Um grupo de moradores de Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo, se reuniu nesta segunda-feira (10) com o secretário executivo de Relações Institucionais da prefeitura, Enrico Misasi, para discutir os constantes alagamentos na região.
O encontro aconteceu depois que a população do distrito entrou com uma ação civil pública contra a gestão Ricardo Nunes (MDB) no fim de março.
Representados pelo Instituto Padre Ticão, organização social da região, os munícipes pediram uma liminar para obrigar a prefeitura a limpar bueiros, desentupir tubulações e criar um plano efetivo para conter as enchentes.
A ação, conta Douglas Samoel, 40, foi uma resposta à falta de atenção do poder público com o território. “Em Moema, o prefeito rapidinho falou que ia fazer uma ação contra os alagamentos, mas aqui em Ermelino nada foi apresentado”, lembra o professor de história, que ajudou na construção da liminar.
O distrito de Moema, citado por Douglas, fica na zona sul de São Paulo e teve obras de drenagem anunciadas pela prefeitura três dias depois de uma enxurrada tomar conta do local no dia 8 de março. A tempestade daquele dia provocou a morte de uma idosa de 88 anos, após o carro dela ter sido arrastado pela água.
Na reunião com o secretário Enrico Misasi nesta segunda, comerciantes e moradores de Ermelino Matarazzo relataram os prejuízos que as enchentes têm causado ao distrito todos os anos e falaram do medo de também serem vítimas de uma tragédia.
No dia 12 de março, uma forte chuva fez com que a água subisse 1,2 metros acima do nível da rua na região. A correnteza entrou nas casas, comércios e invadiu a sede do Conselho Tutelar na avenida Milene Elias.
O alagamento também atingiu um dos principais pontos de cultura da região, a Ocupação Cultural Mateus Santos, na avenida Paranaguá. A água atingiu cabos elétricos e destruiu livros da biblioteca comunitária e o sofá do espaço.
Misasi visitou alguns dos pontos afetados pelas últimas enchentes e se comprometeu a levar as reivindicações citadas por eles ao gabinete do prefeito.
Para Douglas, o encontro foi importante para iniciar um diálogo e evitar que o cenário de destruição se repita no próximo ano.
“A gente não quer um piscinão, a gente quer um plano emergencial para 2024. E mais: que esse plano seja discutido com os moradores e com os movimentos culturais, sociais e de moradia”, explica ele, afirmando que esse é o terceiro ano consecutivo que o distrito sofre com enchentes.
O professor também faz parte do coletivo Frente Democrática, que tem buscado soluções para o território em conjunto com o Instituto Padre Ticão.
Sem investimento
Um levantamento do portal G1 utilizando dados do Portal da Transparência da Prefeitura de São Paulo mostrou que, de 1º de janeiro a 14 de março de 2023, a gestão municipal usou apenas 4% da verba destinada para ações de prevenção e combate a enchentes e alagamentos para o ano.
O baixo investimento no período destoa do esperado para um período em que a cidade registrou recorde de chuvas. Com 428,9 milímetros de chuva, o mês de fevereiro de 2023 foi o terceiro mais chuvoso dos últimos 81 anos, segundo o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia).
O volume de chuva registrado no mês ficou atrás apenas dos meses de fevereiro de 1995 (445,5 mm) e de 2020 (505,7 mm).
Instituto Padre Ticão
O Instituto Padre Ticão é uma organização localizada na zona leste da cidade que atua no desenvolvimento de políticas públicas para a região. A organização homenageia em seu nome o líder religioso que liderou o movimento pela criação do Parque Dom Paulo Evaristo Arns e do Hospital de Ermelino.
O líder religioso também fez parte da mobilização para a instalação da USP (Universidade de São Paulo) Leste, em Ermelino, e da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Leste, em Itaquera.
Ele defendia abertamente o uso da cannabis medicinal contra doenças e, em 2019, criou um curso sobre a temática na igreja onde celebrava as missas. Padre Ticão morreu em 2021 aos 68 anos.