Quem vive na Vila Curuçá, extremo leste de São Paulo, não precisa ir muito longe para saber quem é o tal do “Carlão” ou “Pidpei”. É assim que os moradores chamam Carlos Antônio de Macedo, 59.
Ele se tornou um líder comunitário na questão da acessibilidade e inclusão social, quando em 2003 criou a Associação Pidpei (Programa de Inclusão Digital para Pessoas Especiais e Terceira Idade). De lá para cá, vem lutando para conquistar cada vez mais um espaço para a população com deficiência física.
No cotidiano de uma pessoa que faz uso da cadeira de rodas, uma necessidade básica é o acesso a diversos tipos de estabelecimentos, como padarias, farmácias, restaurantes, lanchonetes, lojas, mercados etc. Porém, muitas vezes isto não é possível, já que não existe a devida acessibilidade.
De acordo, com a última pesquisa Irbem, a zona leste 2, onde segundo a divisão do Ibope encontra-se o Itaim Paulista, o quesito acessibilidade recebeu a nota média de 3,5. A avaliação foi feita pelos moradores.
Na Vila Curuçá, distrito que faz parte do Itaim Paulista, Macedo conseguiu mudar um pouco a realidade cheia de desafios vivida por um deficiente físico. Em diversas conversas com os proprietários de estabelecimentos, relatou que, não somente ele, mas também outras pessoas gostariam de comprar o seu próprio remédio e até mesmo tomar um bom café da manhã na padaria.
Hoje, graças a essas conversas, a acessibilidade nas calçadas e no comércio é algo notório no local. “Já há muitas rampas e funcionários treinados para atender com respeito e carinho a este público, que hoje representa uma parcela considerável de quem vive na cidade”, comenta Macedo.
Outra grande conquista foi a adaptação da EMEI Graciliano Ramos, que hoje atende muitas crianças que necessitam de uma vaga.
Além desses ganhos, todos os anos, Macedo e alguns parceiros, realizam a festa do Dia das Crianças e o Natal de uma forma inclusiva. Mistura-se meninos com paralisia cerebral e física a outras crianças que não possuem tais quadros.
PROBLEMAS QUE PERSISTEM
Ao conversar com o 32xSP, Carlos Antônio de Macedo relatou que, apesar das melhoras na Vila Curuçá, alguns problemas continuam. Ainda no ponto de ônibus, ele relembrou um episódio que ocorreu há algumas semanas.
Quando pediu para o motorista descer um pouco depois do ponto, já que no local possuía um buraco e a calçada era desnivelada, foi ignorado e quase caiu ao descer do coletivo adaptado com “elevador”. Por sorte, ele foi ajudado por um passageiro que o segurou. “Se tratava de um rapaz simpático no ponto de ônibus. Foi um alívio”, complementa.
Com certo receio, Macedo prefere utilizar somente ônibus que tenham rampa. À reportagem, ele explicou que consegue diferenciar o veículo com rampa e o com “elevador” pelos 10 cm na plataforma que o segundo tem.
“Eu sou a favor da rampa no transporte, pois ela é uma ‘via de mão dupla’. Além de a sua implantação ser barata para o governo, nós, deficientes, não ficamos à mercê de um botão, quebrado muitas vezes, ou de um motorista que está com pressa para pegar o próximo passageiro”, afirma.
Nas estações de trem não é diferente quando o elevador está quebrado ou em manutenção. É necessária a ajuda de seguranças e a “operação de guerra começa”. É assim que denomina o modo que é tratado.
RECONHECIMENTO
A Prefeitura Municipal de São Paulo, sob a gestão de Marta Suplicy, então no PT, também reconheceu o trabalho de Carlos Antônio de Macedo e publicou o livro ‘Toda essa gente’, que conta a história da Associação Pidpei, dos integrantes e de uma luta diária pela inclusão social. O livro pode ser lido nas bibliotecas municipais ou pela internet por meio de download. No período, o líder comunitário dava aulas de informática no Céu Curuçá para deficientes físicos e idosos.
Fotos: Danielle Lobato