A expectativa de vida de países como Portugal, Reino Unido e Alemanha é superior a quase 30 anos, se comparada ao Zimbábue, Moçambique e Guiné, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Mas, não é preciso cruzar o oceano e comparar Europa com a África para repetir esse abismo. Em 2015, como mostra versão atualizada do Mapa da Desigualdade, os moradores de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, vivem em média 78,87 anos, enquanto os de Cidade Tiradentes, extremo leste da capital, não passam de 53,85. Uma diferença de mais de 25 anos.
Alguns indicadores desse mesmo estudo escancaram a disparidade entre uma região e outra. Pinheiros é uma mais ricas da cidade, com quatro dos 10 distritos mais abastados, e com a maioria da população com salário mensal de pelo menos 10 salários mínimos. Das cerca 290 mil pessoas que moram nos distritos Jardim Paulista, Alto de Pinheiros, Itaim Bibi e Pinheiros, 21% delas tem pelo menos 60 anos.
Aos 69 anos e a 50 km distante de Pinheiros está Galdino Oliveira Teixeira. Em suas quase sete décadas de vida, 33 anos são dedicados à Cidade Tiradentes. Tempo suficiente, diz ele, para contestar a expectativa de vida no distrito que abriga 410 mil pessoas. “Eu acho que a média aqui deve ser uns 60, 70 anos, viu?”, brinca Teixeira. “Aqui do meu lado está a dona Natalina, que tem 84”.
Apaixonado pela Cidade Tiradentes, onde está concentrado, inclusive, a maior quantidade de conjuntos habitacionais da América Latina, Teixeira é categórico: “A Tiradentes não é ruim. Temos dois centros culturais de grande porte. Para quem trabalha no centro da cidade, daqui para lá o problema é só a distância”.
Cadeirante, Teixeira, que também faz parte do conselho de saúde do Hospital Tiradentes, garante que “a saúde na região é boa”. “Obviamente há mais demanda de pessoas. Mas temos, além do hospital, cerca de 10 Unidades Básicas de Saúde”.
Ao todo, são 11 UBSs, de acordo com o Mapa da Desigualdade, para cada 10 mil habitantes — taxa acima da média, em comparação às demais subprefeituras. Em contrapartida, Pinheiros está no rodapé da lista, com um dos menores índices.
“Não adianta falar que aqui é o fim do mundo. Quem falar mal, que venha conhecer a Tiradentes”, acrescenta Teixeira, que também presidia a ONG Colibri, voltada a pessoas com deficiência reduzida.
Desde 2007, Pinheiros e Cidade Tiradentes se mantém, respectivamente, no topo e no fim da lista, quando o assunto é tempo média de vida. Naquele ano, ambas as regiões tiveram os índices mais baixos: o primeiro com 76,52 e o segundo com somente 51,54.
De acordo com a OMS, a expectativa de vida mundial cresceu, no último século, em cinco anos. A média geral brasileira é de 75 anos, acima da média mundial de 71,4.
Entre as subprefeituras paulistanas, as que estão localizadas nos extremos da cidade têm as taxas mais baixas: São Miguel (62,20), Itaquera (62,67), Itaim Paulista (60,04), Parelheiros (59,84), São Mateus (59,80), Guaianases (58,12), Perus (57,7), e M’Boi Mirim (57).
Foto: André Bueno/ CMSP