Bairro da zona leste de São Paulo, o Jardim Romano, no distrito de São Miguel Paulista, não tem nenhuma pista de skate oficial. Quem deseja fazer uma manobra radical precisa se deslocar 6 km até a mais próxima na Vila Nova Curuçá.
Para driblar esta situação, três amigos decidiram criar a própria pista na região. Eles conseguiram um material doado pelo FAB Lab Livre SP — laboratório público de fabricação digital criado pela prefeitura de São Paulo, e montaram uma pista que pode ser transportada.
Com ela, criaram o que chamam de skate poético, com a ideia de unir prática esportiva e poesia para crianças que moram no bairro. Nos fins de semana, eles dão aula de skate gratuitas no CEU Três Pontes, que contam com rodas de conversa e saraus literários.
Neste domingo (27), às 9h, haverá um festival cultural com música, sarau e manobras. A ideia é também arrecadar livros.
Nas aulas, as crianças ficam responsáveis pela criação de poesias, que apresentam em pequenos campeonatos da modalidade. Os alunos vencedores são premiados com peças de skate e livros de literatura.
“Eles dão muita atenção. Tenho um pouco de dificuldade na minha coordenação motora e consegui surfar”, diz o estudante Kevin Zancle, 11.
“Nosso principal objetivo é usar o skate como um objeto pedagógico ao estimular crianças e adolescentes ao hábito da leitura. É poesia com aulas de skate”, afirma Nanderson Silveira, 26, um dos criadores da ideia.
Ele atua ao lado de Kevin Silva, 22, estudante de história, e Thiago Silva, 24, fotógrafo. Todos são moradores do Jardim Romano e compõem o grupo intitulado de Ápice Periférico. Antes de montar a pista, eles praticavam o esporte surfando no asfalto, nas escadas e nos corrimões do bairro.
“O skate é uma salvação pra mim, é um estilo de vida. Te ensina a se manter em constante equilíbrio, mostra que a evolução é gradual e que cada pessoa tem a sua maneira frente ao esporte”, diz Silva.
O skate poético trabalha com grupos de aproximadamente 20 a 40 crianças e jovens com idades entre 8 e 17 anos, todos moradores do Jardim Romano e, geralmente, alunos no CEU Três Pontes.
Quem ministra os saraus são os amigos Kevin e Nanderson, que além do amor pelo skate, escrevem poesias e participam de saraus criados por coletivos do bairro.
“Trabalhamos muito com poesia, que é divertida de ler por conta das rimas. Algumas crianças têm vergonha de se expressar, mas depois que treinam a leitura e a escrita da poesia, seja aqui ou em casa, acabam perdendo a vergonha”, diz Kevin.
Atualmente, eles estão sem nenhuma renda fixa e dedicam parte do tempo ao projeto. Mas, ainda assim, por falta de verba o grupo não consegue montar um cronograma de oficinas para o ano.
Os três já atuam há quatro anos com aulas de música, história do skate, confecção de skate, rodas de capoeira, contação literária e visitação em bibliotecas.
No entanto, as atividades no Ceu Três Pontes tem tido empecilhos. “Já é a terceira vez que proíbem a realização de oficinas, por exemplo, dizem que o skate depreda o espaço. Toda vez que muda a gestão temos uma nova burocracia para conseguirmos fazer a atividade”, conta Kevin.
Procurada por três semanas, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo não respondeu sobre a situação.