“Nós temos atualmente no entorno da Ceagesp – Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo – aproximadamente 500 moradores em situação de rua. É um tremendo problema social. Então temos uma questão social de um lado da avenida, enquanto o outro lado dela vive um boom imobiliário, com condomínios de alto padrão”, alerta o engenheiro mecânico, Carlos Gilardino, 62, morador e membro do Fórum Social do bairro Vila Leopoldina.
Gilardino era um dos presentes na audiência pública do Plano de Metas (2017-2020), que aconteceu no dia 8 de abril.
“Não tem como atender os moradores novos que estão chegando sem resolver [os problemas] que já existem. É preciso fazer esse contraponto para equilibrar esse jogo. Há uma série de carências e problemas que já são estruturais e que já vem ao longo do tempo”, complementa o engenheiro.
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A estudante Thais da Guia, 18, é moradora da Comunidade da Linha, situada próximo à companhia de entreposto, e, sob o risco de ser retirada da área, pediu mais atenção aos que vivem ali.
“Queremos uma moradia digna. Eu estudo por aqui e não quero ir para longe. Eu agradeço por morar perto da Ceagesp porque é de onde meu padrasto trás os alimentos para minha casa. Se mudarmos para longe, como vamos viver, o que vamos comer? Quero que a gente pense todo mundo junto um jeito de continuarmos aqui com moradia digna”, conta a jovem.
“Acho injusto terem construído prédios comerciais, moradias de alto padrão e agora querer tirar algumas pessoas de lá e levar para longe. Querem tirar as comunidades que existem ali, os prédios da CDHU e levar para Perus. Há pessoas que vivem naquele terreno há mais de 40 anos. É fácil você construir algo luxuoso e discriminar a classe mais pobre, mas isso é desumano! Por que ao invés de desapropriar, eles não urbanizam?”, questiona o técnico de parede translúcida, Jailson Sousa, 30, morador da Vila Leopoldina.
Implantação e ampliação de ciclofaixas, acessibilidade para idosos e deficientes, construção de uma UBS (Unidade Básica de Saúde) no bairro da Lapa de Baixo, ampliar programas culturais já existentes, e a construção de uma passarela adequada e acessível na passagem Toca da Onça foram outras demandas apresentadas durante a audiência.
A AUDIÊNCIA
Aos poucos, os lugares vagos do auditório da Prefeitura Regional da Lapa foram sendo preenchidos por dezenas de moradores interessados em conhecer mais e fazer sugestões ao Plano de Metas 2017-2020. Ao final, cerca de 80 pessoas estiveram presentes.
Com o início previsto para às 14h30, a audiência foi aberta às 14h48 com a fala do prefeito regional, Carlos Eduardo Fernandes. Em seguida, a secretária adjunta da Fazenda, Giulia Puttomatti, fez uma breve apresentação sobre a estrutura do Plano. Após a explicação dele, 25 moradores apresentaram as demandas dos seus bairros com o tempo limite de três minutos para cada fala. O evento foi transmitido ao vivo pela página do Facebook da Prefeitura Regional da Lapa.
“Foi uma boa participação dos moradores. O número [de participantes] poderia ser maior, mas é um processo de acúmulo de cidadania. O número de sugestões é grande. Vamos ver o volume que chegou pela internet também”, avalia Fernandes.
Foto: Ariane Gomes