governo do Estado para novas compras e segue sem os materiais.
Para aumentar o número de testes feitos, o município afirma que irá inaugurar, até o fim de abril, um Hospital Municipal de Campanha para receber casos de coronavírus, e realizar e analisar testes rápidos.
Segundo a assessoria “a estrutura será erguida no estacionamento do Paço Municipal e terá, em um primeiro momento, 30 leitos, podendo dobrar a capacidade em até 72 horas, além de oferecer 40 profissionais para atender pessoas infectadas pelo vírus”.
Além do Hospital de Campanha, o município conta com mais dez leitos de UTI e mais 30 de observação do Hospital de Clínicas Doutor Radamés Nardini. Somando as redes de UBSs e UPAs, Mauá possui 200 leitos convencionais.