Um grupo de moradores de Sapopemba, na zona leste de São Paulo, tem sofrido com tremores nas paredes e no chão das casas. Os abalos começaram em outubro do ano passado e agora acontecem em diferentes momentos do dia, com alguns segundos de duração e quase sempre acompanhados de um barulho que se assemelha ao de um trovão.
Preocupados, os vizinhos procuraram a Defesa Civil, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e até a Transpetro, que atua nas proximidades, e reivindicaram uma investigação dos órgãos onde o problema foi notado.
O autônomo Alberto Florêncio, 47, foi um dos primeiros a perceber o fenômeno. Em janeiro, ele começou a anotar no celular as datas e horários em que ocorriam os abalos. No dia 4 foram dois tremores. Já no dia 8, as janelas de sua casa trepidaram por quatro vezes. “Você está dormindo de madrugada e aí sente o piso tremer. É como se fossem explosões debaixo da terra”, conta.
A maior parte dos abalos são sentidos na região do Conjunto Habitacional Mascarenhas de Moraes, que fica ao lado da estação Sapopemba da Linha 15-Prata do Monotrilho. É onde mora Viviane Greco, 46. “A minha filha nem está querendo dormir no quarto, quer ficar com a gente por medo do tremor”.
A dona de casa diz que tem percebido um crescimento nas rachaduras das paredes e teme que o problema tenha sido causado pelas trepidações. “As rachaduras poderiam já estar aqui, mas elas aumentaram”.
A poucos metros dali, uma casa de acolhimento para mulheres em situação de vulnerabilidade, a Casa das Déboras, também começou a apresentar fissuras. A criadora do espaço, Rosimeire Bispo, 52, diz que notou a fenda entre a parede e o teto pouco tempo depois de sentir a oscilação pela primeira vez. “Foi muito forte o tremor”.
Com a frequência cada vez maior dos casos, um dos vizinhos, o engenheiro agrônomo Jés Neves dos Santos, 61, decidiu postar um vídeo no Facebook denunciando o problema. A publicação teve quase 140 compartilhamentos e recebeu dezenas de comentários.
Os moradores decidiram criar um grupo no WhatsApp para planejar ações. “Depois que abrimos o grupo foi que a gente começou a ver a quantidade de pessoas que estavam sentindo as mesmas coisas”, explica o engenheiro. Mais de 60 pessoas estão no canal atualmente.
A principal preocupação é a de que os tremores sejam causados por algum vazamento nas tubulações que cortam o bairro de Sapopemba, e que o problema possa provocar o surgimento de crateras e causar risco aos moradores.
Nas últimas semanas, funcionários da Transpetro estiveram no local depois de serem acionados pela população e distribuíram folhetos afirmando que nenhuma anormalidade havia sido encontrada pelos técnicos da empresa.
Até agora os moradores já protocolaram pelo menos três reclamações na Defesa Civil e outras duas na Sabesp.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirmou que a equipe da Defesa Civil esteve no endereço no dia 4 de janeiro e não encontrou sinais de abalo, como rachaduras e deslocamento de solo.
A gestão ressalta que não recebeu pedidos de vistoria para rachaduras nas casas e informou que os proprietários podem acionar o órgão por meio do canal 199.
Já a Sabesp respondeu que todos os testes realizados no local descartaram que haja relação entre os equipamentos da companhia e os tremores que motivaram as reclamações.
A Transpetro enviou nota à Agência Mural e diz que monitora os dutos 24 horas por dia, por meio do CNCL (Centro Nacional de Controle e Logística). A empresa afirmou ainda que está em contato com a comunidade e afirmou que disponibilizou seus profissionais de geotecnia para apoiar a Defesa Civil na análise e na identificação das causas dos tremores.