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Meninas da zona sul brincam menos e estão mais insatisfeitas com a cidade

Por: Redação

Pular corda, jogar bola e apostar corrida são atividades que, com o tempo, podem ser deixadas de lado à medida que crescemos (Foto: Divulgação)

“Eu brincava de boneca até meus 14 anos, mas acho que depois os interesses foram mudando, veio uma necessidade de trazer as histórias das brincadeiras para a vida real”, conta Thaís Zanetti, moradora do Jardim Umarizal, região do Campo Limpo.

Ela, que completou 18 anos há um mês. acredita que há algumas imposições colocadas pela sociedade às meninas. “Algo faz a gente acreditar que começar a namorar é super bacana. A partir dos 15, o meu grupo de amigas começou a se importar com isso, o que não casa nada com as brincadeiras infantis”.

Em plena Semana do Brincar na Periferia, a história de Thais é um exemplo do que acontece com várias crianças e adolescentes em toda a cidade de São Paulo e já havia sido retratada na pesquisa da IRBEM (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), divulgada em janeiro deste ano.

Pular corda, jogar bola e apostar corrida são atividades que, com o tempo, podem ser deixadas de lado à medida que crescemos. A pesquisa foi realizada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o IBOPE e ouviu crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos em 2015.

“Durante a semana, quando você não está na escola, o que você costuma fazer?”: essa foi a pergunta feita durante para que crianças e adolescentes respondessem de maneira espontânea

Entre as respostas para a pergunta acima, 20% mencionou “jogar bola”, 20% “assistir à televisão” e 11% respondeu “brincar”. Enquanto isso, 17% mencionou ajudar nos serviços da casa – desde lavar louça ou arrumar o quarto até preparar comida. As meninas citaram os afazeres domésticos 23 vezes mais que os meninos.

No entanto, meninas entre 15 e 17 anos, estudantes do ensino médio, são as que menos brincam e predominam entre os 43% menos satisfeitos com a cidade. Além disso, têm a menor sensação de pertencimento à capital paulista. Elas são moradoras das regiões do Campo Limpo, M’Boi Mirim, Capela do Socorro, Cidade Ademar e Parelheiros.

Do total de entrevistados, 18% afirmaram estar satisfeitos com a cidade, e entre eles a maioria é menino, entre 10 e 14 anos, com escolaridade até o 7º ano. Eles possuem uma maior sensação de pertencimento à cidade, jogam mais bola, brincam e empinam mais pipas.

A satisfação é maior entre as crianças de 10 a 11 anos no que diz respeito à prática de esportes, viagens e contato com a natureza. A insatisfação cresce à medida que aumenta a idade. O mesmo movimento pode ser observado em relação à classe econômica: a satisfação cresce de acordo com o aumento da renda.

A pesquisa também destacou que 87% das crianças e adolescentes na faixa etária de 10 a 17 anos, têm acesso a espaços de lazer, como quadras, campos de futebol, praças, pistas de skate ou parquinhos. Enquanto apenas 35% têm acesso a cinemas, sendo que dentre estes, 69% moram no centro e 44% na região sul.

O acesso a bibliotecas públicas é fácil para 68%, enquanto 80% não possui acesso a teatros. Entre os que possuem, 53% mora na região central da cidade.

Apesar das mudanças em seu comportamento e no de seu grupo de amigas, Thaís diz que ainda gosta de brincar. “Percebi que é besteira largar meus brinquedos porque as pessoas impõem que é coisa infantil. É muito importante continuar com o espírito esportivo de criança”, afirma.

SEMANA DO BRINCAR

Para refletir sobre a qualidade de vida da criança e o brincar na cidade, de hoje (19) até domingo (23) acontece a 2ª Semana do Brincar na Periferia. Juliana Leme, 28, é uma das organizadoras do evento e diz que é necessário acreditar no brincar.

“A criança não precisa estar estudando o tempo todo, fazendo uma atividade diferente de brincar. Brincar é bom. Não precisa ficar o tempo todo produzindo”, afirma.

Organizado pelos coletivos “Aqui que a gente brinca!” e “Brincantes Urbanos”, a Semana do Brincar na Periferia é um evento de cinco dias para formação e trocas de experiência sobre o tema brincar na periferia. Este ano é a segunda edição e convida todos a pensar “Qual o espaço público da infância na periferia?”.

O evento oferece uma série de rodas de conversas e oficinas para educadores, além de atividades voltadas para as crianças gratuitamente.

No domingo (23), a semana encerra-se com o Festival de Brincantes de Rua, das 12h às 16h, na rua Luiz Gushiken, no Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo. Vai ter corrida de carrinho de rolimã, campeonato de taco, cordas, pipa e diversas brincadeiras.

A programação completa pode ser acessada aqui.

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