Issac Norris*
Vou começar com um pouco de contexto antes de falar da Agência Mural. Sou estudante de português e espanhol na Inglaterra e como parte dos meus estudos devia fazer um ano de estágio no exterior. Antes do Brasil, trabalhei no México durante seis meses para uma revista de arte com o objetivo de melhorar o meu espanhol e ganhar experiência profissional.
Eu estudaria na USP (Universidade de São Paulo), mas infelizmente tive muitos problemas com o visto de estudante e não deu certo. Por sorte, depois de dar uma pesquisada, me deparei com o site da Agência Mural e mandei uma mensagem para Priscila Pacheco, editora-adjunta. Ela possibilitou esse estágio e agradeço muito!
Cheguei ao Brasil no dia 5 de fevereiro e não acredito que o final esteja perto, o tempo voou. Eu me sinto muito afortunado por ter tido essa oportunidade de fazer um estágio com a Agência Mural, uma experiência inesquecível. Gostei muito de todos os jornalistas que conheci, tão receptivos e legais.
Em geral, quando uma pessoa vai para o exterior é muito difícil conhecer os moradores locais, então acho essa experiência muito valiosa. Como parte do estágio, fiz várias saídas com o objetivo de conhecer os bairros de alguns dos muralistas, como são chamados os correspondentes locais, tirando fotos para acrescentar ao banco de imagens.
São Paulo é uma cidade que parece não ter fim, com uma grande expansão urbana. Lembro de quando aterrissei e fiquei impressionado com o tamanho da cidade. Essas saídas com os jornalistas me ajudaram a ter um melhor conhecimento dela. Sempre gostei do jornalismo e amei participar das reuniões e ver como funciona tudo.
JOVA RURAL
Em fevereiro, fui à Jova Rural, na zona norte de São Paulo, onde mora a muralista Aline Kátia Melo, acompanhado também pelo muralista Humberto Muller para tirar fotos. Gostei muito de caminhar pelo bairro para ver outra parte da cidade.
Achei bem importante ver a cidade inteira porque durante a minha estadia eu fiquei hospedado na região da avenida Paulista, onde descreveria como uma bolha – com muita gente com uma vida tão fechada que nem sabe o que existe fora do centro.
Jova Rural é um lugar de muito verde e vir da região central, onde tem tantos prédios e pouca natureza, foi bem marcante. Curti bastante todas as paisagens, fomos a um mirante maravilhoso que tem uma bela vista da cidade de longe.
CIDADE TIRADENTES
Em março, estive em Cidade Tiradentes, na zona leste da capital, onde moram os muralistas Giacomo Vicenzo e Sheyla Melo, acompanhado de novo por Humberto Muller. Fomos à casa de Sheyla e sua mãe fez um bolo e café para a gente. Foi aconchegante.
Também fomos à biblioteca Milton José Assumpção, que funciona em uma antiga fábrica do bairro. Um projeto incrível que estimula o trabalho comunitário em um lugar que não tem muitas oportunidades. A biblioteca permite que os jovens tenham a oportunidade de ler e aprender mais em um lugar que não fica tão perto do centro.
Além disso, conhecemos um morador que falou acerca da história da região e depois fomos a um espaço de hip-hop.
SÃO BERNARDO DO CAMPO E ITAQUAQUECETUBA
Em abril, fui a São Bernardo do Campo, cidade da Grande São Paulo, com as muralistas Kátia Flora e Jariza Rugiano. Gostei muito do dia, caminhamos bastante, fez bem para as pernas. Conheci o skatepark, parque com muito espaço e agradável para caminhar. Além disso, fui a um projeto chamado Meninos e Meninas de Rua, que oferece livros e outras ações para as crianças.
Como se verá na foto, conhecemos um homem muito talentoso que é cineasta. Ele apresentou o seu estúdio e conversou bastante sobre os seus filmes e a trajetória. À noite ficamos na praça para ver o evento semanal de hip-hop que atrai muitos jovens.
Em maio, fui a Itaquaquecetuba, também na Grande São Paulo, onde acompanhei Jessica Lima e Lucas Landin. Conheci o parque que fica perto do trem, com instalações para a prática de exercício e muitas trilhas.
Também fomos a uma linda igreja ao lado da praça principal, lugar bem sossegado. À tarde pegamos o ônibus até Poá, cidade vizinha. É um lugar muito gostoso que tem um parque muito bonito. Infelizmente, esse dia não tinha a minha câmera porque não funcionava bem.
PERIFACON
Em março, também fui ao evento da PerifaCon na Fábrica de Cultura do Capão Redondo, na zona sul. Foi um momento marcante e importante para as periferias.
Em geral, me parece que esse tipo de evento fica sempre no centro da cidade. A primeira edição provou que há muitos talentos de quadrinhos nas periferias.
A Perifacon teve muito sucesso, uma fila durante o dia todo com a galera esperando para entrar. Tirei muitas fotos das pessoas curtindo as atividades e também das pessoas fantasiadas. Escrevi um artigo para uma plataforma na Inglaterra que publica matérias sobre a cultura latino-americana.
AGÊNCIA MURAL
A Agência Mural faz um trabalho maravilhoso e meritório. Penso que é um fenômeno global das expansões urbanas nas quais à medida que se tornam cada vez maiores, as periferias são esquecidas, ou seja, deixadas de lado. Antes da Mural, jamais tinha ouvido falar de uma organização assim.
Admiro muito todo o trabalho que produzem e publicam. Estão fazendo um exemplo de como as periferias devem ser expressadas, de uma maneira humana. Os meios de comunicação de massa aproveitam as manchetes sensacionalistas para aumentar as vendas. Isto é uma prática tóxica. Só retratam as periferias como lugares de violência e crime, sem nenhum aspecto positivo, por sua vez, prejudicando a imagem desses lugares.
A Agência Mural se destaca pela missão de lançar luz sobre as coisas bacanas que acontecem nas periferias.
Isaac Norris é fotógrafo e estudante de português e inglês na Universidade de Bristol, Inglaterra. Fez estágio durante quatro meses na Agência Mural. (Instagram: @Isaacnorris1)